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Lady Gaga mostra em São Paulo por que seu discurso pró-gay não é ultrapassado

Lady Gaga se apresenta no Rio de Janeiro (9/11/12) - Agnews
Lady Gaga se apresenta no Rio de Janeiro (9/11/12) Imagem: Agnews

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

11/11/2012 23h41

Mesmo com alguns setores vazios, a popstar Lady Gaga chegou a São Paulo com sua "Born This Way Ball Tour" disposta a botar as 50 mil pessoas presentes ao estádio do Morumbi (10 mil a mais que no Rio de Janeiro) para "just dance".

Não apenas, claro. Com o eco de sua legião de "little monsters", apelido com que a cantora chama seus fãs, Gaga como sempre pregou contra o bullying e a favor da igualdade de gêneros por meio de performances eletrizantes como a da faixa título de seu show.

"Born this Way", a canção cuja base musical bebe nas fontes de "Express Yourself" de Madonna, mostra Gaga nascendo de uma vagina inflável. Os fãs deliram, pulam e cantam cada verso a plenos pulmões. Ok. Todo mundo já sabe que Madonna foi pioneira nesse aspecto, mas por  mais que o tema pareça batido, ao ver o público presente ao show é possível entender a importância que a "mother monster" tem para uma geração que ainda hoje sofre com a violência gerada pela intolerância.

Claro que isso tudo tem muito pouco a ver com música. Mas Lady Gaga não é só discurso. O poder de performance da americana se dá quando ela mostra sua superioridade vocal em hits como "Judas", o hino "Bad Romance" e as divertidas "Just Dance" e "Telephone".

Carismática com sua platéia fiel, Gaga conversa, diz que ama São Paulo e elogia a roupa de uma das presentes: "Nice fit, bitch!" ("Bela roupa, vadia!").

No segundo bloco, depois de entrar em cena montada em uma motocicleta cenográfica, com uma bailarina simulando sexo sobre si, Gaga diz que não dá a mínima para o que dizem dela. A fim do discurso, mostra a bunda, já sem grande parte das celulites que se espalharam como viral pela internet.

O público joga presentes no palco o tempo todo, mas ela não se irrita. Senta-se e abre alguns. Ganha um colar, uma pulseira. Depois abre um caixa e lê um bilhete escrito por cinco de seus fãs. Junto a isso, outro colar. Simpática, os convida a visitar o backstage, não sem antes trazer três deles ao palco para acompanhá-la durante a execução de "Hair".

Era tudo que eles queriam. Atenção de seu ídolo e sentir que pelo menos por uma noite eles não são discriminados pelo que são. Que há um território onde ser um "alien" é a regra.

E não parece ser fingimento de popstar. Em meio a toda a confusão de presentes, alguém lhe acerta com outro embrulho na cabeça. O público ensaia uma vaia, mas Gaga, muito fofa, pede que não façam isso. "Eu estou bem."

E segue por seu assombroso castelo arrancando lágrimas no excelente número de rock "You and Ï" e na latina "Americano", em que aparece com seu icônico vestido de carne, pendurada em meio a peças de um açougue.

Quanto à produção do show, é tudo meio kitch, meio caótico. Madonna, com toda sua excelência técnica, não precisa se preocupar. Gaga não é ela mesmo. Só meio parecida. E essa semelhança nem parece ser por plágio, apenas é fruto de um tempo em que ainda se faz necessário defender o direito à diferença.