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"O Chorão foi responsável pela grande oportunidade da minha vida", diz Negra Li

A cantora Negra Li  - J.R. Duran/Divulgação
A cantora Negra Li Imagem: J.R. Duran/Divulgação

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

06/03/2013 12h10

Bastante emocionada, a cantora Negra Li lamentou a morte de Chorão e, ao UOL, disse que ele foi responsável pela “oportunidade de sua vida”.

“Foi ele que me apadrinhou na carreira musical, que deu a grande oportunidade da minha vida. A mulher [Graziela Gonçalves] dele me deu várias roupas no início, que guardo até hoje. O Chorão era uma pessoa generosa. Gostava de ajudar quem estava começando. Não importava se era músico, skatista, ator... Ele sempre foi muito doce, muito respeitoso comigo”, contou a artista, que começou cantando hip hop.

Chorão e Negra Li se conheceram em meados de 2000, quando o músico foi assistir uma apresentação do grupo de rap RZO. “Ele conversou com todos os integrantes do grupo e logo depois participamos de um show dele”, relembrou Li.

Em 2003, Negra Li participou da gravação do álbum acústico do Charlie Brown Jr. “Ontem mesmo fiz um show e cantei ‘Não É Sério’”, contou a cantora, que participou de um dos hits de maiores sucessos da banda.

“Queria ter retribuindo o carinho dele, ter chamando-o para participar de um álbum meu, falar sobre Deus... Fiquei refletindo sobre isso. A última que nós falamos foi há dois anos, quando ele me ligou para falar sobre cinema. Ele se preocupava com a carreira artística dos amigos”.

Negra Li não sabia que o músico e a estilista Graziela Gonçalves estavam separados e se surpreendeu com os boatos. “Ele gostava muito da Graziela, falava dela de uma forma apaixonada, dizia que era a mulher da vida dele, compunha musicas para ela. Ele deveria estar depressivo por conta da separação”. 

Responsável por lançar a banda Charlie Brown Jr no mercado, o produtor musical Rick Bonadio lamentou a morte de Chorão e, ao UOL, ele disse que o cantor era um cara irreverente. "Chorão era um cara diferenciado, ele conseguia falar diretamente com a molequeada. Era um cara jovem por dentro, tinha essa rebeldia que o cara novo gosta".

Chorão pretendia lançar algumas músicas e deveria ser encontrar com Rick nas próximas semanas. "Há três meses nos falamos e ele queria minha opinião sobre umas canções novas. A gente ia se encontrar esse mês".

Ao longo de cerca de 20 anos de trajetória, o grupo vendeu mais de 5 milhões de discos. Em 2009, a banda ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

Morte

As causas da morte de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., ainda estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), mas segundo informações da apresentadora Sonia Abrão, prima do cantor, ele estava em depressão por causa de problemas pessoais envolvendo divórcio da mulher, a estilista Graziela Gonçalves. Chorão deixa o filho Alexandre, de 23 anos.

"Sabia que o Chorão estava mal por conta do divórcio com a Graziela. Ele era confuso, mas gostava muito dela", comentou Bonadio. Chorão e a mulher se separaram em meados de novembro do ano passado.

Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do Departamento de Homicídios, paramédicos encontraram o músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O apartamento que fica no oitavo andar estava revirado, sujo e havia bastante vestígio de sangue.

O cantor pode ter sido vítima de overdose. "Acreditamos na hipótese de overdose por conta das evidências que tinham no local. Foi encontrado um pó branco no e achamos que seja cocaína, mas só o laudo dirá”, disse o delegado Gilmar Contrera, do 14° Distrito Policial de São Paulo, à reportagem.

Chorão foi encontrado morto no final da madrugada desta quarta-feira (6), no apartamento onde morava em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. O corpo foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) para fazer autópsia e o laudo deve sair em 30 dias. O velório será realizado no Ginásio Arena Santos.

Biografia

Chorão formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. O grupo estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e entre outros músicos, como a briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além de músicas, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

"O Chorão era intenso, polêmico, muito especial. Ele tinha uma atitude rock and roll. Era polêmico por ser verdadeiro, amava música e sabia o que queria. Era preciso ter sensibilidade para entender o jeito dele", afirmou o diretor Johnny Araújo.