Artista tem que cuidar do seu próprio umbigo, diz cantor da dupla João Bosco e Vinícius
Cuidar do seu próprio umbigo é indispensável para não cair nas armadilhas do mercado sertanejo. É o que defende João Bosco, cantor da dupla João Bosco e Vinícius que lança agora o 8º CD e 4º DVD da carreira. "Quando você começa a cuidar mais do trabalho dos outros do que de seu próprio material, você se perde", reflete ele em entrevista ao UOL.
O novo projeto da dupla, intitulado "A Festa", foi gravado em abril na cidade de Itu (SP), na casa do empresário deles, Euler Coelho. A ideia foi tirada das festas de faculdades norte-americanas que são retratadas em filmes de adolescentes, daquelas realizadas na casa de algum aluno quando os pais viajam.
O trabalho inédito conta com três nomes convidados: Léo Verão, Xandy (do Aviões do Forró) e a dupla Kleo Dibah e Rafael. É o primeiro projeto dos cantores lançado pela Universal Music, gravadora com quem assinaram recentemente.
Pioneiros de um estilo que recebeu o nome de "sertanejo universitário", a dupla teve seu auge com a canção "Chora, Me Liga", em 2009, e passou os últimos três anos entre o desafio de se manter no topo e aprender a conviver com as críticas e a concorrência do mercado sertanejo. Durante o ano de 2011, a dupla foi duramente criticada por lançar um álbum mais pop, com arranjos diferentes do que se ouvia até então. No final do ano, no entanto, o disco ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Sertaneja.
Na conversa com o UOL, João Bosco contou detalhes do combo de CD/DVD "A Festa", defendeu a atual música sertaneja, falou sobre as críticas e comentou a situação de sua dupla nos dias de hoje.
UOL - O mercado sertanejo lança hit atrás de hit, e a qualidade musical tem sido cada vez mais questionada. Como uma dupla já consolidada consegue se manter em meio a correria atrás do sucesso?
João Bosco - O principal de tudo é o artista cuidar do seu próprio umbigo, do seu próprio trabalho. Quando você começa a cuidar mais do trabalho dos outros que do seu, você se perde. A gente vê acontecer muito isso, muito artista mais preocupado com o sucesso do outro do que com a própria carreira. É difícil escapar, a gente também já passou por isso. Tem que ter muito foco, se não a chance de você ficar pra trás é enorme. Além disso, é ter a consciência de que não se pode perder a identidade, mas sem se esquecer que há um mercado que pede por músicas mais populares. É uma questão de achar o equilíbrio. É difícil, nem todo repertório fica 100% bom, mas a busca é sempre pelo melhor, por isso as coisas têm funcionado pelo menos pra gente.
Vocês foram muito criticados por conta do último CD, mas mesmo assim os shows e o faturamento continuaram no alto. Como foi lidar com essa série de críticas?
Quando você acerta uma música como a gente acertou "Chora, Me Liga", você percebe que tem um ditado que é muito real: chegar no sucesso é difícil, mas se manter no sucesso é mais difícil ainda. Quando você está com a música lá no topo, naturalmente as pessoas querem te passar, você vira automaticamente o alvo a ser superado.
As pessoas criticaram o CD por conta dos arranjos, das guitarras, de uma tentativa de inovar. Não foi nada por acaso, foi tudo pensado, fizemos naquele momento o que deveríamos ter feito, tanto é que no final do ano a gente ganhou o Grammy. Não vou te dizer que não houve incômodo, pois claro que houve. É ruim ser criticado. Quem gosta que critiquem seu trabalho? Só que o ser humano se mostra grande justamente na crítica, o poder de superação mostra quem é grande. Depois do sucesso, essa foi a parte mais difícil que a gente passou, não só pelo que diziam do CD, mas pela descrença por parte de algumas pessoas que nós não esperávamos.
E essa sensação ruim passou como?
Passou com trabalho, determinação, foco. Trabalhamos muito no novo projeto, nos dedicamos muito. Cada vez mais a gente percebe que essas são as chaves para a gente prosseguir da melhor forma.
Estamos passando por uma fase em que o sertanejo está sendo criticado como nunca, principalmente pelo próprio meio sertanejo. Como você vê musicalmente o mercado?
A partir do momento em que uma música se torna sucesso é porque o povo escolheu. Se ela se torna popular, eu vou ficar julgando para quê? A gente não grava certas coisas por não combinar com a gente, mas não é por isso que eu vou criticar. Nos shows, a gente canta sucessos que não são da gente, tocamos sucessos atuais, não vemos mal nenhum nisso. Graças a Deus, o sertanejo está tendo cada vez mais espaço e vendo aquele preconceito antigo acabar. Eu prefiro ver por esse lado, e deixar o povo escolher o que quer ouvir ou não.
João Bosco & Vinícius - "Chora, Me Liga" (ao vivo em São Paulo)
Voltando ao DVD, vocês decidiram gravá-lo dentro da casa do empresádio de vocês, o Euler Coelho...
Cara, eu posso te falar que nosso DVD é um tipo de bagunça organizada. Quando a gente fez o projeto, a ideia é que se usasse a casa toda, uns três ou quatro ambientes, mas choveu e ficou um cenário só. O mais legal é que não teve roteiro, então a gente podia fazer o que quisesse, chamar alguém para dançar, brindar e brincar com algum convidado, qualquer coisa. As únicas coisas programadas eram o repertório e a ordem das músicas. De resto, era tudo de improviso, já que todos os presentes ou eram amigos ou familiares.
E o repertório?
Musicalmente, o CD tem muito a cara de João Bosco e Vinícius. Aquela linha romântica que a gente gosta, que marca a gente, com as canções animadas e de festa, coisa que o mercado pede hoje. Como está tudo muito confuso hoje, a gente teve a ideia de compor algumas canções para esse trabalho, justamente para que ele pudesse ter nossa cara mesmo. Isso fez com que o projeto ficasse mais próximo de nós. Nós ouvimos muitas composições para esse trabalho e selecionamos sem pressa. É um retrato muito bom do que é o João Bosco e Vinícius.
Em duas canções do disco --"Tá Sofrendo, Amor" e "Direção ao Sol"-- você faz primeira voz em alguns trechos. É alguma resposta aos que dizem que o segunda voz da dupla geralmente não sabe cantar?
Não, nunca tive isso porque minha segunda voz sempre foi muito aparente, e também não me preocupo se alguém fala algo não. A ideia veio no estúdio mesmo. O tom ficou baixo para o Vinícius, e como eu tenho a voz mais grave, a gente resolveu testar e ficou bom. Não foi para mostrar nada para ninguém, fizemos porque achamos que ficou legal mesmo.
Vocês já estão em estúdio para um novo projeto, só com músicas de raiz. Quando sai?
Estamos gravando um CD de modão, só com clássicos e ao lado dos donos desses clássicos, mas é algo a parte, um projeto especial, é um desejo nosso de muito tempo. Já gravamos com bastante gente, Chitãozinho e Xororó, Matogrosso e Mathias, Felipe e Falcão... ainda não há data definida para lançar, isso não foi conversado ainda. Só sei que o nosso próximo projeto vai ser esse.
E como você vê sua dupla hoje dentro da música sertaneja?
É complicado falar de si mesmo. Eu vejo João Bosco e Vinícius como uma dupla consolidada, mas que ainda tem muita lenha para queimar. Apesar de termos 19 anos de carreira, e fazendo 200 shows por ano nas principais festas do país, ainda tem muita coisa para a gente conquistar. Mantendo o foco e a seriedade no trabalho, a gente sabe que pode conquistar muito mais coisas, e essa é a nossa vontade.
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