Topo

Mallu Magalhães completa 20 anos e relembra principais fatos da vida artística e pessoal

Mallu Magalhães durante Rock in Rio Lisboa, o seu primeiro grande festival internacional - Felipe Sampaio/Folhapress
Mallu Magalhães durante Rock in Rio Lisboa, o seu primeiro grande festival internacional Imagem: Felipe Sampaio/Folhapress

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

29/08/2012 08h00

Já faz um tempo que Mallu Magalhães cresceu. E que Mallu virou mulher. Desde que deu às caras publicamente, há cinco anos, lançou três discos, clipes diversos, ganhou prêmios, se apresentou em festivais aqui e lá fora, mudou de cidade e casou. Tudo isso antes dos 20 anos de idade, que completa nesta quarta-feira (29).

Exposta aos 15 anos e observada em tempo real desde então, Mallu se manteve sob holofotes discretos, tentando sempre manter a privacidade da Maria Luiza que existe fora dos palcos. Ainda assim, caiu nas graças da mídia, foi transformada em celebridade e virou alvo do mundo da moda, com papeis de garota propaganda no currículo. 

No dia de seu aniversário, Mallu faz um balanço do que passou --e conquistou-- nos últimos anos dedicados à música e às mudanças na vida pessoal. Alguns itens ela dispensa comentários (quando questionada se posaria nua para uma revista), mas por e-mail ao UOL lembra dos primeiros shows, de sua estreia nos grandes palcos e em programas de TV, o namoro, a mudança de cidade, os elogios e também as críticas, que --ela confessa-- poderiam ter feito Mallu desistir da carreira musical.

UOL - Completar 20 anos representa alguma mudança ou responsabilidade diferente para você?

Mallu - Gosto da ideia de fazer 20 anos. Não sinto grande diferença de peso das responsabilidades, talvez por ter tido contato com esse universo adulto e independente desde cedo. Muito pelo contrário, sinto que conquistei muita coisa, me libertei de manias, trabalhei a tolerância comigo mesma e lutei contra tantas angústias. Além disso, consegui construir uma carreira que se solidifica e aponta para mais crescimento. Tenho muito orgulho de mim, mas acho que vou ter de aprender a lidar com o fato de não ter mais a desculpa de "ah, mas eu ainda não tenho nem vinte anos!"

UOL - Em um retrocesso da carreira, o que você lembra sobre ver seu nome circulando pela primeira vez em meio a pessoas desconhecidas e formando um primeiro grupo de fãs?

Mallu - Me lembro de andar no corredor da escola e escutar de alguém "ah, eu vi você na MTV". Fiquei toda cheia de mim! 

UOL - E, então, vieram os festivais. Como foi a sua primeira participação em um destes? A sensação de estar num palco de festival ainda é a mesma hoje em dia?

Mallu - Lembro de um show em Cuiabá (MT), que era parte de um festival independente local. Estava tão quente que eu sentia suor na cabeça e a casa de show estava assustadoramente cheia, de madrugada. O equipamento era precário e meu pai tremia de medo que algo desse errado ali, se houvesse algum incêndio ou algo assim, ou mesmo uma briga na platéia, que já geraria uma tragédia. Filha de um engenheiro mecânico e de uma paisagista, aos 15 anos, a maior multidão que eu havia visto era no supermercado de domingo com promoção de carne. Mas não de madrugada, nem de tantos roqueiros animados. Depois me lembro de um festival enorme, desses de milhares de pessoas, aquela estrutura gigante, poucos meses depois dos festivais independentes. Fiquei impressionada com a qualidade do som: pela primeira vez pude ouvir o que eu cantava e tocava no palco, podia ouvir os instrumentos, e não só uma mistura maluca de bateria, amplificador de guitarra e microfonias! Tomei gosto pela coisa!

UOL - Você já acumulou alguns diversos troféus. O que sente ao ver seu nome relacionado a um prêmio musical?

Mallu - Não gosto dos prêmios que perco e gosto quando ganho. Não gosto da festa, mas gosto da torcida dos fãs.

Essa segurança de ser amada por quem amo traz um relaxamento e, consequentemente, apenas o desejo natural e humano de exibir e comemorar a beleza de estar vivo e poder interagir com os sentidos

Mallu

UOL - Tantas participações em programas de TV depois, é mais fácil, hoje, estar frente às câmeras?

