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"Rock é música que a geração dos anos 80 sabe fazer", diz Frejat no retorno do Barão Vermelho

A formação atual do Barão Vermelho é Peninha, Rodrigo Santos, Guto Goffi, Roberto Frejat e Fernando Magalhães - Gabriel Wickbold/Divulgação
A formação atual do Barão Vermelho é Peninha, Rodrigo Santos, Guto Goffi, Roberto Frejat e Fernando Magalhães Imagem: Gabriel Wickbold/Divulgação

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

17/10/2012 06h00

Participante ativo da cena musical de onde emergiu uma série de bandas nos anos 80, Roberto Frejat acredita que o rock é uma conquista daquela turma. "É uma música que a nossa geração sabe fazer", defende ele. À frente de um dos principais grupos do gênero daquela década, que apresentou Cazuza ao mundo, Frejat está de volta aos palcos com o Barão Vermelho, após um hiato de cinco anos, para comemorar 30 anos de lançamento do primeiro disco, autointitulado.

O retorno não é definitivo. Batizada de "+1 Dose", a turnê vai ficar na estrada por seis meses, até 21 de março de 2013. "Estamos apenas celebrando uma obra que é bacana", disse Frejat ao UOL. A excursão começa no próximo sábado (20) na Fundição Progresso do Rio de Janeiro. No dia 1º de novembro deve passar por Belo Horizonte e no dia 8 de dezembro desembarca em São Paulo, no Credicard Hall. Outras datas ainda serão anunciadas.

Na estrada, o Barão será Roberto Frejat (guitarra e voz), Guto Goffi (bateria), Peninha (percussão), Rodrigo Santos (baixo) e Fernando Magalhães (guitarra). O tecladista Maurício Barros, integrante da formação original, vai aparecer em alguns shows para participações especiais. O repertório vai relembrar de músicas como "Billy Negão", "Por Você", "Pro Dia Nascer Feliz", "Pense e Dance", além de "Sorte e Azar", última parceria inédita de Cazuza e Frejat, que ficou de fora do álbum de 1982.

Junto com a turnê, o álbum "Barão Vermelho" (1982) vai ganhar nova edição que inclui "Sorte e Azar" e outros dois bônus: a faixa "Nós" e o segundo take de "Por Aí". Produzido originalmente por Ezequiel Neves e Guto Graça Mello, o álbum foi remixado pelos integrantes originais da banda: Guto, Frejat, Maurício e o baixista Dé Palmeira, e chegará às lojas em novembro.

Em conversa por telefone, Frejat contou detalhes da turnê e do relançamento do disco "Barão Vermelho", falou sobre a falta de apoio para um projeto de shows gratuitos, relembrou como eram os anos 80 para a banda e lamentou que o rock brasileiro de hoje não soa como rock.

UOL - Em 2011, o Barão Vermelho completou 30 anos de banda. Por que deixaram as comemorações para os 30 anos de lançamento do primeiro disco em 2012?
Roberto Frejat -
No ano passado eu estava focado no meu show no Rock In Rio, mas quando o Guto (Goffi) me procurou perguntando se a gente voltaria, falei que poderíamos comemorar o disco. O Dé (baixista da formação original) já tinha uma vontade de remixar "Barão Vermelho" (1982), porque na época ficamos frustrados com o som dele.

A nova geração tem uma nova linguagem que não é o rock do jeito que a gente sempre fez. Não tem muita gente que sabe fazer, e eles nem têm essa obrigação. É uma música que a nossa geração, dos anos 80, sabe fazer. Os outros sabem curtir, mas não necessariamente sabem fazer também

Roberto Frejat

O que vocês esperavam?
Quando ouvimos, percebemos que estava muito mal mixado, sem o acabamento final que imaginávamos. Naquela época um artista novo não participava da produção do álbum, e não tinha know-how para fazer um disco de rock. O repertório existia, tínhamos Rita Lee, Raul Seixas, mas o som de rock não existia. Isso é uma conquista da nossa geração, dos anos 80.

E o que esperar do novo som de "Barão Vermelho"?
Quem gosta de rock vai gostar muito mais agora. E quem quer ouvir uma bela canção, tem uma música inédita com a letra do Cazuza que é muito bonita. Nós digitalizamos as fitas que tínhamos do disco e tivemos certeza de que duas músicas ficaram inéditas. Uma era "Nós", que foi a primeira que fiz com Cazuza e que regravamos com arranjos diferentes no disco "Maior Abandonado" (1984). A outra é "Sorte e Azar", que descobrimos duas versões. Em uma delas a voz do Cazuza estava muito boa. Fiquei muito emocionado quando ouvi a gravação. Daí a formação original do Barão foi para o estúdio e gravou uma base, contextualizando o arranjo para os dias de hoje.

UOL - Como "Sorte e Azar" permaneceu inédita por todo esse tempo?
A gente vê motivos bem claros para isso, na verdade. O Ezequeiel (Neves, produtor do disco) queria um trabalho urgente, com muito punch, e essa música era mais uma balada. Como tínhamos restrição de tempo no vinil, ele deixou de fora para priorizar o rock.

