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Morre Dave Brubeck, pianista e compositor que revolucionou o jazz no fim dos anos 1950

O pianista e compositor de jazz Dave Brubeck em foto de 2009. Brubeck morreu nesta quarta (5), de insuficiência cardíaca - Paul Chiasson/AP Photo/The Canadian Press
O pianista e compositor de jazz Dave Brubeck em foto de 2009. Brubeck morreu nesta quarta (5), de insuficiência cardíaca Imagem: Paul Chiasson/AP Photo/The Canadian Press

Do UOL, em São Paulo*

05/12/2012 16h00Atualizada em 05/12/2012 18h51

O compositor e pianista de jazz Dave Brubeck morreu de insuficiência cardíaca na manhã desta quarta-feira (5), no hospital Norwalk, em Norwalk, Connecticut (EUA). Ele faria 92 anos na quinta-feira.

Russell Gloyd, empresário de Brubeck, afirmou que o músico morreu depois de sofrer um ataque enquanto estava a caminho de uma consulta de cardiologia com seu filho Darius.

Brubeck teve uma carreira que abrangeu praticamente todo o jazz norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial. Ele formou o The Dave Brubeck Quartet em 1951 e foi o primeiro músico de jazz moderno a ser retratado na capa da revista "Time" --em 8 de novembro de 1954. Ele também ajudou a definir o ritmo suingado do jazz dos anos 1950 e 1960.

O álbum seminal "Time Out" --cuja capa apresentava uma pintura do artista Neil Fujita--, lançado pelo quarteto em 1959, foi o primeiro LP de jazz a vender um milhão de cópias e ainda permanece entre os álbuns mais vendidos de todos os tempos do gênero.

O disco apresentava "Take Five", faixa que se tornou a assinatura do grupo, composta pelo saxofonista Paul Desmond, parceiro de longa data de Brubeck. Apesar de não ser a primeira composição a fugir da divisão rítmica mais comum no jazz, de quatro batidas por compasso, a faixa foi a primeira composição na métrica de 5/4 (cinco batidas por compasso) a ganhar relevância mundial, chegando às paradas de singles da Billboard em 1961.

Biografia
Nascido em Concord, Califórnia, em 6 de dezembro de 1920, Brubeck queria se tornar fazendeiro como seu pai. Frequentou o Pacific College (hoje Universidade do Pacífico) em 1938, com a intenção de se formar em medicina veterinária e retornar à propriedade de 45 mil hectares da família.

Thais Aline/AgNews
Com Dave Brubeck, morre o último dos gênios do jazz.

Maestro João Carlos Martins sobre a morte do pianista, aos 91 anos

No entanto, depois de um ano Brubeck já havia sido atraído para a música. Ele se formou em 1942 e foi convocado pelo Exército, servindo na Europa. O músico foi enviado para a França inicialmente como atirador, mas acabou na banda que se apresentava para as tropas depois que um coronel o ouviu tocar piano. Na época, sua Wolfpack Band era a única unidade racialmente integrada nas forças armadas norte-americanas.

Depois de servir na Segunda Guerra Mundial e estudar no Mills College, em Oakland, na Califórnia --onde teve aulas com o célebre compositor francês Darius Milhaud--, Brubeck formou um octeto que incluía Paul Desmond no sax alto e Dave van Kreidt no sax tenor, Cal Tjader na bateria e Bill Smith no clarinete. O grupo tocava composições originais de Brubeck e clássicos de outros compositores, incluindo algumas experiências iniciais em divisões rítmicas pouco comuns. O álbum de estreia do Dave Brubeck Octet foi gravado em 1946.

O grupo evoluiu para o Quarteto, que tocava em faculdades e universidades. Seu primeiro álbum, "Jazz at Oberlin", foi gravado ao vivo no Oberlin College, em Ohio, em 1953.

Dez anos mais tarde, Joe Morello (bateria) e Eugene Wright (baixo) juntaram-se a Brubeck e Desmond para produzir "Time Out".

Nos anos posteriores, o pianista compôs música para óperas, balés e até para uma missa contemporânea.

Em 1988, Brubeck tocou para o líder soviético Mikhail Gorbachev em um jantar promovido pelo então presidente norte-americano, Ronald Reagan, em Moscou.

No final dos anos 1980, o compositor contribuiu com a música para um episódio de uma série de especiais de TV chamada "This Is America, Charlie Brown".

Em 2006, a Universidade de Notre Dame deu a Brubeck a Medalha Laetare, concedida anualmente a um católico "cujo gênio enobreceu as artes e as ciências, ilustrou os ideais da igreja e enriqueceu o patrimônio da humanidade".

O pianista nasceu em uma família presbiteriana, mas se converteu ao catolicismo na vida adulta. Muitas de suas composições tinham temas religiosos.

Com 88 anos, em 2009, Brubeck deu continuidade a uma turnê, apesar de uma infecção viral que ameaçava seu coração e o fez perder um show de abril, na Universidade do Pacífico.

Em junho, porém, ele já estava novamente tocando em Chicago, onde um crítico comparou o lirismo de seu piano à música de Chopin.

Brubeck e sua mulher, Lola, tiveram cinco filhos e uma filha. Quatro de seus filhos --Chris no trombone e baixo elétrico, Dan na bateria, Darius nos teclados e Mateus no violoncelo-- tocaram com a Orquestra Sinfônica de Londres em uma homenagem ao aniversário de 80 anos do músico, em dezembro de 2000.

O pianista --que tinha medo de avião, história confirmada pelo maestro brasileiro João Carlos Martins, seu amigo pessoal-- esteve no Brasil apenas uma vez, em 1978, quando se apresentou com seus filhos em Campinas, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

* Com informações da AP e da Reuters