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Capital Inicial retorna às origens em "Saturno" e diz acreditar em nova boa fase do rock nacional

Flávio Lemos, Yves Passarell, Dinho Ouro Preto e Fê Lemos falam sobre "Saturno", novo disco do Capital Inicial - Leonardo Soares/UOL
Flávio Lemos, Yves Passarell, Dinho Ouro Preto e Fê Lemos falam sobre "Saturno", novo disco do Capital Inicial Imagem: Leonardo Soares/UOL

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

04/12/2012 21h05

Quase 30 anos de estrada parecem não ter pesado sobre os ombros dos integrantes do Capital Inicial. Ao contrário. Em “Saturno”, disco que chega às lojas em 10 de dezembro e já está à venda no iTunes, Dinho Ouro Preto (vocais e guitarra), Flávio Lemos (baixo), Fê Lemos (bateria) e Yves Passarell (guitarra) retornam à sonoridade do início da carreira da banda para mostrar faixas mais pesadas e roqueiras.

Segundo Dinho, o 13º trabalho de estúdio do grupo é uma tentativa deliberada de resgatar a “visceralidade” do início do Capital Inicial.

Divulgação
A gente tem que tomar muito cuidado para não se tornar um burocrata do rock.

Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, sobre os esforços por trás do novo disco, "Saturno"

“Depois de 30 anos tocando juntos, a tendência é a acomodação, a repetição, a autoindulgência. Ou isso ou então viver do passado. A gente tem que tomar muito cuidado para não se tornar um burocrata do rock. ‘Saturno’ é justamente o Capital escapando dessa armadilha”.

O disco sai no lugar de uma gravação ao vivo ou acústica, que era o desejo da gravadora para a comemoração dos 30 anos da banda. Mas a ideia não agradou aos integrantes, que não quiseram juntar-se à leva de efemérides musicais do último ano, que incluiu um tributo à Legião Urbana.  “A gente não queria ser mais um comemorando 30 anos. Acho que envelhece. A gente não tem que comemorar nada. A gente está fazendo disco novo, música nova”, afirma Flávio.

Para a banda, “Saturno” também é uma continuidade natural do trabalho realizado em “Das Kapital” (2010). “Ali, já tínhamos nos dado conta que o Capital perdia nos discos um vigor que tinha nos palcos. E no. ‘Das Kapital’ já existe um esforço de reverter isso, de parecer nos discos o que de fato nós somos”, avalia Dinho.

A gente não queria ser mais um comemorando 30 anos. Acho que envelhece.

Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial, sobre não quererem comemorar os 30 anos da banda

Sobre as mudanças no panorama musical que eles observaram nesses quase 30 anos de carreira, Fê aponta a facilidade com que se consegue gravar um disco em casa hoje em dia, com custo muito baixo. “Aquela coisa de gravar um disco, que era um sonho tão difícil de realizar, hoje qualquer moleque consegue no seu próprio quarto”, diz o baterista. “Por um lado, temos muito mais produtos, muito mais discos à venda. Mas por outro, torna-se muito mais difícil alguém aparecer, justamente porque tem tanta gente buscando um lugar ao sol”.

A banda até vê um momento de crise no rock brasileiro, como apontado por Samuel Rosa e Dado Villa-Lobos em entrevistas ao UOL, mas não acreditam que a culpa seja da mídia, que estaria dando pouco espaço para o gênero.

Aquela coisa de gravar um disco, que era um sonho tão difícil de realizar, hoje qualquer moleque consegue no seu próprio quarto.

Fê Lemos, baterista do Capital Inicial, sobre as mudanças que observaram na cena musical nos 30 anos de carreira

Para Flávio, um dos problemas é que as gravadoras estão investindo menos no lançamento de bandas novas por conta da queda na venda de discos. “Nos anos 1980, teve chance para todo mundo. Hoje não tem mais”, diz. Para Dinho, há também uma queda na qualidade das bandas que surgiram nos últimos anos, que, na opinião do vocalista, preocupam-se mais com a forma do que com o conteúdo. Segundo ele, isso “criou um desinteresse da garotada no rock brasileiro”.

Mas o vocalista é otimista e acredita em uma mudança iminente, sem a necessidade das bandas de rock se renderem a estilos mais populares.

“Eu acho que o rock’n’roll não deveria fazer acordos. Acho que as bandas deveriam ficar na delas, ficar no mundo independente. Foi o que aconteceu com a nossa geração --nós, Legião, Lobão, também éramos independentes e não fazíamos o que estava tocando no rádio. Então, eles não devem aceitar como regra o paradigma de que tem que tocar no rádio. Que é o acordo que algumas das bandas que rolam fazem. Elas parecem chegar a um acordo com o que está tocando no rádio, para ficar um pouco mais digerível, um pouco mais parecido com o sertanejo universitário, com algo mais popular. Acho que o rock deveria ficar na dele, fazendo o que faz, porque o mundo dá voltas. Em algum momento vai surgir alguém que tem uma veia popular, vai surgir um Renato Russo, um Cazuza, e aí estoura. Acho que a gente está vivendo a calma antes da tempestade”, conclui Dinho.

Leonardo Soares/UOL
Eu acho que o rock’n’roll não deveria fazer acordos.

Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, sobre o cenário atual do rock no Brasil

Em março de 2013, o Capital Inicial volta à estrada, já com a turnê do disco novo, e faz shows em São Paulo, Curtiba, Florianópolis e Porto Alegre.

Confira a lista de faixas de "Saturno":

1 - O Bem, o Mal e o Indiferente
2 - Água e Vinho
3 - O Lado Escuro da Lua
4 - Saquear Brasília
5 - Apocalipse Agora
6 - O Cristo Redentor
7 - Saturno
8 - Noites em Branco
9 - Poucas Horas
10 - A Valsa do Inferno
11 - Sol Entre Nuvens
12 - Eu Ouço Vozes (somente para iTunes)
13 - Um Homem Sem Rosto (somente para iTunes)