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Em comunicado, família de Chorão diz que não é hora de falar sobre causas da morte

Chorão durante visita surpresa ao estúdio da rádio UOL 89FM, em São Paulo, no dia 28 de fevereiro - Dennys Motta
Chorão durante visita surpresa ao estúdio da rádio UOL 89FM, em São Paulo, no dia 28 de fevereiro Imagem: Dennys Motta

Do UOL, em São Paulo

06/03/2013 21h33

A família do cantor Chorão divulgou um comunicado oficial sobre a morte do vocalista nesta quarta (6) por meio do site oficial do Charlie Brown Jr. e da página da banda no Facebook.

Na mensagem, assinada pela "equipe CBJR", a família afirma que estão "unindo forças para superar a dor" da perda e ressalta que "não é o momento para se manifestar sobre as causas da morte" de Chorão.

Leia o comunicado:

A Família de Alexandre Magno Abrão comunica o seu falecimento na manhã do dia 06 de março de 2013. Estamos unindo nossas forças para superar a dor da lamentável e intempestiva perda.

O nosso saudoso “Chorão”, além do conhecido músico, respeitado pelo mundo artístico, era excelente chefe de família e pai amoroso. Por estas razões sua prematura morte está sendo sentida por todos que o amavam.

Este não é o momento para se manifestar sobre as causas da sua morte. O momento é de dor, lembrança e homenagem à sua condição de homem que se dedicava a proporcionar alegria a todos que com ele convivia.

Agradecemos todas as manifestações de carinho e solidariedade por parte dos amigos, dos seus fãs e dos meios de comunicação.

Equipe CBJR

Morte
Chorão -- batizado de Alexandre Magno Abrão -- foi encontrado morto na madrugada desta quarta (6) em seu apartamento, que fica no oitavo andar de um prédio no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

As circunstâncias da morte estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do Departamento de Homicídios, o motorista e o segurança do músico chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por volta das 4h30 desta quarta.

A equipe de socorro encontrou o corpo do músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O apartamento estava revirado, sujo e havia bastante vestígio de sangue.

Bebidas e pó branco também foram encontrados no local, mas o delegado não confirmou se era droga.

Em imagens feitas durante a perícia da Polícia no apartamento de Chorão, às quais o UOL teve acesso, o corpo do músico estava cercado por lascas que aparentam ser parte do enchimento de um saco de pancadas de boxe.

A lateral do abdome do corpo apresentava hematomas, e metade do rosto estava deteriorada e coberta por sangue. O dedo mínimo da mão direita também aparentava estar quebrado. No balcão da cozinha, próximo ao corpo, havia uma pequena quantidade de pó branco em cima de um catálogo de filme pornô, ao lado de um canudo feito com uma folha de cheque.

O exame toxicológico, que vai apontar se havia cocaína ou outras substâncias no organismo de Chorão, será divulgado em duas semanas. Itagiba revelou ainda que foram encontrados, na casa, frascos do ansiolítico Lexotan e uma pasta de dentes usada para adormecer a gengiva --Chorão costumava morder a boca quando estava ansioso.

De acordo com Itagiba, Chorão estava morto desde, pelo menos, o meio-dia de terça-feira. O delegado contou que, na última semana, Chorão se hospedou em quatro hotéis diferentes da capital paulista. Na última hospedagem, ele se desentendeu com funcionários do local.

O delegado afirmou ainda que Chorão acreditava que estava sendo perseguido. "Ele chegava em casa quebrando tudo, por isso a bagunça [no apartamento]”.

Para o delegado, a hipótese de suicídio deve ser descartada. "Chorão tinha planos, não tinha esse perfil", contou o delegado. Ele acredita que o caso foi uma fatalidade e relacionar com overdose de drogas, neste momento, também seria "leviano".

De acordo com uma amiga da família de Chorão, ele vivia uma "forte recaída" no vício em cocaína e teria se negado a procurar tratamento contra a dependência. Segundo a fonte ouvida pelo UOL, o cantor era viciado em cocaína há anos e intercalava períodos de sobriedade com recaídas.

