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Busca de Beyoncé pela imagem perfeita ameaça futuro da fotografia de shows, dizem profissionais

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

16/05/2013 16h19

Beyoncé deve estar feliz com sua nova turnê mundial: shows lotados, fãs súditos aos seus pés e fotos perfeitas circulando na mídia, sempre previamente aprovadas por ela e sua equipe. Nos bastidores, porém, o clima com fotógrafos e veículos de imprensa é outro, depois que a equipe da cantora vetou a presença de fotógrafos profissionais nas apresentações.

Para Mickey Osterreicher, conselheiro geral da NPPA (National Press Photographers Association), associação dos fotógrafos da mídia nos Estados Unidos, é preciso que a categoria tome posição quanto ao caso pelo próprio bem da liberdade de imprensa. "Quando se publica ou transmite este tipo de imagem [controlada] abandona-se as responsabilidades de serviço público e torna-se cúmplice nessa viagem ladeira abaixo e escorregadia em que a reportagem independente torna-se irrelevante", disse ele ao UOL.

Mickey lidera no país norte-americano os protestos cada vez mais ruidosos contra a decisão de Beyoncé. Nesta semana, ele enviou uma carta ao agente da cantora, assinada por 19 organizações, entre elas os jornais "Los Angeles Times" e "The New York Daily News". "Essa proibição resultou na postagem de montagens de Beyoncé intencionalmente criadas que têm sido bem mais ?desfavoráveis? que as originais(...) Acabar com a proibição vai resultar na publicação de fotografias mais justas, objetivamente e mutuamente benéficas para seus interesses e para os nossos", diz a carta.

 

Beyoncé no Brasil

Divulgação
O UOL apurou que a produção do Rock in Rio, que vai receber um show de Beyoncé em setembro, está atenta à polêmica e que já procurou os agentes da cantora para conversar sobre o assunto. Por ora, não há qualquer restrição aos fotógrafos no contrato assinado. Questionada pela reportagem, a assessoria do festival afirmou que não tem informações sobre o assunto. Inácio Teixeira, presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo (ARFOC-SP), ao ficar sabendo do caso nos EUA, afirmou que quer mandar uma carta semelhante para Beyoncé e sua equipe. "Queremos que eles venham ao Brasil com outra posição".

Fotos desfavoráveis
A palavra "desfavorável" (do inglês "unflattering") foi usada propositalmente na mensagem. Foi assim que a produtora e assessora da cantora, Yvette Noel-Schure, classificou as fotos da apresentação de Beyoncé no intervalo do evento esportivo Super Bowl, em fevereiro deste ano, postadas no site Buzzfeed.

"Há algumas fotos desfavoráveis em sua lista que nós respeitosamente pedimos para que sejam trocadas. Estou certa que você conseguirá encontrar boas fotos", teria dito Yvette em suposto e-mail divulgado pelo site.

As imagens, em sua maior parte clicadas por profissionais especialistas em eventos esportivos, mostram Beyoncé fazendo caretas, com posições anatomicamente desajeitadas e com muito suor --assim como os jogadores de futebol americano costumam ser fotografados. O pedido de Yvette foi ignorado.

Em abril, com a estreia da turnê "The Mrs. Carter Show" em Belgrado, na Sérvia, a equipe da cantora divulgou um comunicado com diretrizes rigorosas para a cobertura: "Não haverá credenciais para foto para esse show. Imprensa local, incluindo jornais e online, vão receber um link para o download das fotos de cada show". A reação foi imediata. Entre os protestos, um fotógrafo avisou no Facebook: "Se preparem, esse é o futuro da fotografia de shows".

Com seu próprio fotógrafo a tiracolo, a cantora e sua equipe agora selecionam as fotos antes de divulgá-las. E "voilá": nenhuma careta, nenhum fio de cabelo fora do lugar e sempre a mesma Beyoncé bela e sexy das capas de discos.


Proibidões
Em 2011, Lady Gaga exigiu que os fotógrafos assinassem um documento afirmando que os direitos das imagens seriam de sua propriedade. Já o cantor e compositor Bob Dylan, tradicionalmente avesso à imprensa, também não liberou credenciais aos profissionais da área em seus últimos shows --incluindo sua passagem pelo Brasil em 2012.

"A proibição de foto é uma coisa, mas parece que Beyoncé deseja ter seu bolo e comê-lo. Ela ainda quer a cobertura fotográfica, mas só quer liberar imagens de sua própria escolha?, rebate Mickey. "Nós vemos isso como o início de uma nova tendência em que celebridades, equipes esportivas e políticos estão tentando exercer um controle completo sobre suas imagens e mensagens".

Por outro lado, nem todos os profissionais da área concordam com a associação. A fotógrafa Christie Goodwin, especialista em shows, também não gosta da proibição, mas defende que há outros artistas que banem fotógrafos por razões menos legítimas que Beyoncé. "Se uma foto minha como aquelas surgir na internet, eu fecharia a porta, as cortinas e nadaria para baixo das cobertas. Ela (Beyoncé) não fez isso. Eu concordo que ela pode decidir o que quiser nas suas apresentações. São as regras dela".

Com experiência em agências internacionais e shows, Inácio Teixeira, presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo, disse que ações semelhantes acontecem há tempos e relembra quando Michael Jackson se apresentou em São Paulo, em 1992: "Éramos proibidos de usar lentes acima de 200mm. Isso acontece há tempos com popstars. São artistas que desrespeitam o profissional. Somos nós que divulgamos a cara deles para o mundo". 

Enquanto a proibição continua, Beyoncé permanece como alvo de brincadeiras nas redes sociais. A mais recente é o engraçado tumblr "Beyoncé Art History", que posta trechos de sua música com uma obra de arte de fundo.