Topo

Mostra em Berlim explica mudanças na relação entre músico e fã pós-internet

Imagem da mostra Passion - Fan-verhalten und Kunst (Paixão - Comportamento dos Fãs e Arte) - Divulgação
Imagem da mostra Passion - Fan-verhalten und Kunst (Paixão - Comportamento dos Fãs e Arte) Imagem: Divulgação

Marco Sanchez

31/07/2015 16h15

Nunca na história da música pop, artistas e fãs estiveram tão conectados. A internet não apenas obrigou a indústria fonográfica a se reinventar, mas através das redes sociais, colocou fãs em contato direto com os artistas.

Em cartaz em Berlim, a exposição Passion - Fan-verhalten und kunst (Paixão - Comportamento dos fãs e arte) trata das mudanças na relação entre artistas e fãs ao longo das últimas décadas, através de obras de artistas do mundo todo.

"Até os anos 1990, a única maneira de uma pessoa comum se comunicar com um artista era através de cartas. Hoje essa comunicação é simples e imediata", diz o curador da exposição, Christoph Tannert, em conversa com a DW Brasil.

Na época das fitas e dos fanzines

Ser fã de música antes da internet podia ser uma tarefa complicada se seu artista favorito não estava na lista dos mais vendidos ou tocados nas estações de rádio. Os fãs se encontravam através de anúncios em revistas de música, se comunicavam por cartas, trocavam fotos, desenhos e artigos xerocados de revistas.

Uma das mais curiosas obras da exposição mostra textos, fanzines (revistas editadas pelos fãs), cartas e desenhos feitos por fãs do Depeche Mode na Alemanha Oriental. Os fãs da banda inglesa eram monitorados, já que sua "música sóbria poderia isolar os jovens dos ideais comunistas", explica o curador, que cresceu na Alemanha Oriental.

Quem gostava de música alternativa se organizava para distribuir álbuns e gravações ao vivo em fitas cassetes pelo correio. Todo o processo pareceria uma eternidade para quem está acostumado a salvar um disco em seu hard disk em apenas alguns segundos.

A internet mudou não só a maneira como artistas e fãs se comunicam, mas também tirou da mão de gravadoras o monopólio da distribuição de música. Assim, alguns itens que faziam parte do universo dos fanáticos por música simplesmente desapareceram.

Em suas esculturas, Via Lewandowsky relembra com humor e melancolia as memórias de um passado onde gravava suas música do rádio em fitas cassetes. Em Don't cry, um antigo toca-fitas chora o fim de sua própria existência.

O fanzine hoje ganha todos os tipos de cores e formatos na internet em blogs, sites e Tumblrs. Ele é relembrado em Girl Rock, onde Julia Horbster esconde uma fita de rock dentro de uma antiga revista para mulheres.

Além do rock

Apesar de focada no rock, a exposição em Berlim também explora outros estilos. Em uma série de fotografias, Candice Breitz mostra grupos de fanáticos fãs de artistas como Britney Spears, Marilyn Manson, Iron Maiden e Abba.

A série de fotos Totoma!, da brasileira Daniela Dacorso, retrata os bailes funk cariocas. Fascinada pelo "ritmo e a força da cena", a fotógrafa passou mais de dez anos fotografando os bailes. "Apesar do objetivo inicial ser documental meu olhar se dirigia, quase sempre, para cenas catárticas. Esse mesmo êxtase que a gente experimenta em shows de rock", explica.

A artista acredita que a internet revolucionou toda a indústria do entretenimento e aponta como a rede é uma oportunidade para fãs soltarem suas fantasias em relação ao seus ídolos.

Imagem da série Totoma!, da brasileira Daniela Dacorso, que retrata os bailes funk cariocas - Divulgação - Divulgação
Imagem da série Totoma!, da brasileira Daniela Dacorso, que retrata os bailes funk do Rio
Imagem: Divulgação

"No Youtube, os fãs viram protagonistas e gravam seus próprios vídeos, dublando ou cantando. Isso em todos os lugares do mundo e em diferentes classes sociais. Milhares de meninos da favela gravam seus vídeos de dança com o celular. Outro fenômeno são os clones de artistas pop que se espalham pela internet. Eu fotografei um concurso de clones da Beyoncé. É fascinante", conta a Dacorso.

Experimentações ontem e hoje

Para o brasileiro Gilvan Barreto, a internet é um poderoso mecanismo de experimentação. "Muitos modelos de divulgação e até da produção estão sendo testados na internet. Independente do alcance do artista, haverá sempre um público fiel consumindo e tentando ampliar fronteiras para o trabalho de seus ídolos."

O fotógrafo se inspirou no passado e olhou para o futuro em Falling mushrooms from the Sky, um série de imagens inspiradas no álbum Paêbiru de Lula Côrtes e Zé Ramalho, especialmente criada para a exposição em Berlim.

Passion - Fan-verhalten und kunstestá em cartaz no Künstlerhaus Bethanien em Berlim até 9 de agosto.

Obra da artista Julia Horbster, que faz referência ao movimento riot grrrl  - Reprodução - Reprodução
Obra da artista Julia Horbster, que faz referência ao movimento riot grrrl
Imagem: Reprodução