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"Eles não eram muito bons": por que George Martin foi o quinto Beatle

O produtor George Martin, que era considerado "o quinto beatle" - Getty
O produtor George Martin, que era considerado "o quinto beatle" Imagem: Getty

09/03/2016 17h55

O produtor musical dos Beatles, George Martin, morreu aos 90 anos, anunciou nesta quarta-feira (9) o ex-Beatle Ringo Starr em seu perfil no Twitter.
As causas de sua morte ainda não foram divulgadas.

Conhecido como "o quinto Beatle", Martin não só descobriu o grupo apesar de, na época, dizer que o grupo "não era muito bom" como teve papel fundamental no acabamento das músicas do grupo.

Ele produziu mais de 700 álbuns ao longo de sua carreira de cinco décadas. Seu conhecimento técnico e gosto pela experimentação permitiram que produzisse sons inovadores com equipamentos que músicos modernos considerariam primitivos.

Ele também trabalhou com artistas como Dire Straits, Celine Dion, Sting e os Rolling Stones.

O baterista dos Beatles disse no Twitter que "George fará falta". "Obrigado por todo seu amor e gentileza, George. Paz e amor", escreveu Ringo.
Sean Ono Lennon, filho de John Lennon, tuitou: "R.I.P. George Martin. Estou tão desapontado que não tenho muitas palavras."

Liam Gallagher, do Oasis, banda que tinha os Beatles como modelo, também lamentou a morte na rede social.

Beatles

George Henry Martin nasceu em 1926, filho de um carpinteiro e uma faxineira, no norte de Londres.

Sua paixão por música despertou quando assistiu a uma apresentação da London Symphony Orchestra no salão da escola.

No final da Segunda Guerra, ele treinou para ser piloto. Em 1947, ele tocava oboé profissionalmente, apesar de não saber, ainda, ler ou escrever notas musicais.

George Martin em foto com os Beatles em 1963, antes da explosão da banda nos EUA - Getty - Getty
George Martin em foto com os Beatles em 1963, antes da explosão da banda nos EUA
Imagem: Getty

Depois de se formar na Guildhall School of Music, trabalhou no departamento de música clássica da BBC, antes de ser contratado pela EMI como produtor musical, onde, rapidamente, se familiarizou com a mesa de som e outros recursos do estúdio de gravação de Abbey Road.

Cinco anos depois, aos 29 anos de idade, como chefe do selo Parlophone, trabalhou com artistas como Shirley Bassey, Matt Monro e grupos de jazz de Johnny Dankworth e Humphrey Lyttelton.

Martin também produziu gravações de comediantes como Bernard Cribbins e Peter Sellers.

Foi nessa época, em 1962, que recebeu a visita de Brian Epstein, querendo mostrar a fita demo de uma banda que empresariava.

Àquela altura, os Beatles haviam sido rejeitados por todas as grandes gravadoras do país. O próprio Martin ficou mais impressionado com a personalidade dos músicos e sua sagacidade do que por sua música.

"Eles eram estridentes", disse depois. "Não muito afinados. Eles não eram muito bons", contou.

Mesmo assim, ele assinou com os quatro, e "Love Me Do" se tornou o primeiro sucesso deles, em 1962. A partir daí, teve início a parceria de gravadora mais bem-sucedida de todos os tempos.

Pelos oito anos seguintes, Martin conduziu os "Fab Four" (os "Quatro Fabulosos", como ficaram conhecidos na Grã-Bretanha) do rock'n'roll básico de "I Want to Hold Your Hand" à experimentação ambiciosa dos álbuns "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e "Abbey Road".

A parceria Martin-Beatles representou uma mudança radical tanto para o produtor quanto para os músicos. Martin, que era músico de formação clássica, tinha pouca experiência com música pop e a banda não tinha ideia das possibilidades oferecidas por um estúdio.

Martin tinha o dom de conseguir traduzir as arriscadas ideia de Lennon e McCartney em termos práticos de gravação.

Enquanto McCartney conseguia expressar seus pedidos, Lennon era um pouco mais vago. Se ele procurava pelo que descrevia como "um som laranja", Martin assumia a tarefa de encontrá-lo.

Ringo Starr e o produtor George Martin na cerimônia do Grammy, em 2008 - Reprodução - Reprodução
Ringo Starr e o produtor George Martin na cerimônia do Grammy, em 2008
Imagem: Reprodução

Em uma entrevista em 1975, John Lennon disse que a relação com Martin era uma "verdadeira parceria".

"Algumas pessoas dizem que George Martin fez tudo, outras dizem que os Beatles fizeram tudo. Não foi nenhuma das duas opções. Nós aprendemos muito juntos", afirmou.

O treinamento erudito de Martin se tornou ainda mais importante à medida que os Beatles forçavam os limites da música. Ele compôs e conduziu o arranjo de cordas de "Eleanor Rigby" e o eclético pano de fundo de "I Am The Walrus".

E tudo isso com o que, hoje em dia, seria considerado um equipamento de gravação bem básico, que ele levou ao limite para a gravação do álbum "Sgt. Peppers".

Na época, a EMI só tinha gravadores de quatro pistas, então Martin e seus técnicos desenvolveram uma técnica de acoplar dois gravadores de rolo de quatro pistas a uma mesa de mixagem, conseguindo, na prática, usar 8 canais de gravação.

Ele também conseguiu efeitos inusitados alterando a velocidade do gravador, para mudar a textura do som final, uma técnica usada em "Lucy in the Sky with Diamonds".

Furacão

Após o fim dos Beatles, Martin trabalhou com diversos artistas.

No final dos anos 1970, ele construiu um estúdio na ilha caribenha de Montserrat, onde gravaram grupos como Dire Straits e Rolling Stones.
Quando o furacão Hugo destruiu a ilha e o estúdio em 1989, Martin produziu um álbum para arrecadar fundos para as vítimas.

Em 1997, Elton John pediu sua ajuda para produzir a regravação da música "Candle in the Wind" em versão feita para o funeral da princesa Diana.

Ele convenceu o cantor a sentar no estúdio e gravar exatamente como havia tocado na Abadia de Westminster. O resultado foi o 30º hit número 1 nas paradas produzido por Martin mais do que qualquer outro produtor.