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Chris Cornell vai de Michael Jackson a John Lennon em show solo em SP

Mário Barra

Do UOL, em São Paulo

14/06/2013 05h16

O cantor Chris Cornell, vocalista do Soundgarden, apresentou na noite de quinta-feira (13) em São Paulo um show acústico dentro de um festival dedicado ao blues. No repertório, um conjunto de músicas das bandas de que participou em sua carreira e versões de possíveis heróis de infância como Led Zeppelin, Michael Jackson e John Lennon.

Destoante do resto das atrações do Best of Blues Festival, que contou com lendas do blues como Buddy Guy e John Mayall durante três dias na capital paulista, Cornell subiu ao palco às 23h07, sem músicos para acompanhá-lo. Em vez de pessoas, um conjunto de violões o cercavam. "Todas eles já sofreram um pouco", brincou o cantor a certa altura do show ao explicá-los.

Para abrir a apresentação, Cornell escolheu "Scar On The Sky", faixa do álbum "Carry On" (2007), o segundo da carreira solo do norte-americano. A plateia não esteve completamente cheia em nenhum dos shows anteriores, e continha rostos diferentes por conta do choque entre o blues das apresentações passadas e o som calmo e contemplativo do artista. Mesmo assim, no meio da calmaria inicial do show, alguns fãs arriscaram assobios e pedidos de músicas a Cornell já a partir da segunda da noite -- uma raridade em shows do cantor: "Two Drink Mininum", do álbum "Scream", de 2009.

A primeira surpresa para os menos familiarizados com a carreira solo de Cornell veio quando o cantor explicou como o hit "Billie Jean", de Michael Jackson, tinha uma letra interessante. Em seguida, ele mostrou a sua interpretação da faixa, totalmente despida do ritmo dançante e reconstruída somente com o som do violão e a voz poderosa do músico. A canção também faz parte do repertório do segundo disco solo do artista.

A sessão de flashback da carreira de Cornell no comando de suas três bandas mais famosas começou com "I Am The Highway", música do Audioslave, grupo que o cantor formou com três integrantes do Rage Against The Machine em 2000 -- incluindo Brad Wilk, que gravou recentemente o álbum "13", do Black Sabbath.

Mas o ponto alto do show surgiu no miolo, especialmente durante as músicas mais famosas ligadas à memória artística de Cornell: "Black Hole Sun", maior sucesso do Soundgarden, e "Hunger Strike", faixa mais conhecida do Temple of the Dog, projeto que contou com a participação do cantor e de músicos do Pearl Jam na década de 1990. Esta última foi aplaudida de pé pelos fãs.

De volta ao covers, Cornell mostrou sua versão calma para "Thank You", originalmente gravada pelo Led Zeppelin. Durante todo o tempo, o público reagia à versatilidade da voz do músico, que compensa o desnível com o violão na comparação com os virtuosos "blueseiros" do festival. Não que o norte-americano não tenha habilidade com o instrumento, mas a qualidade como cantor o destaca até mesmo ao ser comparado com outros vocalistas de sua seara como Eddie Vedder e Layne Staley, todos ligados ao grunge na década de 1990.

Bem-humorado, o cantor conversou bastante com a plateia e provocou a equipe de iluminação ao chiar sobre o fato de não poder enxergar o público por conta da luz forte em seu rosto. Como resposta, a produção do evento diminuiu a intensidade das luzes.

Pouco antes do fim da apresentação, Cornell quebrou a ordem imposta pelas cadeiras no local -- que destoavam do jeito despojado com o qual o músico compareceu ao palco, apenas de camiseta branca e jeans -- e convocou o público a se aproximar. Foi quando ele apresentou mais três músicas famosas do Audioslave: "Like a Stone", "Doesn't Remind Me" e "Be Yourself". Para encerrar, o cantor apresentou sua versão de "Imagine", clássico de John Lennon sobre a possibilidade de paz entre as pessoas.

Shows anteriores
A norte-americana Shemekia Copeland abriu a terceira e última noite de apresentações no Best of Blues Festival, realizado em um centro de convenções na zona sul da capital paulista. Bastante confortável e sorridente, a cantora mostrou o seu repertório, marcado pela ligação da artista com a religião -- seja para criticar ou para enaltecer. Exemplos que conquistaram a plateia foram "Somebody's Else Jesus", "Ghetto Child" e "Never Going Back to Memphis".

Empolgada, Shemekia dedicou música para seu pai e convocou as mulheres a se sentirem poderosas ao proferir, antes de uma das faixas do show: "Que vocês hoje fiquem peladas na frente dos seus maridos e digam a eles que vocês são as mulheres mais lindas do mundo!". A cantora conquistou a maior resposta do público da noite, que a aplaudiu em pé e de forma entusiasmada quando ela demonstrou ser capaz de se fazer ouvir mesmo sem cantar ao microfone.

A segunda apresentação da noite foi da lenda do blues britânico John Mayall, sempre acompanhado pela banda Bluesbreakers -- que já contou com a dupla virtuosa Jack Bruce e Eric Clapton, do Cream. Presente no círculo de artistas que estiveram em contato com Jimi Hendrix no final da década de 1960, o músico se apresentou durante o momento em que o local esteve mais cheio em toda a noite. A plateia gostou das performances dos integrantes da banda, especialmente o versátil baixista Greg Rzab, que chegou a ser tietado ao término do evento.