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Em pausa com Nine Inch Nails, Trent Reznor encontra nova voz nas trilhas sonoras do cinema

Atticus Ross (esq.) e Trent Reznor (dir.) posam com Globo de Ouro que ganharam pela trilha-sonora de "A Rede Social" (16/01/2011) - AP Photo/Mark J. Terrill
Atticus Ross (esq.) e Trent Reznor (dir.) posam com Globo de Ouro que ganharam pela trilha-sonora de "A Rede Social" (16/01/2011) Imagem: AP Photo/Mark J. Terrill

Gary Graff*

The New York Times Sindycate

15/02/2012 00h07

Para quem nunca encarou trilhas sonoras como um "plano de carreira", Trent Reznor tem se saído muito bem no cinema. Ele fez seu nome guiando o Nine Inch Nails até um pico multiplatinado ao longo de sete álbuns e expandiu sua reputação em colaborações com Tori Amos, Jane's Addiction e Marilyn Manson, e bandas paralelas. Mas, nos últimos dois anos, Reznor se transformou no nome mais badalado da música para cinema. 
 
Apesar de sua primeira tentativa em trilhas sonoras, para o thriller "Retratos de Uma Obsessão" (2002), ter sido abortada e posteriormente usada no disco "Still" (2002) do Nine Inch Nails, Reznor e seu parceiro Atticus Ross se deram muito bem com "A Rede Social" (2010), de David Fincher, conquistando um Oscar de trilha sonora original. Eles voltaram a trabalhar com Fincher em "Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (2011) e emplacaram outro sucesso.
 
O sucesso rápido deixou Reznor surpreso. "Depois de 'A Rede Social' recebi muitas ofertas", diz Reznor, de 46 anos, "e passei bastante tempo pensando sobre quanto trabalho gostaria de dedicar fazendo trilhas de filmes. Sempre me interessei [em música para cinema], mas nunca me esforcei para entrar na área. Aconteceu meio que por acaso e então decolou".
 
Reznor agora está com a banda How to Destroy Angels (com sua esposa, a ex-cantora do West Indian Girl, Mariqueen Maandig, e Ross) e também tem pensando em reativar o Nine Inch Nails, mas ele diz que, até o momento, ele e Ross consideram seu trabalho com filmes surpreendentemente agradável.
 
"Com alguém tão criativo, encorajador e estimulante como David Fincher, você sente que não tem como ser melhor. Tenho uma porta escancarada para fazer o que quiser e um diretor extremamente criativo me incitando: 'Não seja tradicional. Vamos romper alguns limites'. É uma ótima experiência, e eu sei que essa não é a norma", diz Reznor.
 
"Há muita música de trilha sonora genérica e esperada nos atuais filmes de Hollywood: 'Aqui está a cena de ação, então vamos fazer isso. Aqui está a romântica, de derreter o coração, ela deve soar assim'. Isso não tem nenhum apelo para mim. Com David, nós nos divertimos tentando acrescentar coisas, não apenas para ser diferente ou estranho, mas buscando tornar o filme mais interessante por meio do uso do som e da trilha".

Trailer de "Millennium-Os Homens Que Não Amavam as Mulheres"

Histórico: trilhas sonoras de filmes e games
Apesar de ser novo fazendo trilhas de filmes, música para filmes não é novidade para Reznor. Natural de Mercer, na Pensilvânia, ele começou a tocar piano aos cinco anos e passou para outros instrumentos durante todo o colegial, entrando para uma banda chamada Exotic Birds, em Cleveland, antes de iniciar o Nine Inch Nails como um projeto de um homem só, em 1988.
 

Não tenho nenhuma meta em particular fora... bem, minha voz como compositor sente que precisa se manifestar ou pelo menos trabalhar um pouco para não atrofiar. Sinto que tenho algo a dizer que parece particular para quem sou no momento, que é quando isso me diz que é hora de fazer algo

Trent Reznor
Após o sucesso triplamente platinado do álbum de estreia do grupo, "Pretty Hate Machine" (1989), Reznor se tornou um autor procurado para remixes e produção, enquanto sua dinâmica pesada e sentimento afiado também passaram a atrair cineastas. Oliver Stone chamou Reznor para organizar a trilha sonora de múltiplos artistas para "Assassinos por Natureza" (1994) e David Lynch o trouxe para "Estrada Perdida" (1997). 
 
Reznor também compôs música para o videogame "Quake" e foi engenheiro de som de "Doom 3", enquanto o álbum "Year Zero" (2007), do Nine Inch Nails, foi acompanhado por um game de realidade alternativa que usava as canções para os personagens e pontos da trama. É uma combinação natural, ele diz. "Quando componho, penso em um cenário visual e faço a música para se encaixar".
 
