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"Ficamos juntos tempo demais", diz Steven Page, em carreira solo, sobre saída do Barenaked Ladies

Steven Page, ex-Barenaked Ladies, em divulgação de sua carreira solo - Divulgação/NYT
Steven Page, ex-Barenaked Ladies, em divulgação de sua carreira solo Imagem: Divulgação/NYT

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

31/01/2011 16h27

Steven Page não está mais no Barenaked Ladies, mas isso não significa que a banda acabou para ele. Talvez não cause surpresa, já que ele esteve no Ladies por 20 anos. "Ah, toco muita coisa do BNL", diz ele, que em outubro lançou "Page One", seu primeiro álbum solo de fato, e está desde então em turnê para divulgá-lo. 
 
"Toco qualquer um dos singles que cantava, como 'Jane' (1994), 'Brian Wilson' (1993) e 'The Old Apartment' (1996). Com uma nova banda, é legal rearranjar essas canções após tocá-las de um jeito por tantos anos. Ainda me orgulho delas e são minhas canções", ele conta. Acima de tudo, Page, de 40 anos, está aproveitando a fase que está limpo, sóbrio e livre --e, com "Page One", de volta aos trilhos após retirar sua vida pessoal de uma espiral descendente.
 

Steven Page - "Indecision"

Foi em 2007 que as coisas começaram a azedar seriamente para Page que, junto com o colega de escola Ed Robertson, fundou o Barenaked Ladies em Toronto, em 1988. Foi quando ele e sua esposa, Carolyn, se divorciaram após 14 anos de casamento e três filhos. Em 11 de julho de 2008, Page e a namorada Christine Benedicto foram presos em Fayetteville, Nova York, perto da casa deles em Syracuse, sob a acusação de crime de porte de drogas. 
 
As acusações foram reduzidas para contravenção e retiradas totalmente, depois que Page concordou com um período de liberdade condicional, com exames para drogas, por seis meses. A prisão inoportuna, altamente noticiada, ocorreu logo após o lançamento do álbum para crianças do Barenaked Ladies, "Snacktime!" (2008), o que contribuiu para sua separação da banda em fevereiro de 2009. Mas Page diz que seu relacionamento com o restante da banda já vinha deteriorando "provavelmente nos últimos 10 ou 12 anos, gradualmente".
 
"Em uma banda de cinco integrantes, em algum momento sempre vai haver alguém que se sente de fora, que sente que os demais falam às suas costas”, diz Page, acrescentando que mantém com eles um relacionamento cordial ou amistoso, "dependendo da pessoa". "Eu ficava frustrado no palco, as coisas não iam bem em casa. Foi difícil e a banda não falava sobre essas coisas. Durante uma das nossas reuniões, esperei que eles me demitissem ou algo assim. Então me ocorreu que ninguém tinha pensando sobre a possibilidade de eu não estar na banda".
 
"Juntos tempo demais"
Em uma entrevista separada, Robertson, que prossegue com o Barenaked Ladies com quatro integrantes, concorda que o período de Page na banda chegou ao fim bem antes da separação se tornar oficial. "Ele não estava mais voltado para aquilo há muito, muito tempo", diz Robertson. "Foram anos, anos e anos arrastando Steve para a mesa e tentando fazer com que se envolvesse. Acho que havia muita negatividade e disfunção na banda, mas não há mais".
 

Steven Page - "A New Shore"

Após sua prisão, diz Page, ele sentiu que os outros músicos do Barenaked Ladies "ficaram furiosos em vez de darem apoio, e não os culpo, porque ficaram assustados. Eles acharam que aquilo refletia mal neles. Entendo totalmente, mas eu não podia compensá-los e aquilo também não nos aproximou. Poderia, mas não ocorreu. E não foi algo dramático, aconteceu com o passar do tempo. Acho que, no final, estávamos todos andando sobre ovos uns com os outros. Não era apenas eu contra eles. Acho que ficamos juntos tempo demais".
 
Foi um tempo "horrível", diz Page, mas ele conseguiu superar com a ajuda de seus filhos, "que foram incríveis durante tudo isso" e "os poucos amigos realmente fantásticos". "Minha meta era me livrar das acusações e me certificar de que meus filhos estavam bem. Não fiz isso para provar algo para alguém. Eu fiz por mim mesmo e para as pessoas mais importantes na minha vida".
 
Agora ele espera provar aos fãs que ainda é o mesmo artesão pop esperto que cantou sobre "ficar deitado na cama como Brian Wilson fez" e todas as coisas que faria se tivesse um milhão de dólares. Mesmo antes de deixar o Barenaked Ladies, ele compôs música para o Stratford Shakespeare Festival e se associou ao compositor Stephen Duffy para o formar o The Vanity Project, em 2005. Imediatamente após a separação da banda, ele trabalhou em outra produção do Stratford, "Bartholomew Fair: A Comedy", gravou um álbum de covers, "A Singer Must Die" (2009), e fez uma série de shows acústicos.
 
De volta ao pop melódico
"Page One" é, entretanto, o trabalho mais próximo, desde a separação, do tipo de pop melódico que ele fazia com o Barenaked Ladies. "Eu precisava ser eu mesmo, não sabia como este álbum sairia. No meu entender, podia ser um rock independente, artístico ou outra coisa, mas não foi. Eu gravei a música que surgiu e tentei não pensar em excesso", ele conta.
 
"Eu acho que muita gente esperava que saísse um álbum choroso, cheio de lamentações, mas não é como me sinto agora. Eu sinto que estou em uma trajetória que realmente me empolga, tanto pessoal quanto profissional. De certo modo, talvez fosse mais bacana ser negativo, mas não é como me sinto e queria ser honesto a respeito disso".
 

Barenaked Ladies - "Brian Wilson"

Algumas das canções em "Page One" têm mais de uma década. O primeiro single, "Indecision", é da época do "The Vanity Project", e várias outras canções já tinham sido apresentadas ao Barenaked Ladies para consideração. "Elas eram algumas que apresentei à banda, então, se tivesse permanecido na banda, algumas provavelmente estariam no [próximo] álbum deles. Mas agora eu tenho a chance de fazê-las soar como eu queria ouvi-las".
 
Outro elemento especial de "Page One" foi a chance de trabalhar com Pete Thomas, o antigo baterista das bandas The Attractions e The Imposters de Elvis Costello. "Ele provavelmente é um dos meus bateristas favoritos ainda vivos. Já o vi ao vivo com Costello muitas vezes, mas também gosto de como ele tocou nos álbuns dos Los Lobo e todas as outras coisas que já fez. Ele é um sujeito ótimo, engraçado e gentil".
 
Page planeja excursionar durante 2011 com "Page One", mas ele garante que terá bom senso para não saturar o mercado. "Há um Neil Young em mim que quer um álbum soando diferente do outro. Parte de mim quer formar uma banda de quatro integrantes e sair tocando rock and roll básico, outra quer fazer um álbum ao estilo cabaré, algo dramático. Pretendo fazer todas essas coisas e estou pronto para trabalhar. A sensação é de que este é apenas o início", conclui Page.
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato