"Rock é música que a geração dos anos 80 sabe fazer", diz Frejat no retorno do Barão Vermelho
Participante ativo da cena musical de onde emergiu uma série de bandas nos anos 80, Roberto Frejat acredita que o rock é uma conquista daquela turma. "É uma música que a nossa geração sabe fazer", defende ele. À frente de um dos principais grupos do gênero daquela década, que apresentou Cazuza ao mundo, Frejat está de volta aos palcos com o Barão Vermelho, após um hiato de cinco anos, para comemorar 30 anos de lançamento do primeiro disco, autointitulado.
O retorno não é definitivo. Batizada de "+1 Dose", a turnê vai ficar na estrada por seis meses, até 21 de março de 2013. "Estamos apenas celebrando uma obra que é bacana", disse Frejat ao UOL. A excursão começa no próximo sábado (20) na Fundição Progresso do Rio de Janeiro. No dia 1º de novembro deve passar por Belo Horizonte e no dia 8 de dezembro desembarca em São Paulo, no Credicard Hall. Outras datas ainda serão anunciadas.
Na estrada, o Barão será Roberto Frejat (guitarra e voz), Guto Goffi (bateria), Peninha (percussão), Rodrigo Santos (baixo) e Fernando Magalhães (guitarra). O tecladista Maurício Barros, integrante da formação original, vai aparecer em alguns shows para participações especiais. O repertório vai relembrar de músicas como "Billy Negão", "Por Você", "Pro Dia Nascer Feliz", "Pense e Dance", além de "Sorte e Azar", última parceria inédita de Cazuza e Frejat, que ficou de fora do álbum de 1982.
Junto com a turnê, o álbum "Barão Vermelho" (1982) vai ganhar nova edição que inclui "Sorte e Azar" e outros dois bônus: a faixa "Nós" e o segundo take de "Por Aí". Produzido originalmente por Ezequiel Neves e Guto Graça Mello, o álbum foi remixado pelos integrantes originais da banda: Guto, Frejat, Maurício e o baixista Dé Palmeira, e chegará às lojas em novembro.
Em conversa por telefone, Frejat contou detalhes da turnê e do relançamento do disco "Barão Vermelho", falou sobre a falta de apoio para um projeto de shows gratuitos, relembrou como eram os anos 80 para a banda e lamentou que o rock brasileiro de hoje não soa como rock.
UOL - Em 2011, o Barão Vermelho completou 30 anos de banda. Por que deixaram as comemorações para os 30 anos de lançamento do primeiro disco em 2012?
Roberto Frejat - No ano passado eu estava focado no meu show no Rock In Rio, mas quando o Guto (Goffi) me procurou perguntando se a gente voltaria, falei que poderíamos comemorar o disco. O Dé (baixista da formação original) já tinha uma vontade de remixar "Barão Vermelho" (1982), porque na época ficamos frustrados com o som dele.
A nova geração tem uma nova linguagem que não é o rock do jeito que a gente sempre fez. Não tem muita gente que sabe fazer, e eles nem têm essa obrigação. É uma música que a nossa geração, dos anos 80, sabe fazer. Os outros sabem curtir, mas não necessariamente sabem fazer também
Roberto FrejatO que vocês esperavam?
Quando ouvimos, percebemos que estava muito mal mixado, sem o acabamento final que imaginávamos. Naquela época um artista novo não participava da produção do álbum, e não tinha know-how para fazer um disco de rock. O repertório existia, tínhamos Rita Lee, Raul Seixas, mas o som de rock não existia. Isso é uma conquista da nossa geração, dos anos 80.
E o que esperar do novo som de "Barão Vermelho"?
Quem gosta de rock vai gostar muito mais agora. E quem quer ouvir uma bela canção, tem uma música inédita com a letra do Cazuza que é muito bonita. Nós digitalizamos as fitas que tínhamos do disco e tivemos certeza de que duas músicas ficaram inéditas. Uma era "Nós", que foi a primeira que fiz com Cazuza e que regravamos com arranjos diferentes no disco "Maior Abandonado" (1984). A outra é "Sorte e Azar", que descobrimos duas versões. Em uma delas a voz do Cazuza estava muito boa. Fiquei muito emocionado quando ouvi a gravação. Daí a formação original do Barão foi para o estúdio e gravou uma base, contextualizando o arranjo para os dias de hoje.
UOL - Como "Sorte e Azar" permaneceu inédita por todo esse tempo?
A gente vê motivos bem claros para isso, na verdade. O Ezequeiel (Neves, produtor do disco) queria um trabalho urgente, com muito punch, e essa música era mais uma balada. Como tínhamos restrição de tempo no vinil, ele deixou de fora para priorizar o rock.