Como Fincher os contratou para "Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" antes mesmo de iniciar as filmagens na Suécia, diz Reznor, ele e Ross conseguiram iniciar o trabalho mais cedo. Eles começaram a compor a música paralelamente à filmagem, realizando um diálogo constante com Fincher, que influenciou ambas as partes. "Nós começamos a compor antes mesmo de recebermos o roteiro", diz Reznor.
 
Ele leu o livro de Stieg Larsson e assistiu a adaptação sueca para o cinema de 2010, para se familiarizar com a história, mas não fez referência a nenhum deles no filme de Fincher. Então ele e Ross começaram a trabalhar, gravando cerca de três horas de música para que Fincher considerasse e utilizar enquanto as câmeras estavam filmando.
 
"Diferente de 'A Rede Social', nós tivemos várias discussões com David, em que ele nos passava a ideia de quão casada com a imagem a música seria. Ele estaria na Suécia e congelando, e realmente queria acentuar quão frio era e quanto a Suécia era como uma personagem no filme. Isso nos orientou sobre o que ele estava pensando e produziu bons resultados", resume Reznor.
 
Semelhança de "Millennium" com Nine Inch Nails
Após todos aqueles álbuns do Nine Inch Nails, reconhece Reznor, transmitir a ideia de frio era algo que ele sabia fazer. "'Millennium' parecia tematicamente familiar com as coisas que fiz com o Nine Inch Nails em termos de medo, tensão, desconforto e as coisas escondidas abaixo da superfície, misteriosas e sombrias", ele reconhece. 
 
"A personagem de Lisbeth Salander tem uma vulnerabilidade presente. Ela não é aparente no início. Ela é durona, mas alguma humanidade começa a transparecer um pouco, então tentamos entrelaçar elementos de beleza em algumas dessas paisagens (musicais). Foi um desafio interessante".
 
Assim como foi um desafio a versão de "Immigrant Song" do Led Zeppelin, cantada por Karen O dos Yeah Yeah Yeahs na abertura do filme e também no primeiro trailer. Ele e Ross estavam céticos inicialmente, diz Reznor, especialmente após terem elaborado uma trilha que era tão ambiente e etérea, decididamente não voltada para canções, mas Fincher os convenceu a incluí-la.
 
"David não tem medo de experimentar coisas e então descartá-las se não funcionar. Aprendi com ele a não abandonar ideias logo de cara e a experimentá-las. Foi um caminho longo para acertar musicalmente e introduzir a Karen, com quem foi um prazer trabalhar. Quando terminamos, senti que aquilo era algo de que me orgulharia de ter meu nome. Então vi o teaser sair, depois o filme, e senti: 'Ok, agora eu entendi', e fiquei feliz por ter termos feito aquilo".
 

Nine Inch Nails - "March of The Pigs"

A volta de Reznor à composição
Agora que "Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres" já foi lançado, Reznor está voltando ao rock and roll neste ano com How to Destroy Angels, que lançará seu primeiro álbum após lançar um EP em 2011. "Faz um ano e meio que estamos trabalhando nisso e experimentando coisas novas. É um contraponto bacana para o trabalho que Atticus e eu fizemos nos dois últimos filmes. É mais baseado em ritmo, mas é meio que um som com informação demais. É uma mistura estranha".
 
Reznor prevê que o álbum será lançado em breve e que o trio poderá fazer algumas apresentações ao vivo para divulgá-lo. Enquanto isso, ele também está planejando voltar para um território musical mais familiar. "Vou compor para o Nine Inch Nails neste ano", diz Reznor, que deu uma pausa no grupo em 2009. 
 
"Não tenho nenhuma meta em particular fora... bem, minha voz como compositor sente que precisa se manifestar ou pelo menos trabalhar um pouco para não atrofiar. Sinto que tenho algo a dizer que parece particular para quem sou no momento, que é quando isso me diz que é hora de fazer algo", ele diz.
 
Reznor pensou em adotar outro novo nome para seu futuro projeto como compositor, mas decidiu que não era preciso. "Por hora, será como Nine Inch Nails. Gosto do desafio de movimentar essa marca, essa identidade, em moldá-la em quem sou agora em vez de quem fui anos atrás, quando a deixei da última vez".
 
É tudo meio hipotético no momento, reconhece Reznor. "Quando me sentar com um caderno e um minigravador, é quando vou decidir minha jogada, e então pode até mesmo nem acontecer". (Tradução: George El Khouri Andolfato)
 
*Gary Graff é jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan