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Depoimento: repórter do UOL narra o que viu do "triângulo dourado" do show de Madonna

Chiquinha
Imagem: Chiquinha

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

06/12/2012 04h42

São Paulo, estádio do Morumbi, 3 de novembro de 1993. A popstar americana Madonna está no país pela primeira vez para promover seu polêmico álbum "Erotica". Com apenas 17 anos e dependendo financeiramente dos meus pais, tive a sorte de ganhar um ingresso numa promoção de uma marca de cerveja e fui de Curitiba a São Paulo pegando carona com um professor e um colega da escola técnica para ver de perto a cantora, de quem era fã desde então.

Mas o ingresso sorteado era da arquibancada vermelha e meu primeiro contato com Madonna se resumiu a assistir ao "The Girlie Show" de longe, alternando entre as imagens do telão e um binóculo tosco compartilhado com uma fã ao lado, que não parava de gritar: “É a Madonna! Eu tô vendo a Madonna!”

Dezenove anos, um mês e um dia depois, eu finalmente vi a diva de perto. Tudo porque um amigo, cuja companhia desistiu de ir ao show por razões particulares, me ligou dizendo que tinha uma pulseira sobrando e que não conhecia ninguém que a merecesse mais que eu. Com o acessório no braço, pude enfim acessar o "triângulo dourado", local da plateia mais cobiçado pelos fãs de Madonna na turnê "MDNA", que percorre o Brasil desde o último domingo.

Thiago Bernardes/FRAME/Folhapress
Vi o namorado da popstar dependurado sobre minha cabeça tocando tambor em “Give me All your Luvin´” e os pés da diva passando na altura dos meus olhos

Distribuídas por sorteio ou por indicação da própria trupe de Madonna a um seleto grupo de 300 pessoas, as pulseirinhas cor-de-rosa em que se lê "Golden Triangle" dão acesso à área entre o palco principal e as passarelas frontais.

Dali, vi não apenas cada detalhe da performance e cada cristal Swarovski do figurino de Madonna, mas pude sentir o cheiro do incenso que sai do imenso defumador do número de abertura.

Vi também o namorado da popstar dependurado sobre minha cabeça tocando tambor em “Give Me All your Luvin'” e os pés da diva passando na altura dos meus olhos em “Revolver”.

Ouvi os vocais de “Gang Bang” rolando enquanto Madonna lutava para tirar o microfone enroscado em seu bolso de calça e fingia cantar ao vivo.

Também vi, mas quase não ouvi, sua guitarra, cujos acordes soavam tão imperceptíveis que fico na dúvida se o instrumento não era cenográfico.

De perto, pude ainda ver o quanto a cantora engana no número de "slackline" (corda bamba), que só funciona mesmo graças aos esforços do brasileiro Carlos Neto. Em alguns momentos, me envolvi tanto com as performances da trupe que até esquecia de Madonna no palco. Fã há muito tempo, já era hora de desmistificar a popstar.

Eu me empolguei com o coro do público em "Like a Prayer", não com Madonna, ali tão pertinho. Não que ela não faça nada. Em “Girl Gone Wild” e “I'm Addicted”, por exemplo, notei que ela ainda domina nos mínimos detalhes o atlético corpo de 54 anos.

Fato é que, no "triângulo dourado", você também participa do show. Além de ver, esse também é o lugar para ser visto. “Eu vi você no telão! Eu vi você no telão!”. Esta foi a frase que mais ouvi ao encontrar os amigos na saída do show.

James Cimino/UOL
'Eu vi você no telão!' Esta foi a frase que mais ouvi ao encontrar os amigos na saída do show.

Bem mais do que eu, é claro, quem apareceram foram as celebridades e sua entourage inconveniente, que pareciam estar ali mais para tirar fotos e mostrar nas redes sociais do que para assistir à apresentação.

No "triângulo dourado" eu vi Sabrina Sato, vi Narcisa Tamborindeguy... Só não vi os fãs dedicados que conheci dias antes na fila, acampados há mais de um mês, na esperança de conseguir a sonhada pulseirinha. Eles estavam do lado de fora, colados na grade, frustrados, cansados de dormir em barracas e loucos por um olhar que fosse de sua musa inspiradora.