UOL - Vocês tiveram apoio da Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, para lançar a música?
Sim, ela nos apoiou. Ficou surpresa porque só foi informada há poucos dias da música, mas ela está feliz e espero que goste dos novos arranjos.
UOL - E a turnê, o que vocês estão preparando para os shows?
No palco temos um cenário e uma iluminação bonita, mas que não serão o centro das atenções. O importante é o nosso repertório e a música que a gente faz. Nossa preocupação é que o tenha um som muito bom, que é uma característica forte do show do Barão Vermelho.
UOL - Todas as músicas do primeiro disco estão no repertório?
Não. Por mais que seja uma comemoração, não vamos colocar todas as músicas para o show não ficar desequilibrado. Claro que vamos privilegiar um pouco mais o primeiro disco, mas o repertório atende a todos os outros álbuns, com pelo menos duas faixas de cada. É um show para qualquer fã do Barão, de qualquer época, até para quem quer conhecer melhor nossa obra, porque está bem representativo. Vamos apresentar o melhor espetáculo que a gente sabe fazer.
UOL - Essa turnê tem apoio da Lei de Incentivo à Cultura?
Saiu uma nota na imprensa dizendo que tínhamos um patrocínio de R$ 8 milhões, e que a Conspiração Filmes estaria produzindo um documentário com um R$ 1 milhão. Não tem nada disso. O que nós tivemos foi uma autorização para captar R$ 8,4 milhões que bancariam uma série de shows gratuitos pelo país. Começamos a preparar um projeto que não deu certo. Seriam 30 shows abertos ao público, em lugares como a Praia do Arpoador (no Rio de Janeiro), mas não captamos nada, só conseguimos a aprovação da lei. Agora é com nossas próprias pernas nas estradas, o patrocínio é do meu bolso e do Barão. Se no decorrer da turnê aparecer algum apoio, já temos aprovação e burocracias resolvidas, mas ainda não apareceu nada.
UOL - Vocês já fizeram duas pausas na banda, e depois dessa turnê vão parar de novo em março. O que os impede de voltar definitivamente?
É uma questão de ter continuidade de uma obra autoral. A gente gravou 15 discos, nem Led Zeppelin nem Beatles fizeram isso. E mesmo os Rolling Stones, que fizeram mais álbuns, não conseguiram fazer todos tão bons assim. Não tem sentido seguir fazendo uma coisa que, em princípio, já foi feita. O Barão parou porque gravamos muitos discos, e não tem mais para fazer. Nosso caso é muito mais uma questão de celebrar uma obra que é bacana.
UOL - E o que você acha do atual rock brasileiro?
O rock que eu ouço e gosto é do Vanguart, da Pitty, do Cachorro Grande. Mas o rock brasileiro de hoje não soa tão rock para mim, tem muita coisa pasteurizada. A nova geração tem uma nova linguagem que não é o rock do jeito que a gente sempre fez. Não tem muita gente que sabe fazer, e eles nem têm essa obrigação. É uma música que a nossa geração, dos anos 80, sabe fazer. Os outros sabem curtir, mas não necessariamente sabem fazer também. Mas a gente tem que fazer mesmo o que sabe fazer, curtir e esperar que gostem. Só não pode levar muito a sério, senão fica sem graça.
UOL - Você acha que é mais fácil ou difícil estar em uma banda de rock hoje em dia?
É difícil porque hoje tudo é muito pulverizado. Tem espaço para todos, mas ao mesmo tempo o espaço não é tão grande assim para ninguém permanecer. Hoje não se vê um artista novo por muito tempo, é muito fugaz, não existe continuidade. Chegamos na era dos 15 minutos de fama, e é frustrante. E muitas vezes nem é por culpa do artista, mas sim dos canais de comunicação, que não consolidam mais da maneira que o rádio e a TV faziam antes. Tem que existir uma filtragem, e naquela época era a indústria fonográfica que fazia. Para o bem e para o mal.
Quando: sábado, 20 de outubro, às 23h
Onde: Fundição Progresso - Rua dos Arcos, 24, Lapa, Rio de Janeiro
Quanto: R$ 40 (meia) a R$ 80 (inteira)
Classificação etária: 18 anos em diante
Ingressos: www.fundicaoprogresso.com.br; ou na bilheteria da Fundição Progresso - de segunda à sexta, das 12h às 14 e das 15h às 20h ou sábados (somente em dias de show) a partir das 12h; Lojas South (Barra Shopping, Ilha Plaza, Nova América, Shopping Tijuca, Plaza Niterói e Méier), Banco de Areia (Rio Sul) e Casa do Atleta (Alcântara e Niterói)
Informaçôes: pelo telefone (21) 2220-5070 ou pelo emailcontato@fundicaoprogresso.com.br
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