De Bowie à Legião Urbana, livro ensina a empreender com as bandas de rock
Montar uma banda de rock é fácil. Basta juntar uns amigos e uns instrumentos musicais. Difícil mesmo é sobreviver no mercado altamente competitivo, conquistar fãs fiéis e deixar a sua marca na história. Além do talento, as bandas bem sucedidas também tinham outra coisa em comum: o espírito empreendedor.
O livro “Como o Rock Pode Ajudar Você a Empreender”, dos jornalistas Marco Bezzi e Daniel Fernandes, explica como o Kiss, Beatles, Bruce Springsteen, Guns N’ Roses, Capital Inicial, Dead Fish, entre outras, tomaram decisões empreendedoras para seguirem em frente. A obra será lançada na segunda-feira (6), às 19h, na livraria Saraiva, do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo.
Para os autores, uma banda é uma empresa com funcionários (músicos contratados e técnicos) e consumidores (fãs). “O rock é um gênero que abrange histórias de sucessos e fracassos comerciais, nichos e subnichos como nenhum outro na história”, diz Bezzi. “As empresas e marcas querem causar sensações, fazer com que o consumidor se apaixone. Tudo o que o rock vem praticando desde o seu surgimento”.
Daniel Fernandes, por sua vez, não acredita que o sucesso empreendedor de uma banda possa ser medido pela quantidade de discos que ela lança ou de shows que ela realiza. “Até que ponto crescer a todo custo faz sentido?”, questiona Fernandes.
“São bandas que encontraram seu nicho dentro do rock e faz com que seu público seja mais engajado. Encontrar seu público é uma arte que demanda muita pesquisa, trabalho em campo, experimentações, mudanças”, completa Bezzi.
Para os autores, no Brasil, o sertanejo foi o ritmo que soube compreender melhor o mercado brasileiro nos últimos anos. “Me chama a atenção o fato dos sertanejos serem extremamente profissionais e organizados. Por isso, não é à toa que eles conseguem ganhar espaço cada vez maior. Eles entendem o público e oferecem aquilo que ele deseja”, disse Fernandes.
Marco Bezzi concorda com Fernandes. “O sertanejo soube mapear as demandas da juventude - maior consumidora de música -, entender a logística do país e tomou para ele boa parte do público que antes consumia o rock, não só como música de protesto, mas também como um estilo para se divertir, sair à noite, extravasar”, explicou Bezzi.
A pedido do UOL, os autores pinçaram quatro trechos do livro com dicas certeiras de empreendedorismo praticadas pelas bandas.
Rock e empreendedorismo
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O Kiss faz tudo... até música
Gene transformou o Kiss em um negócio. E dos mais rentáveis. Em entrevista para a revista "Forbes", em 2012, Simmons promoveu seu Rock'N'Roll Fantasy Camp, uma espécie de acampamento para crianças aprenderem como formar uma banda e ganhar dinheiro, e resumiu sua gana em uma resposta: "As pessoas precisam entender que o que fazemos não é 'música', mas 'música e negócios'". Simmons tinha, e sempre teve em sua carreira, um objetivo. Para muitos, discutível quando se trata de arte, mas ainda assim uma missão: transformar música popular no maior número possível de produtos e serviços. Mas é importante dizermos desde o começo que diversificar não é apenas uma vontade da empresa ou do empreendedor. Ela tem hora para acontecer e, assim como deveria ser no começo, exige muito planejamento.
De acordo com o professor de empreendedorismo Marcelo Nakagawa, um dos maiores especialistas do tema no Brasil, o processo de expansão da empresa está ligado ao desafio da organização de entender quais são suas competências. É a partir dessa definição que você conseguirá, como empreendedor, pensar novos produtos, novos mercados e modelos de negócios inéditos, sem perder de vista aquilo que você faz muito bem. Gene Simmons, ao idealizar o Kiss e todo o conceito por trás da banda, talvez soubesse disso de maneira intuitiva. Mas o modo como ele conduziu a música e os negócios do grupo nos sugere que ele obteve um sucesso considerável. Se você quiser medir esse êxito em termos de conta bancária, quando veio ao Brasil em abril de 2015 para lançar seu livro, o jornal "O Estado de S. Paulo" creditou a Simmons uma fortuna de US$ 300 milhões. -
Bruce Springsteen e a atenção total ao consumidor
Para despertar esse tipo de sentimento, entretanto, o trabalho é árduo e passa pelo desenvolvimento de uma característica fundamental: compreender o consumidor. No caso de Bruce Springsteen, podemos afirmar sem medo de errar que ninguém na indústria musical entende melhor o público do que ele. Ninguém. E entender o que se passa na cabeça do consumidor é fundamental para que o seu pequeno negócio conquiste uma vantagem competitiva em um mercado cada vez mais disputado, apertado e cruel. Essa capacidade de decodificar o que o cliente espera fez do músico norte-americano um gigante.
