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"Paulo Vanzolini foi o compositor com a cara de São Paulo", diz Martinho da Vila; veja repercussão

Do UOL, em São Paulo

29/04/2013 09h15

Embora tenha sido doutor em biologia e dedicado sua vida a zoologia de répteis e anfíbios, Paulo Vanzolini, que morreu aos 89 anos às 23h35 de domingo (28), em São Paulo, entrou para rol dos maiores compositores da música brasileira com sambas clássicos, como "Ronda", "Praça Clóvis", "Volta por Cima" e "Na Boca da Noite".

Nesta segunda-feira, músicos de várias gerações lamentaram a morte do compositor. Martinho da Vila afirmou que Paulo Vanzolini foi ?ao lado de Adoniran Barbosa, um dos compositores com a cara de São Paulo?.

O contato com o compositor, segundo o cantor revelou ao UOL, acontecia sempre no "período da boêmia" de Vanzolini. "Ele tirava alguns meses do ano para ele cuidar da parte da ciência, tirava alguns meses para dar aula na universidade, e tirava outro meses só para boêmia".

O sambista Paulinho da Viola, que chegou a gravar "Bandeira de Guerra", também disse que a morte do compositor é uma perda para São Paulo: ?A ciência perdeu, o samba perdeu, São Paulo perdeu,  enfim , todos nós perdemos uma figura humana muito especial?.

A cantora Virgínia Rosa gravou um disco de composições inéditas de Vanzolini em 1987 - que virou artigo raro - e fez uma série de apresentações especiais só com o repertório do compositor. Ela conta que o cientista dizia não gostar de cantoras.

"No início até pensei: 'nossa, ele é exigente'. Mas essa figura crítica, que dizia não gostar de gente, tinha uma sensibilidade na hora de compor, que vinha da experiência em observar o ser humano, aquela coisa da boêmia. Ele dizia: 'eu particularmente não gosto muito de cantoras, mas gosto de você, gosto do seu tom de voz'", contou ao UOL.

O rapper Emicida também ressaltou as facetas de Vanzolini: "O samba da cidade cinza fica mais triste nesta noite, esteja em paz professor/doutor/mestre Paulo Vanzolini".

Pelo Twitter, o locutor esportivo Silvio Luiz afirmou que ele e sua mulher, a cantora Márcia, perderam "um amigo". Márcia foi uma das estrelas da MPB a gravar "Ronda" e eternizou a canção com sua versão na década de 1970.

O samba-canção "Ronda" foi gravado por Inezita Barroso em agosto de 1953, sete anos depois da criação. Vanzolini, porém, dizia que a música não era a sua favorita. "Eu tenho muita dívida com a cidade de São Paulo. É um absurdo como gostam de 'Ronda', mas gostam", afirmou o compositor.

A música também foi lembrada por Gilberto Gil. Em sua página no Facebook, ele postou um vídeo da interpretação de João Gilberto para a canção.

Martinho da Vila
"Ele era um intelectual, cientista, professor, boêmio. Uma mistura fantástica. É, ao lado de Adoniran Barbosa, um dos compositores com a cara de São Paulo. Ele falava como os paulistas falam. Conheci o Paulo no começo da carreira e gravei dele 'Cravo Branco' e 'Volta por Cima'. A gente se encontrava algumas vezes, no período boêmio dele. Ele tirava alguns meses do ano para ele cuidar da parte da ciência, tirava alguns meses para dar aula na universidade, e tirava outro meses só para boemia".

Paulinho da Viola
"A ciência perdeu, o samba perdeu, São Paulo perdeu,  enfim , todos nós perdemos uma figura humana muito especial".

Virgínia Rosa
"Ele tinha uma personalidade forte, era um pouco ranzinza, mas tinha muito humor, era sarcástico. No início até pensei: "nossa, ele é exigente". Mas essa figura crítica, que dizia não gostar de gente, tinha uma sensibilidade na hora de compor, que vinha da experiência em observar o ser humano, aquela coisa da boêmia. Ele dizia: "eu particularmente não gosto muito de cantoras, mas gosto de você, gosto do seu tom de voz?. Era um cara muito autêntico e tinha esse dom da composição, peculiar dos sambas de São Paulo, parecido com o Adoniran, completamente diferente de outros lugares. É um tipo de composição que observa a essência do ser humano, da vida, dos amores e dos desamores. É uma perda muito grande, um querido que se foi?.