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"Acting Dead": tecnologia quer reviver artistas falecidos nos palcos

Michael Jackson se "apresentou" durante a cerimônia do prêmio de música Billboard, nos EUA - Doug Pizac/EFE
Michael Jackson se "apresentou" durante a cerimônia do prêmio de música Billboard, nos EUA Imagem: Doug Pizac/EFE

De Nova York

09/11/2015 16h59

Whitney Houston, Michael Jackson e Elvis Presley poderão voltar à vida nos palcos graças a hologramas e a uma nova tecnologia, mais avançada, mas a avidez do público em ver "ao vivo" seus saudosos ídolos ainda não é algo muito claro.

Tudo começou em 15 de abril de 2012, quando o rapper americano Tupac se apresentou em um dos palcos do festival de Coachella, na Califórnia, mais de 15 anos depois de ter sido morto a tiros por um assassino até hoje não identificado.

Dois anos depois foi Michael Jackson que se transformou em um "morto vivo" durante a cerimônia do prêmio de música Billboard, nos Estados Unidos.

E nestes últimos meses, as coisas se aceleraram.

No início de setembro, a empresa Hologram USA anunciou o lançamento de uma turnê de Whitney Houston, que morreu em 2012, uma série de shows de Billie Holiday, morta em 1959, e espetáculos de humoristas americanos já falecidos.

As 'performances post mortem' de Tupac Shakur e Michael Jackson não foram feitas com imagens de arquivo, mas resultaram de imagens virtuais criadas por computador. Já a técnica de projeção tem 150 anos de idade: uma imagem projetada sobre uma tela transparente.

Quatro salas americanas já aceitaram receber o espetáculo, entre elas o famoso Teatro Apollo, no Harlem, em Nova York, que também espera receber o show de Billie Holiday, segundo o fundador da Hologram USA, Alki David.

Outra empresa americana, a Pulse Evolution, prepara uma comédia musical em torno da história de Elvis Presley, que se apresentará no palco graças às imagens virtuais.

Mesmo assim, o interesse do público pelas iniciativas não é claro.

Reinventar o karaokê"Ver personalidades que jã não estão entre nós? Por que não? Há um negócio por trás de tudo isso? Provavelmente. O que me preocupa é aonde pode chegar", além do interesse pela própria perícia técnica, diz Reid Genauer, cantor, guitarrista e encarregado do marketing da Magisto, empresa que está desenvolvendo um aplicativo para compartilhar filmes.

"Penso que há mercado para isso, mas será muito mais forte como instrumento pedagógico do que sob a forma de recitais", diz Jason Ross, produtor com grande experiência.

John Textor, presidente da Pulse Evolution, defende que se busque oferecer um espetáculo similar a um "show da Broadway", com bailarinos e atores, mas considera que há limites. "Quando se chega à terceira canção acabou, a novidade técnica desaparece", disse em entrevista à AFP.

O que interessa mais à Textor é a realidade virtual. A empresa Digital Domain, que ele mesmo dirigiu entre 2006 e 2012, fez carreira no cinema e ganhou vários Oscar, entre eles por "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008).

Os designers que pretendem criar um homem virtual enfrentaram durante muito tempo uma teoria segundo a qual à medida que o resultado vai se aproximando da realidade, o espectador vai se concentrando nas imperfeições, cada vez mais irritantes.

Textor pensa que essa barreira caiu. Durante a primeira parte de "Benjamin Button", diz, "o público pensava que estava vendo realmente Brad Pitt" quando se tratava de um rosto virtual, aplicado por computador sobre o de um dublê do ator.

"A tecnologia que consiste em reproduzir virtualmente uma pessoa desaparecida é atrativa, mas aquela que consiste em mostrá-lo em um cenário não tem interesse algum", aponta Paul Debevec, da Universidade da Califórnia do Sul (USC), considerado um dos pesquisadores mais experientes em personagens virtuais.

John Textor trabalha em outros projetos nesse campo. Um deles é "reinventar o karaokê", com duetos entre pessoas reais e virtuais, e outro é oferecer a qualquer pessoa a possibilidade de criar sua "cópia" virtual.