UOL - Vocês tiveram apoio da Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, para lançar a música?
Sim, ela nos apoiou. Ficou surpresa porque só foi informada há poucos dias da música, mas ela está feliz e espero que goste dos novos arranjos.


UOL - E a turnê, o que vocês estão preparando para os shows?
No palco temos um cenário e uma iluminação bonita, mas que não serão o centro das atenções. O importante é o nosso repertório e a música que a gente faz. Nossa preocupação é que o tenha um som muito bom, que é uma característica forte do show do Barão Vermelho.

UOL - Todas as músicas do primeiro disco estão no repertório?
Não. Por mais que seja uma comemoração, não vamos colocar todas as músicas para o show não ficar desequilibrado. Claro que vamos privilegiar um pouco mais o primeiro disco, mas o repertório atende a todos os outros álbuns, com pelo menos duas faixas de cada. É um show para qualquer fã do Barão, de qualquer época, até para quem quer conhecer melhor nossa obra, porque está bem representativo. Vamos apresentar o melhor espetáculo que a gente sabe fazer.

UOL - Essa turnê tem apoio da Lei de Incentivo à Cultura?
Saiu uma nota na imprensa dizendo que tínhamos um patrocínio de R$ 8 milhões, e que a Conspiração Filmes estaria produzindo um documentário com um R$ 1 milhão. Não tem nada disso. O que nós tivemos foi uma autorização para captar R$ 8,4 milhões que bancariam uma série de shows gratuitos pelo país. Começamos a preparar um projeto que não deu certo. Seriam 30 shows abertos ao público, em lugares como a Praia do Arpoador (no Rio de Janeiro), mas não captamos nada, só conseguimos a aprovação da lei. Agora é com nossas próprias pernas nas estradas, o patrocínio é do meu bolso e do Barão. Se no decorrer da turnê aparecer algum apoio, já temos aprovação e burocracias resolvidas, mas ainda não apareceu nada.

UOL - Vocês já fizeram duas pausas na banda, e depois dessa turnê vão parar de novo em março. O que os impede de voltar definitivamente?
É uma questão de ter continuidade de uma obra autoral. A gente gravou 15 discos, nem Led Zeppelin nem Beatles fizeram isso. E mesmo os Rolling Stones, que fizeram mais álbuns, não conseguiram fazer todos tão bons assim. Não tem sentido seguir fazendo uma coisa que, em princípio, já foi feita. O Barão parou porque gravamos muitos discos, e não tem mais para fazer. Nosso caso é muito mais uma questão de celebrar uma obra que é bacana.

UOL - E o que você acha do atual rock brasileiro?
O rock que eu ouço e gosto é do Vanguart, da Pitty, do Cachorro Grande. Mas o rock brasileiro de hoje não soa tão rock para mim, tem muita coisa pasteurizada. A nova geração tem uma nova linguagem que não é o rock do jeito que a gente sempre fez. Não tem muita gente que sabe fazer, e eles nem têm essa obrigação. É uma música que a nossa geração, dos anos 80, sabe fazer. Os outros sabem curtir, mas não necessariamente sabem fazer também. Mas a gente tem que fazer mesmo o que sabe fazer, curtir e esperar que gostem. Só não pode levar muito a sério, senão fica sem graça.

UOL - Você acha que é mais fácil ou difícil estar em uma banda de rock hoje em dia?
É difícil porque hoje tudo é muito pulverizado. Tem espaço para todos, mas ao mesmo tempo o espaço não é tão grande assim para ninguém permanecer. Hoje não se vê um artista novo por muito tempo, é muito fugaz, não existe continuidade. Chegamos na era dos 15 minutos de fama, e é frustrante. E muitas vezes nem é por culpa do artista, mas sim dos canais de comunicação, que não consolidam mais da maneira que o rádio e a TV faziam antes. Tem que existir uma filtragem, e naquela época era a indústria fonográfica que fazia. Para o bem e para o mal.
 
RIO DE JANEIRO
Quando: sábado, 20 de outubro, às 23h
Onde: Fundição Progresso - Rua dos Arcos, 24, Lapa, Rio de Janeiro
Quanto: R$ 40 (meia) a R$ 80 (inteira)
Classificação etária: 18 anos em diante
Ingressos: www.fundicaoprogresso.com.br; ou na bilheteria da Fundição Progresso  - de segunda à sexta, das 12h às 14 e das 15h às 20h ou sábados (somente em dias de show) a partir das 12h; Lojas South (Barra Shopping, Ilha Plaza, Nova América, Shopping Tijuca, Plaza Niterói e Méier), Banco de Areia (Rio Sul) e Casa do Atleta (Alcântara e Niterói)
Informaçôes: pelo telefone  (21) 2220-5070 ou pelo emailcontato@fundicaoprogresso.com.br