Topo

"Nunca vou deixar de atuar, mas a música é minha prioridade agora", diz Christian Kane sobre carreira country

O ator Christian Kane em foto de divulgação de sua carreira musical - Mark DeLong/NYT
O ator Christian Kane em foto de divulgação de sua carreira musical Imagem: Mark DeLong/NYT

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

19/01/2011 16h37

Ao analisar sua vida, o ator Christian Kane acha que era inevitável que se tornasse um cantor country. "Minha mãe e meu pai estavam nos rodeios", diz o co-astro da série de TV "Leverage". Seus pais praticavam o bareback (montaria sem sela) e corrida de barril. "Sempre tocava música country em casa, Highwaymen, Dolly Parton, Kenny Rogers. Não era exatamente um lar musical", acrescenta Kane. "Eu sou o único na família que consegue manter a afinação, para ser honesto. Mas (a música) faz parte de mim como ator, então fico feliz por ter a chance de também fazer isto".
 
Apesar de seu primeiro papel na televisão ter sido o de um cantor em "Fame L.A." (1997-1998), o ingresso real de Kane no mundo da música veio com o lançamento em dezembro de "The House Rules", um álbum como 11 canções que mostra sua voz forte e talento como compositor ao lado de uma variedade de colaboradores, incluindo Casey Beathard, Blair Daly, Jerrod Niemann e outros. 

Christian Kane - "The House Rules"

 
Kane também foi co-compositor de uma canção da edição de luxo do mais recente álbum de Trace Adkins, "Cowboy's Back in Town". "Eu me deparei com um lance contra atores: 'lá vem outro ator querendo ser cantor'", diz Kane, de 36 anos, que há seis anos estabeleceu residência em Nashville --ele também tem uma casa em Los Angeles-- para que pudesse aperfeiçoar sua composição. "Mas isso já ficou para trás. Eles viram minha dedicação e meu amor por isto. E não importa quem você seja ou o que faça. Se a música não estiver lá, eles não vão tocar você ou com você".
 
As artes foram uma espécie de refúgio para o jovem Kane, que nasceu em Dallas e foi criado principalmente em Oklahoma, com sua família se mudando com frequência para os rodeios. "Minha imaginação foi minha melhor amiga grande parte da minha vida. Frequentei cinco escolas primárias na infância e era duro ser sempre o mais novo. Eu ia ao cinema nos fins de semana e saia querendo ser bombeiro, fuzileiro naval, essas coisas", ele conta.
 
Então ocorreu, Kane lembra, que havia uma forma de ser tudo isso, que era sendo ator. "Eu não era muito erudito e nem tinha aquela esperteza de rua. Tudo era muito artístico para mim. Eu praticamente já sabia o que queria fazer quando era garoto".
 
"A regra é se divertir"
Jogador de futebol no colégio, ele foi tocado por um filme em particular. "Provavelmente foi 'Os Jovens Pistoleiros', de 1988", lembra Kane, que anos depois trabalhou com o astro desse filme, Emilio Estevez, em um episódio de "Leverage". "Ele foi o diretor convidado e eu lhe disse: 'cara, o motivo para ter virado ator foi porque você interpretou Billy the Kid'. No dia seguinte ele me trouxe seu último presente da equipe, uma estrela de xerife para prender no peito, dizendo no verso: 'eu farei você ficar famoso, Emilio'. Aquilo foi muito especial".
 

Christian Kane - "Thinking Of You"

Kane frequentou a Universidade de Oklahoma, em Norman, onde ele estudou história da arte, mas seu desejo de ser ator venceu e ele se mudou para Los Angeles antes de se formar. Ele conseguiu um emprego em uma agência de atores, trabalhando como mensageiro em troca de referências para testes. Em 1997, ele conseguiu um papel em "Fame L.A.", interpretando um cantor country que se mudou do Kansas para a Califórnia, e depois passou para papéis em "Angel" (1999-2004), "Crossfire Trail" da TNT, a minissérie "Into the West" (2005) e na série "Close to Home" (2005-2006) da CBS. 
 
Kane também apareceu na tela grande em "Uma Vida em Sete Dias" (2002), "Recém-Casados" (2003), "Lições Para Toda Vida" (2003), "Táxi" (2004), "Tudo Pela Vitória" (2004) e "The Donner Party" (2009). Mas a música ainda estava no seu sangue. Kane conheceu o músico Steve Carlson pouco depois de se mudar para Los Angeles e os dois começaram a compor canções. Logo eles montaram uma banda chamada Kane, que ele diz ter sido a única banda country em Los Angeles por quatro anos.
 