Velório e enterro

Sob aplausos calorosos dos fãs, o corpo do cantor Chorão chegou na Arena Santos em uma limusine branca, às 21h52 desta quarta, para ser velado. O corpo saiu do IML de São Paulo às 16h57. Por causa de um comboio na rodovia dos Imigrantes provocado por uma forte neblina e chuva, a chegada do corpo do vocalista do Charlie Brown Jr., que estava marcada para às 20h, se atrasou.

Na Arena Santos os fãs faziam fila para se despedir desde a tarde desta quarta. O espaço tem capacidade para 5 mil pessoas, segundo informações da Prefeitura de Santos, e a cerimônia será aberta ao público até as 15h de quinta.

De acordo com informações da empresária do grupo Charlie Brown Jr., Samantha Jesus, o sepultamento vai acontecer nesta quinta, às 17h, no Cemitério Memorial, em Santos. 

O corpo do cantor Chorão foi vestido para o velório com um calça bege e camisa preta com símbolo da banda Charlie Brown Jr., da qual era vocalista. Quem escolheu a roupa para a celebração foi o irmão do cantor, Ricardo Abrão.

O desejo do cantor de ter o corpo cremado só poderá ser realizado após liberação pela polícia. A mãe do cantor, que sofreu um AVC recentemente, ainda não sabe da morte porque não encontraram maneira de informá-la.

Enquanto familiares esperavam a liberação do corpo de Chorão no IML de São Paulo, sua ex-mulher, Graziela Gonçalves, e o irmão do cantor, Ricardo Abrão, discutiram e chegaram a trocar empurrões.


Biografia

Chorão formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. A banda estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6 abril, em São Paulo também já estava marcado. Em nota, a produtora de SP disse que divulgará em breve informações sobre o reembolso.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e entre outros músicos, como a briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além de músicas, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

Casado há 15 anos com a estilista Graziela Gonçalves, Chorão havia se separado dela em meados de novembro de 2012, mas o casal ainda não tinham oficializado o divórcio. Ele deixa um filho, Alexandre, de 23 anos, fruto da relação com sua primeira mulher, Thais Lima.

Repercussão

Ao saber da morte de Chorão, amigos e colegas do universo musical lembraram de seus últimos contatos com ele, sempre destacando sua personalidade explosiva e obstinada. Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., disse que, apesar das desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A gente tinha uma relação profissional. Apesar das muitas brigas, éramos amigos há mais de 20 anos", falou.

"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem por dentro, tinha essa rebeldia que o cara novo gosta", destacou o produtor Rick Bonadio, que lançou o álbum de estreia do Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a falar com o músico recentemente para mostrar novas faixas.

O jornalista José Julio Espírito Santo, que trabalhava na gravadora Virgin na época do primeiro disco, lembrou que, apesar de ser "uma pessoa muito amável em certos momentos", o músico parecia sofrer de "um transtorno bipolar sério, e que talvez nunca tenha tratado". "Ele tinha uma relação de amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído disso e ele sempre se fechava na minha sala para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir uns discos."

Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser verdadeiro, amava música e sabia o que queria. Era preciso ter sensibilidade para entender o jeito dele".

Uma das últimas pessoas a ter contato com Chorão, o radialista Tatola, da UOL 89 FM, recebeu uma visita surpresa do cantor no dia 28 de fevereiro, nos estúdios da rádio paulistana. Durante o programa "Quem Não Faz, Toma", o cantor levou uma música inédita, intitulada "Meu Novo Mundo".

O cantor permaneceu por cerca de duas horas na emissora, junto de seu filho, Alexandre, de 23 anos, fruto do relacionamento com Thais Lima. Fora do ar, chegou a afirmar que estava muito abalado por causa da separação da última mulher, Graziela Gonçalves, e que estava retomando o apartamento em São Paulo. "O apartamento estava bagunçado porque ele estava reformando e vivia fazendo festas. Não tinha nada de briga. Ele estava triste e se enfiou onde não devia se enfiar."

Pelas redes sociais, diversas personalidades lamentaram a morte de Chorão, entre elas o apresentador Luciano Huck, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, a apresentadora Ana Hickmann e os ídolos da torcida do Santos Neymar e Robinho.