Topo

Elton John testa novo Mineirão para shows e mostra que é o craque do rock de arena

Thiago Pereira

Do UOL, em Belo Horizonte

10/03/2013 08h13

De futebol, Elton John entende. Gosta tanto do esporte que já foi presidente de um time, o Watford --hoje na segunda divisão inglesa, mas com chances de subir. A grande questão deste sábado (9) era saber se um dos principais palcos do esporte no Brasil, o Mineirão, em Belo Horizonte, iria entender a grandeza do show do pianista britânico.

O Mineirão hoje não é o mesmo que foi inaugurado em setembro de 1965. Depois de uma longa reforma para a Copa do Mundo de 2014, o estádio é novidade para boa parte do público que estava presente no show. Esteticamente, a aprovação foi geral: a área que antes servia de estacionamento foi substituída por uma esplanada, carinhosamente chamada de "cimentão" pelos frequentadores, e foi a porta de entrada para o público --estimado em 40 mil ingressos vendidos, mas que dentro do estádio, visivelmente, foi inferior a isso. Um público de oitavas de final.

Se sua reinauguração para o futebol no último dia 3 de fevereiro foi caótica, em um jogo entre Cruzeiro e Atlético, o evento desta noite manteve alguns problemas: três horas antes do show boa parte dos banheiros externos estavam abertos, mas eram usados de forma mista, por homens e mulheres, sem sabonete, papel e água. Nos bares internos faltou alimentação durante os momentos finais do show, e houve reclamações sobre o som que chegava nas arquibancadas.

O maior problema apontado pelo público, no entanto, foram as filas para entrar. Marcos Ribas, de 42 anos, veio de Itabira, no interior do estado, e reclamou da demora para abrir os portões. "Chegamos às 18h30 e o portão só abriu às 20h", contou ele, que estava acompanhado de um grupo de sete pessoas. Normando Marcos, 57, fã do músico desde os anos 70, fez coro sobre a espera na fila. "O estádio está belíssimo por fora, mas estou há mais de uma hora esperando para entrar". Ana Maria Salomão, 63, lamentou a desorganização na entrada, justificando com várias pessoas furando filas.

Mas pontos positivos também foram notados. Quem escolheu ir na pista comum --mais vazia, ao contrário da arquibancada e das cadeiras especiais-- enfrentou menos tempo na fila, como Patrícia Ferreira, 33, que às 20h30 já estava colada na grade. O novo estacionamento estava bem sinalizado e com vagas disponíveis, e existiam elevadores e acessos para cadeirantes.

Um clássico no palco dos clássicos

Hoje, às vésperas de seu aniversário de 70 anos, Elton John é um clássico. Nada mais adequado do que cruzeirenses, atleticanos e americanos o receberem pela primeira vez em Belo Horizonte no palco do Mineirão. O show começou na hora marcada com "The Bitch is Back". Na primeira e inspirada seqüência, ele elevou a temperatura do estádio com pérolas como "Benny And The Jets", "Levon" e "Tiny Dancer" --esta última simpaticamente dedicada a uma fã aniversariante na platéia.

Provou que sua banda de apoio realmente serve como ajuda apenas: o show é dele, mestre no piano e cantando impressionantemente bem. Elton John emendou sucessos sem pausa: das agitadas "Philadelphia Freedom" e "Hey Ahab" até suas baladas, notadamente a preferência do público, como "Candle In The Wind", "Goodbye Yellow Brick Road", " I Guesse That's Why They Call It The Blues" e "The One", sintomaticamente seu único momento sozinho no palco.

Elton John é um dos maiores craques do chamado rock de arena. A figura do artista, fantasiado e sentado ao piano, de frente a milhares de pessoas, é seguramente um dos cartões postais da década. É irresistível traçar paralelos entre a música da época e a trajetória pessoal do músico: um garoto tímido e talentoso de Pinner, na Inglaterra, que se mudou para Los Angeles e alcançou um sucesso sem precedentes.

Ele sucumbiu a todos os excessos da época, mas sobreviveu ao vício da cocaína, às orgias gastronômicas e sexuais, ao mercado pop cruel e novidadeiro. A partir dos anos 90 ressurgiu condecorado como Sir pela realeza inglesa e como mestre absoluto e reconhecido pelo público. Culpa de bons trabalhos, boas ações e de seu repertório que não parece envelhecer ou cansar.