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Desert Trip: Na dificuldade de eleger um show, vamos de melhores momentos

9.out.2016 - Público do Desert Trip durante o show do The Who - Mark Ralston/AFP
9.out.2016 - Público do Desert Trip durante o show do The Who Imagem: Mark Ralston/AFP

Do UOL, em Indio (California)

14/10/2016 06h00

Aqueles que estiverem a caminho, nesta sexta-feira (14), da segunda semana do festival californiano Desert Trip, poderão ver, pela primeira vez, um Nobel da Literatura no palco. É pouco provável que Bob Dylan, laureado com a mais alta honraria da literatura, faça qualquer menção a respeito do prêmio. Ele é um homem de esgares, não de sorrisos. É um homem de visões, não de revisões. Nunca falou muito, nem mesmo quando ganha os títulos honoris causa pelo mundo afora. Ele altera pouco esse comportamento, mas seu setlist muda bastante, assim como as músicas --as versões são sempre desconstruídas show a show.

Além do mais novo Nobel, o chamado "Festival do Século" reúne mais uma vez, no mesmo lugar, Rolling Stones, Neil Young, Paul McCartney, The Who e Roger Waters. O UOL esteve no Desert Trip, na primeira semana, e na dificuldade de eleger o melhor show, pontuamos os 20 momentos cruciais do evento. Algumas escolhas estão aqui pelo valor histórico pela reunião de astros; outros, por serem as primeiras execuções em décadas; outras, pela surpresa e o impacto causado. Não há garantias de que sejam repetidas neste fim de semana, mas, se forem, são imperdíveis.

 

 

As 20 performances memoráveis do Desert Trip

  • Frazer Harrison / Staff

    "Desolation Row", de Bob Dylan

    Ezra Pound e T.S. Eliot, Einstein e "O Fantasma da Ópera", Casanova e Caim e Abel: é pouco provável que alguém conheça todos os personagens citados na letra de "Desolation Row", mas certamente raros desconhecerão o seu efeito e o sentimento de advertência elétrica; ela é citada numa das maiores HQs de nossa época, "Watchmen", e foi gravada no disco "Highway 61 Revisited", de 1965.

  • Kevin Winter/Getty Images

    "Down by The River", de Neil Young

    Houve um momento, no show da semana passada, que a plateia teve a impressão que Neil Young e seus Garotos Perdidos iriam passar a noite toda tocando "Down by the River". E ainda assim todo mundo acharia o máximo, porque foi um dos grandes momentos da crônica do rock --no total, eles ficaram entre 8 minutos (estimativa do jornal "The Star") e 22 minutos (do "New York Times). Do disco "Neil Young and Crazy Horse", de 1969.

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "Give Peace a Chance", dueto de Paul McCartney e Neil Young

    As faixas do dueto de Paul McCartney com Neil Young parecem ter sido escolhidas a dedo. O hino escrito por John Lennon emocionou o Desert Trip, interpretado a pleno pulmões por esses dois artistas, ambos ativistas do meio ambiente e da paz. Nesta versão, a guitarra suja de Young se aliou ao baixo Hofner de McCartney e o resultado foi nada menos do que histórico.

  • Kevin Winter /Getty Images

    "Come Together", dos Rolling Stones

    Mick Jagger anunciou para a plateia que faria um cover. Até aí, tudo bem. O que ninguém esperava era uma interpretação de "Come Together", clássico do álbum "Abbey Road" (1969), dos Beatles. Mick cantou meio desengonçado e errou algumas partes da letra. Mas, e daí? Tudo valeu a pena apenas por ouvir Keith Richards e Ron Wood imprimirem as suas assinaturas nos solos criados por Lennon e Harrison, além de Watts usar a sua expertise de blues para recriar a bateria de Starr.

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "Set The Controls For The Feart of The Sun", de Roger Waters

    Com a saída de Syd Barrett em 1968, crescia a ascendência de Roger Waters no Pink Floyd, assim como sua tentativa de criar um universo de transe espacial. A letra dessa música foi chupinhada da poesia chinesa do período T'ang, segundo contou, acrescida de certo clima de psicodelia espacial melancólica. A canção é do disco "A Saucerful of Secrets", segundo álbum da banda, de 1968.

  • Chris Pizzello/Invision/AP

    "Pigs (Three Different Ones)", de Roger Waters

    Esse foi o momento mais virulento do festival, quando Waters achincalhou o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump. Colocou Trump personificado como um porco, com pênis pequeno, estampou suas frases no telão, soltou um porco com seu rosto e palavras-chave ofensivas. Deu nome ao porco, usando a letra já agressiva da canção, que é do disco "Animals", de 1977.

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "I Wanna Be Your Man", Paul McCartney

    Paul McCartney estava na plateia quando Mick Jagger homenageou na véspera os Beatles com "Come Together". O agradecimento veio no dia seguinte, quando McCartney tocou "I Wanna Be Your Man", composta por ele e John Lennon, mas originalmente gravada pelos Rolling Stones. Paul não tocava a faixa ao vivo desde 1993 e a troca de gentilezas foi um dos pontos altos do festival.

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "Eclipse", de Roger Waters

    Um dos momentos mais impressionantes do show de Roger Waters foi quando ele apresentou a faixa "Eclipse", do álbum "The Dark Side of the Moon". O prisma da capa do icônico disco foi recriado com raios lasers no meio da plateia. O efeito foi impressionante e praticamente transporta a audiência para dentro do disco. É um daqueles momentos que fazem um show valer a pena.