"Nós tocávamos em lugares como o Viper Room e o Mint", lembra Kane, acrescentando que essas casas, mais conhecidas pelo rock, exerceram uma forte influência no estilo de country mais roqueiro da banda. "Se tocássemos uma balada como "The Dance" (1990) de Garth Brooks ou "The Chair" (1985) de George Strait, perderíamos o público. Tocávamos entre bandas de hard rock, era preciso manter o interesse de todos. Foi como nosso som foi moldado, tocando música country em espaços de rock. Nós tínhamos que adicionar gasolina para segurar o público".
 
Esses dias estão refletidos na faixa título de "The House Rules", que também é o primeiro single e vídeo do álbum. "Nós tocávamos e todo aquele pessoal metaleiro ficava ao fundo, fazendo o maior barulho. Eu dizia: 'pessoal, essa é a minha casa por 45 minutos ou uma hora. Eu preciso que vocês calem a boca ou vou mandar alguns daqueles caras com chapéu de caubói nas primeiras filas virem aqui falar com vocês'".
 
Ele lembra que contou sobre isso para Blair Daily e então ganhou um novo significado. "Transformou-se em uma canção de trabalhador, apenas um 'venha curtir com a gente no fim de semana. Deixe o emprego para trás, lave a semana de trabalho com lágrimas, risos, cerveja e uísque. Todo mundo é bem-vindo. Esta é nossa casa. A regra é se divertir'".
 
Mesmo produtor de Kiss e Pink Floyd
Kane começou a ser tocado em Los Angeles e até mesmo ganhou um concurso Country Thunder "Young Guns", que levou a um contrato com a Columbia Nashville. Após a expiração do contrato sem qualquer resultado significativo, Kane assinou com o Bigger Picture Group, uma produtora independente que emplacou com a Zac Brown Band. 
 

Christian Kane - "Fast Car"

Bob Ezrin, o lendário produtor por trás de "Destroyer" (1976) do Kiss, "The Wall" (1979) do Pink Floyd e muitos outros títulos, é um sócio da Bigger Picture e co-produziu "The House Rules". "Aquilo foi inacreditável, cara, o amor e respeito dele pela música bastam. Não que não nos desentendêssemos de vez em quando, mas amo ele demais e adorei trabalhar com ele. A certa altura, com tudo o que ele já fez, você tem que confiar no cara. E fico feliz por termos confiado, porque resultou neste álbum".
 
Outra canção do álbum, "Thinking of You", também foi usada em um episódio de "Leverage". "É uma história verdadeira, sincera. Não é uma história de rejeição como 'How Do You Like Me Now' (1999, de Toby Keith) ou algo assim. Eu não sabia se algum dia conseguiria falar de novo com aquela garota, então compus uma canção na esperança de que tocasse no rádio e ela ouvisse minhas palavras".
 
A faixa cover que fecha o álbum, "Fast Car" (1988) de Tracy Chapman, saiu diretamente de seu teste para "Fame L.A." há 14 anos. "A diretora de elenco me disse: 'cante algo'. Então em vez de escolher uma canção country, eu cantei 'Fast Car', e depois de mais dois testes eu consegui o papel. Eu contei essa história para Bob Ezrin e disse que devíamos incluí-la no álbum. É meio que um tributo a Tracy Chapman".
 
Com o lançamento de "The House Rules" --que estreou no 25º lugar da parada country da Billboard em dezembro, enquanto o single chegou ao 49º lugar-- Kane diz que a música é "minha prioridade nº 1 agora", apesar de que ele retornará para a quarta temporada de "Leverage" mais adiante neste ano. Ele já tem vários shows marcados para divulgação do álbum e, como outros antes dele, Kane precisa aprender a equilibrar suas duas carreiras ocasionalmente conflitantes.
 
"É possível, cara", diz Kane. "Eu só me levanto e trabalho, seja como músico ou ator. Quando não atuo, eu faço música e vice-versa. 'Leverage' é um ótimo veículo para mim e deixei de fazer alguns filmes porque a música é muito importante para mim, e quero assegurar que ela se mantenha nos trilhos. Eu nunca vou deixar de atuar, mas quero que a música também tenha seu tempo".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato