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Há 50 anos a Beatlemania invadia Washington

10.fev.2014 - Naomi Banks, que acredita ter sido a única negra a assistir ao show em Washington, conseguiu ingressos de graça com o proprietário do Coliseum, Harry Lynn, um de seus vizinhos. - AFP
10.fev.2014 - Naomi Banks, que acredita ter sido a única negra a assistir ao show em Washington, conseguiu ingressos de graça com o proprietário do Coliseum, Harry Lynn, um de seus vizinhos. Imagem: AFP

Washington (EUA)

10/02/2014 12h13

Quando os britânicos invadiram pela primeira vez a capital americana Washington, em 1812, eles incendiaram a Casa Branca. Quando retornaram, em 11 de fevereiro de 1964, eram apenas quatro rapazes, mas inflamaram a sala do Coliseum.

Os Beatles, dois dias após sua estreia histórica na televisão americana, enfrentaram a neve para ir de trem de Nova York a Washington, onde realizaram seu primeiro show na América do Norte.

Quase oito mil fãs estavam presentes, ignorando o frio de uma terça-feira à noite em uma sala sem aquecimento e sem nenhuma semelhança com o circo romano, o Coliseu, de quem herdou o nome. "Foi fenomenal", lembra Patricia Mink, na época com 20 anos e funcionária de uma seguradora de Washington.

"Eu me lembro de estar sentada na sala e dizer 'não acredito", declarou à AFP. "Eu me lembro com dificuldade de ter escutado a música". Cinquenta anos depois, no dia 11 de fevereiro, também uma terça-feira, cerca de 3 mil pessoas devem assistir a um show para comemorar o aniversário antes que o imóvel onde ficava a sala, que virou estacionamento, seja transformado em lojas e escritórios.

BeatleMania Now, um grupo que afirma ser "a melhor orquestra que presta homenagem aos Beatles", vai reproduzir todas as 12 faixas do show histórico, de "Roll Over Beethoven" a "Long Tall Sally", passando por "I Saw Her Standing There" e "She Loves You".

A primeira parte do show será conduzida pelo mesmo artista que há meio século conheceu os Beatles na Grã-Bretanha, em 1963, Tommy Roe. "Eu cantei duas músicas, 'Sheila' e 'Everybody'", lembrou em uma entrevista à AFP, "e depois os Beatles subiram ao palco e todos foram ao delírio. Os fãs jogavam balas".

Cerca de 73 milhões de americanos, um recorde na época, assistiram na TV o "Ed Sullivan Show" dois dias antes, em Nova York, que pela primeira vez foi exibido ao vivo.

O grupo seguiu então para Washington e retornou para dois espetáculos em 12 de fevereiro no prestigioso Carnegie Hall, em Nova York.

Washington, ainda traumatizada assim como o resto do país pelo assassinato do presidente John F. Kennedy, em novembro de 1963, já havia sido invadida pela Beatlemania.

Um DJ da estação de rádio local WWDC, Carroll James, transmitiu em suas ondas "I Want to Hold Your Hand", um single trazido de Londres pelo comissário de bordo de uma companhia aérea. O sucesso foi imediato.

Na época, a "música americana, o rock'n'roll, era bastante conservador", disse à AFP Covach John, que ensina história do rock na Universidade de Rochester, em Nova York.

"Quando os Beatles chegaram, de alguma forma fizeram com que os americanos jovens demais para serem fãs da música de 1956 ou 1957, de artistas como Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley, redescobrissem o rock", explica.

Mike Mitchell, então com 18 anos, tirou algumas fotos da noite, uma das quais foi leiloada por 68.500 dólares em 2011 pela Christie's. "O palco estava bem ali no meio", lembra ele ao percorrer o agora estacionamento, "do tamanho de um ringue de boxe, porque era um ringue de boxe".

Os melhores lugares custaram US$ 4, o que equivale a 30 dólares atualmente.

Naomi Banks, que acredita ter sido a única negra a assistir ao show naquela noite, conseguiu ingressos de graça com o proprietário do Coliseum, Harry Lynn, um de seus vizinhos. "Havia jovens em todos os lugares", lembra ela. "O som não era muito bom, mas porque eram os Beatles, porque eram eles que estavam cantando, foi fantástico", lembra.

O show de Washington foi gravado em preto e branco e transmitido no mês seguinte nos cinemas americanos. Trechos podem ser vistos no YouTube. "Cinquenta anos depois eu fico contente em pensar que eu estava lá", diz Trish Banker, um amigo de Patricia Mink. "Foi simplesmente fantástico", conclui.