Mallu - Não me lembro da primeira vez, mas acho que foi no Jô Soares. Eu tremia e minhas mãos estavam geladas, mas o corpo suava. Morria de medo, mas gostava de ver todo mundo olhando pra mim e gostando de mim, naturalmente. Porém, eu não tinha qualquer pretensão, objetivo, nenhuma mensagem ou bandeira. Eu estava lá porque gosto de conversar, de tocar meus instrumentos, fazer meus números, fazer as pessoas felizes. Ser eu mesma. Sempre fui intuitiva e suficiente. Nunca precisei ir além disso, apenas aprofundar minha personalidade e conceitos estéticos. Hoje já carrego conceitos, idéias, crenças mais adultas, mais maduras. Hoje eu tenho o sonho da arte, o encanto de ser um tipo de herói dos sentimentais com música e presença.

UOL - E quando saiu para fazer, pela primeira vez, um show seu fora do Brasil? Guarda boas lembranças?

Mallu - Se não me engano foi para o Canadá. Nas viagens internacionais, gostava de ir com minha querida e única irmã, Ana Maria, dois anos mais velha que eu. Nos divertíamos tanto que nem lembro dos shows.

UOL - Como foi lidar com as críticas sobre o trabalho ainda tão nova?

Mallu - Horrível. Por não ter me preparado pra isso, por não ter cogitado ou imaginado ser uma pessoa pública, exposta, comunicativa, eu não considerava essa possibilidade. Talvez se eu tivesse pensado nisso antes, se não tivesse sido tão rápido, intuitivo e despretensioso, eu nem tivesse tentado, nem tivesse colocado as canções na internet.

UOL - Mas também vieram os elogios. Qual a sensação de receber, naquele momento novo, o carinho de gente desconhecida?

Mallu - Achava bonito quem gostava, mas estranhava aquele distanciamento de "artista". Me sentia muito próxima e semelhante àquelas pessoas que iam ver o show.

UOL - E quando você percebeu que havia sido transformada em celebridade?

Mallu - Acho que quando comecei a namorar e saiu no "TV Fama". Claro que se houvesse escolha, escolheria trabalhar apenas com a Mallu, e não com a Maria Luiza. Porém, tenho a impressão de ser um pouco cego, egoísta e burro imaginar que o compositor, o músico, o artista é uma pessoa carismática por inteiro, e não é a toa que sua imagem, sua postura, sua cara e atitudes também sejam uma representação da sua personalidade, logo, de sua existência, de sua estética interior e da arte. Procuro lugares reservados, respondo apenas entrevistas direcionadas a minha parte artística e evito assuntos polêmicos que me parecem íntimos ou sem importância. Mas, quem sou eu pra julgar o que é importante para os outros? Para um cabelereiro, meu cabelo pode ser interessantíssimo, enquanto para um músico, corte de cabelo pode ser uma coisa secundária.

UOL - Você teve receio de assumir publicamente o namoro com Marcelo Camelo?

Mallu - Não assumimos nada. Apenas nunca escondemos. Assim como fazemos com tudo na nossa vida.

UOL - E a saída da casa dos pais, a mudança de São Paulo para o Rio de Janeiro... Como foi lidar com tantas transformação?

Mallu - Me sentia sem energia, mas com uma certa necessidade expansiva, uma gana estranha de rebeldia, mas sem paz interior. Hoje procuro direcionar essa energia para meu trabalho e conquistas de vida, e alimentar a paz em relação a quem sou e me tornei. O que diria sobre esses momentos? Senti a dimensão que meus pais e minha irmã têm em mim. A distância machuca, mas o desentendimento, a não aceitação, a rejeição, o atrito... é cruel. Mas eu sempre fui assim, exagerada. Provavelmente um pequeno estresse básico de adolescente, para mim, certamente seria motivo para enorme crise existencial!

UOL - Sobre a sensualidade explorada, quando você se sentiu à vontade para expor este lado feminino, das danças e dos movimentos nos shows e nos clipes?

Mallu - Acho que quando me senti completa como mulher, como pessoa, como homem, sei lá. Acho que por ter essa sensação de completude amorosa em casa, um relacionamento no qual tenho plena entrega, não sinto necessidade de provar nada a ninguém, não tenho receio do que vão pensar. Essa segurança de ser amada por quem amo traz um relaxamento e, consequentemente, apenas o desejo natural e humano de exibir e comemorar a beleza de estar vivo e poder interagir com os sentidos.