Na música, é claro, muito do relacionamento entre público e artista se dá por atributos subjetivos - a música desperta emoções indecifráveis em quem a está ouvindo, e assim as conexões são imediatamente estabelecidas. Talvez para sempre. Talvez pelo tempo de sucesso daquela canção. No mundo dos negócios, a questão é um pouco diferente. O empreendedor cria um produto ou um serviço, investe em propaganda para torná-lo conhecido, destaca quais são seus diferenciais em relação aos concorrentes e começa a vender. E, muitas vezes, a equação funciona. O consumidor, motivado pela publicidade, experimenta, aprova e passa a ser cliente. Via de regra, e feliz da vida, o empresário pensa: "Missão cumprida! Vamos relaxar, porque esse mercado eu já conquistei". Errado.
Entender o consumidor, como Bruce Springsteen faz tão bem, significa, no mundo dos negócios, cativar esse cliente pelo tempo que for necessário. Em outras palavras, realizar marketing de relacionamento. Embora exista uma explicação acadêmica para isso, vamos nos ater a um exemplo prático. -
Os erros que os Beatles cometeram como empreendedores
A essa altura, você deve estar se perguntando: não é isso que toda empresa deve fazer? Buscar inovação, mesmo sabendo que, no processo, a pesquisa pode não resultar em nada e o dinheiro investido se perder? A resposta, como a maioria das questões em negócios, não é nem sim nem não. É depende. Sim, é preciso buscar a inovação, até mesmo como forma de sobrevivência. Mas a atuação de Alex Mardas não era nem de longe um processo semelhante a isso. Era simplesmente inventar por inventar. Qualquer processo de inovação deve perseguir alcançar alguns objetivos. O primeiro deles, claro, é criar algo novo. O segundo é retornar o dinheiro investido. Na gestão corporativa, isso se chama TRI,1 sigla para taxa de retorno de investimento: quanto a empresa obtém de lucro, por exemplo, para cada R$ 100 de investimento total.
Quem não estava nada satisfeito com o rumo que a Apple estava tomando era George Harrison. Em 1967, ao gravar o vídeo promocional de "Hello, Goodbye" para o filme "Magical Mistery Tour", o guitarrista fez questão de mostrar seu descontentamento ao não sorrir em nenhum take. Enquanto John e Paul pulavam, George parecia um robô. "Nós simplesmente distribuíamos dinheiro em largas quantidades. Foi uma lição para qualquer um quanto a não fazer sociedades, porque, quando você fica sócio de outras pessoas, você não pode fazer nada quanto a isso (gerenciar o fluxo de caixa), e nesse ponto fomos ingênuos. Basicamente, acho que John e Paul se empolgaram com a ideia e torraram milhões, e Ringo e eu simplesmente tínhamos que seguir a onda", desabafou Harrison, em "A batalha pela alma dos Beatles". -
Qualidade já não é o único diferencial
É possível entender a transformação da música nos últimos 20 anos da seguinte maneira: se antes entrávamos numa loja para escolher qual disco comprar, hoje escolhemos qual serviço de streaming devemos assinar pelo celular. A música, que já salvou vidas, embalou romances, definiu tribos e gerações, hoje é apenas um acessório para ser colocado no bolso. Segundo o todo-poderoso da Apple Music, o renomado produtor Jimmy Iovine, é difícil manter a atenção da nova geração com tantas plataformas de entretenimento: "Peça para um jovem escolher entre uma música ou o Instagram. Houve uma época em que a música era a escolha número 1, 2 e 3. Hoje não é maiS", comentou Iovine na edição de setembro de 2015 da revista "Wired".
O fato é que, atualmente, um adolescente vai compartilhar nas redes sociais a primeira vez em que entrou no Snapchat, e não quando ouviu pela primeira vez "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana. Se antes os ídolos eram os astros do rock, hoje os empreendedores do Vale do Silício tomaram esse lugar. A música passou por um processo similar ao que acontece com o jornalismo nos dias atuais. Restam poucas grandes empresas de comunicação no mundo, assim como gravadoras multinacionais, que hoje se resumem a três: Universal, Sony e Warner - no Brasil, a Som Livre ainda caminha entre as grandes com o incentivo da gigante Rede Globo.
Um comparativo da receita obtida pela indústria da música publicado pela revista "Wired" mostra a decadência das multinacionais. Em 1999, girava em torno de US$ 38 bilhões e, em 2014, caiu para US$ 15 bilhões. Artistas e jornalistas têm cada vez mais a obrigação de gerar conteúdo diferenciado e disseminá-lo em formatos atualizados. Assim como os empresários. E esse é apenas o começo do problema.
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