  • Chris Pizzello/Invision/AP

    "Baba O'Riley", The Who

    Um show do The Who não estaria completo se "Baba O'Riley" não estivesse no set. Quando o inconfundível solo inicial de teclado, acompanhado da bateria, foi tocado, não houve um fã que ficasse sentado em suas cadeiras. Na gravação original, a parte final é feita com violino, mas no Desert Trip, ela foi substituída por uma gaita suja e muito mais rock and roll tocada por Daltrey.

  • Mark Ralston /AFP

    "Ride Em On Down", dos Rolling Stones

    Na véspera do show no Desert Trip, os Rolling Stones anunciaram o lançamento do álbum "Blue & Lonesome" para o final deste ano. O álbum é um retorno da banda às raízes no blues e no festival eles apresentaram a faixa "Ride Em On Down", cover de Jimmy Reed, uma das influências do grupo no início dos anos 1960. A faixa estará no novo disco e foi tocada ao vivo pela primeira vez.

  • Chris Pizzello/Invision/AP

    "In Spite of All the Danger", de Paul McCartney

    Antes de criar os Beatles, Paul McCartney formou com John Lennon a banda de skiffle The Quarrymen. No Desert Trip, McCartney brincou dizendo que ali só tinham velhos e que ele iria tocar uma música mais velha ainda, bem antes do sucesso dos Beatles. A faixa raramente é tocada pelo ex-beatle, que a levou para entrar no clima de nostalgia do festival.

  • Kevin Winter/Getty Images

    "FourFiveSeconds", de Paul McCartney

    Do muito velho, como Quarrymen, para o muito novo. O show de McCartney englobou quase tudo, como a faixa mais recente lançada por ele, "FourFiveSeconds" feita em parceria com a Rihanna e Kanye West. McCartney tocou toda a música no violão e para o público que nunca ouviu falar desses artistas, o ex-beatle exibiu a letra no telão. Recentemente, a faixa causou uma polêmica nas redes sociais, com os fãs de Kanye West se perguntando: "Quem é Paul?". Parece que o jogo virou, não é mesmo?

  • Chris Pizzello/Invision/AP

    "Why Don't We Do It in the Road?", dueto de Paul McCartney e Neil Young

    O dueto de Paul McCartney e Neil Young foi mesmo inesquecível. Além de "Give Peace a Chance", a dupla tocou "Why Don't We Do It in the Road?", da qual a letra parece ter sido feita para aquele momento: "Por quê não fazemos isso na rua? Não há ninguém nos vigiando"...

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "The Rock", The Who

    O momento puramente instrumental do festival, hora em que Zak Starkey teve que se virar nos 30 para cobrir o vácuo deixado por Keith Moon. "The Rock", última faixa de "Quadrophenia" (1973), teve um festival de política no telão, mas foi uma política mais profunda, com uma pequena genealogia dos abusos das grandes potências desde a Guerra do Vietnã até os dias de hoje. A maturidade musical do Who aflora nessa canção.

  • Mario Anzuoni /Reuters

    "Ballad of a Thin Man", do Bob Dylan

    Talvez a música que melhor evoque a fase desafiadora de Dylan nos primórdios da carreira, com suas interrogações ao final, o sarcasmo e a secura. Lennon disse que se reconhecia na canção. Muitas versões correram todos esses anos sobre quem seria o Mr. Jones da canção --chegaram a especular que seria Brian Jones, dos Stones. Também de "Highway 61 Revisited", de 1965.

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "Us and Them", de Roger Waters

    Outro momento muito político do show de Waters, no qual no qual ele coloca no telão frases como "o silêncio branco é violência" e "não acredito que ainda tenho que protestar contra isso". Com veteranos de guerra deficientes e outros recursos, Waters parecia uma passeata inteira dos anos 1960, e a música criava um clima de guerrilha. Do disco "The Dark Side of the Moon", de 1973.

  • Mario Anzuoni/Reuters

    "Pinball Wizard", do The Who

    Música-chave da ópera rock "Tommy", de 1969. O crítico inglês Nik Cohn, um dos precursores da crítica de rock, ponderou que achara a ópera sombria e não muito espetacular. "Se a gente colocasse pinball nela, você escreveria uma crítica decente?", perguntou Townshend, que compôs a música para ser acrescida ao disco. A máquina de jogar virou metáfora da alienação do personagem. No show, é sempre um momento mágico.

  • Kevin Winter/Getty Images

    "Harvest Moon", do Neil Young

    "Antes de existir uma religião organizada, havia a lua", disse Neil Young. A lua, de fato, aparece em 28 canções do canadense, mas essa é especial: tornou-se uma das mais românticas canções do festival, com slides de guitarra, banjo, órgão e lirismo sutil. Casais dançavam no gramado. A música é do álbum homônimo de Neil Young de 1992, e tornou-se muito comum nos shows do Pearl Jam.

  • Divulgação

    "The Great Gig in The Sky", de Roger Waters

    A faixa é uma das grandes composições do Pink Floyd. Na versão de Roger Waters, ela ganhou uma roupagem ainda mais magistral. O destaque ficou por conta das duas vocalistas de apoio que, com perucas loiras à moda Blade Runner, arrepiaram a plateia com agudos afinadíssimos. Roger Waters quase não canta em seu próprio show, atuando mais como um maestro da "grande turnê no céu".

  • Kevin Winter/Getty Images/AFP

    "Satisfaction", dos Rolling Stones

    O hino máximo do rock and roll é "Satisfaction". Ponto. O riff de guitarra mais reconhecido no mundo vem desta faixa. Um festival da magnitude do Desert Trip não seria completo se o público não ouvisse esses acordes. Como de costume, Mick Jagger e sua turma encerraram a apresentação da primeira noite com o clássico. No ar, ficou a certeza de que o rock and roll não morreu.