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Após uma década, Planet Hemp volta a São Paulo com show incendiário

Marcelo D2 e BNegão durante apresentação do Planet Hemp na Estância Alto da Serra, em São Bernardo do Campo - Leonardo Soares/UOL
Marcelo D2 e BNegão durante apresentação do Planet Hemp na Estância Alto da Serra, em São Bernardo do Campo Imagem: Leonardo Soares/UOL

Daniel Solyszko

Do UOL, em São Paulo

16/11/2012 06h03

Imortalizada na canção de Roberto Carlos, as curvas da (velha) estrada de Santos estavam cobertas por um tipo de neblina diferente da usual na madrugada desta sexta-feira (16). De volta aos palcos após uma ausência de quase 10 anos, o Planet Hemp trouxe diversão e muita fumaça para a Estância Alto da Serra, na região de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Habitualmente um reduto de shows sertanejos e outros estilos mais populares, o local aparentava estar um pouco mais vazio do que a apresentação da noite anterior, cujos ingressos se esgotaram. Localizado num lugar de difícil acesso para quem não tem carro, contava com um público composto em grande parte por moradores da região.

Uma seleção musical que misturava reggae e hip hop animou os presentes por mais de duas horas antes do show de abertura. Alguns problemas de som já podiam ser percebidos desde então: apesar de extremamente alto, o áudio tinha pouca definição e estava bastante embolado. A abertura ficou a cargo do rapper Projota, que fez uma apresentação competente, mas que passou quase despercebida.

Por volta das 00h45, com o ambiente já repleto de um cheiro peculiar, os vocalistas Marcelo D2 e BNegão, juntamente com Formigão (baixo), Rafael (guitarra) e Pedro (bateria) subiram ao palco após uma breve introdução do comediante Gil Away. O pontapé inicial foi dado com “Legalize Já”, que causou comoção geral, seguida de “Dig Dig Dig” e diversas outras músicas de “Usuário”, primeiro disco da banda, lançado em 1995.

É interessante notar a diferença entre os shows do Planet Hemp nos anos 90 e em 2012. Se na época pairava uma tensão permanente no ar com ameaças constantes de cancelamento dos shows e policiais realizando revistas minuciosas na plateia, hoje em dia cantar sobre maconha parece algo bem mais corriqueiro. O que antes parecia uma postura militante da banda agora soa apenas como uma simples descrição das atividades de quem fuma demais.

Se as letras talvez perderam um pouco do impacto, em compensação o Planet Hemp é uma banda mais poderosa e segura de si no palco. Embora a plateia já estivesse ganha, os músicos não fizeram por menos e em quase duas horas botaram o lugar abaixo com o repertório dos seus três discos. Tocados em ordem cronológica (cada disco correspondia à um “ato” do show), o repertório passou por clássicos como “Queimando Tudo”, “Nega do Cabelo Duro”, “Adoled (The Ocean)”, “Ex-quadrilha da Fumaça” e “Quem Tem Seda”.

E se antes o som da banda parecia um pouco derivativo demais de grupos como Cypress Hill e Beastie Boys, hoje parece mais fácil perceber o que torna o som deles único: para além dos elementos mais óbvios de hip hop e hardcore, chama atenção os flashes de psicodelia na guitarra e o vocal ragga de BNegão.  O telão era uma atração à parte, misturando imagens de histórias em quadrinhos, filmes antigos de blacksploitation, cenas do Rio de Janeiro e obviamente muita gente fumando a erva natural que “não pode te prejudicar”.

Uma cena de uma entrevista antiga com Chico Science antecipou o final matador, com a já tradicional cover de “Samba Makossa”, da Nação Zumbi, seguida de “Bala Perdida”, uma reprise de “Dig Dig Dig” e “Mantenha o Respeito”, todas do primeiro disco, fechando assim o ciclo da apresentação. O único porém da noite ficou por conta do som da casa, que apesar de alto apresentou diversos problemas, como no caso dos vocais de BNegão, que ocasionalmente sumiam, tal qual fumaça se dissipando no ar.