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John Lennon ficaria furioso com o mundo atual, diz Yoko Ono

Yoko Ono e John Lennon em foto de Annie Liebovitz, em dezembro de 1980, horas antes do ex-Beatle ser assassinado - Annie Liebovitz/AP Photo/Swann Auction Galleries
Yoko Ono e John Lennon em foto de Annie Liebovitz, em dezembro de 1980, horas antes do ex-Beatle ser assassinado Imagem: Annie Liebovitz/AP Photo/Swann Auction Galleries

NATALIE ROTMAN

Da Associated Press

05/10/2010 15h47

Se John Lennon estivesse vivo para comemorar seus 70 anos, Yoko Ono acha que o cantor estaria mais tranquilo do que quando completou 40.

Ono declarou se lembrar do ex-beatle reclamando quando estava próximo do número. "Não acredito que vou fazer 40!", Ono disse ter ouvido de Lennon.

"Eu disse, 'John, John, 40 não é tão ruim, sabe?'"

Infelizmente, aquele seria o último ano do músico. Lennon foi assassinado em 8 de dezembro de 1980, quase dois meses depois de completar 40 anos.

Mas nas últimas três décadas, Yoko Ono trabalhou para manter o legado do cantor vivo, e continua a trabalhar enquanto o aniversário de 70 anos de Lennon se aproxima, no próximo sábado (9).

Oito discos solo de John Lennon foram remasterizados e chegaram às lojas nesta semana como discos avulsos e também em duas caixas. Há ainda uma versão remixada do disco "Double Fantasy", de Lennon e Yoko, lançado em 1980.

Outros projetos que celebram o músico são uma caixa chamada "Box of Vision"; o filme "Nowhere Boy", sobre a juventude de Lennon; e a exibição do documentário "LennonNYC", no Central Park, em Nova York, no sábado.

No dia em que Lennon faria 70 anos, Yoko Ono estará na Islândia, onde vai se apresentar com a Plastic Ono Band. Em uma entrevista recente, a artista e pacifista de 77 anos falou sobre sua missão de manter a memória de Lennon viva.

Pergunta: John Lennon era um músico e ativista. Há músicos e artistas o suficiente hoje tentando ter impacto nas mudanças sociais?
Yoko Ono: Sim, claro, estão todos fazendo isso. Quando John e eu começamos, estávamos olhando ao nosso redor --"Somos as únicas pessoas?" Era um pouco como isso. Mas agora vejo tantos músicos que são ativistas poderosos. É ótimo.

Pergunta: Como você acha que John veria a confusão que é o mundo hoje?
Ono: Ele ficaria completamente furioso. ...Ele teria vontade de correr para algum lugar e bater em algo ou estrangular alguém, entende? Mas, pensando bem, tenho certeza de que ele teria relaxado e decidido continuar sendo um ativista. Nós realmente temos de fazer algo em relação ao mundo. Caso contrário vamos todos explodir juntos.

Pergunta: O que você acha do filme "Nowhere Boy"?
Ono: Primeiramente, fiquei surpresa pela diretora (Sam Taylor-Wood) ser linda, digo fisicamente, uma pessoa jovem. ... Mas o que conta é que ela fez isso, e fez muito bem. Esse é o filme dela. E todos os atores são muito bons. E me surpreendeu por ter sido a primeira vez em que todos --talvez eles tenham lido os livros--, todos mesmo entenderam como a infância de John foi. E como foi dolorosa para ele. ...Fiquei muito agradecida por Sam Taylor-Wood ter feito esse filme, que é muito verdadeiro.

Pergunta: Como você escolheu as músicas que entraram nas caixas lançadas agora?
Ono: A única coisa que eu tive algum tipo de decisão foi não incluir "Two Virgins" e "Life With The Lions", que são muito experimentais, de alguma maneira. ...Eu quis apresentar John primeiro como um roqueiro incrível e especial. Depois ele começou a fazer algo mais avant-garde, que era OK, mas há muito de mim ali, então pensei, "Bem, melhor não colocarmos isso."

Pergunta: Como é para você ouvir a música "Woman" tantos anos depois?
Ono: Claro que foi muito lisonjeiro John ter escrito a canção. Mas, ao mesmo tempo, eu era a mulher que estava com ele. Tive muita sorte. Muitos pintores retratam suas mulheres, é o que fazem. Ele me usou nesse sentido e provavelmente eu o inspirei de alguma maneira. Mas acho que ele estava falando de todas as mulheres, e isso é muito importante.

Pergunta: Você ainda coloca a música dele para tocar?
Ono: Eu ouvi a música dele quase todos os dias nos últimos 30 anos, pois há outros pedidos e razões de negócios. Mas não é algo muito confortável de se fazer. Não coloco as músicas dele para relaxar porque é algo doloroso.