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Megalomaníaco, Kanye West volta como "Deus" em disco minimalista

Kanye West fez um disco cru, cheio de elementos de dub-step e eletrônico industrial - AP
Kanye West fez um disco cru, cheio de elementos de dub-step e eletrônico industrial Imagem: AP

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

20/06/2013 16h36

“A temporada do Yeezy está se aproximando / F***-se tudo o que vocês têm ouvido”, avisa Kanye West na música “On Sight”, que abre seu novo trabalho, “Yeezus” – mistura do nome de Cristo com seu apelido, Yeezy -, lançado na terça-feira (18). Vale como advertência: a estranheza, mesmo vindo do rapper, é inevitável.

Comparando-se à divindade estratosférica, como já é conhecido de sua personalidade um tanto megalômana, Kanye West dá à luz o novo trabalho (dias após o nascimento de sua filha com a socialite Kim Kardashian) longe do hip hop – embora o ritmo esteja onipresente no andamento das canções.

Kanye deixa definitivamente de lado a produção excessiva, repleto de barulhos e vocais, do elogiado “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”, para se entregar ao minimalismo, repleto de sintetizadores e inspirado em dubstep e música industrial.

Tudo no disco é reduzido. As batidas são cortantes e agressivas, mas espaçadas e cruas. Não há hits óbvios e nem mesmo uma cara. Em cima da hora, Kanye desistiu de usar uma imagem na capa e mandou às lojas apenas o CD em uma caixa de acrílico sem nenhuma arte, apenas um pedaço de fita adesiva vermelha na abertura.

  • Divulgação

    O rapper desistiu, em cima da hora, de lançar o disco com uma capa

Após algumas audições, dá para perceber que o tom eletrônico e obscuro não é prejudicial. Ao contrário. É interessante ver o ego de Kanye – sua verdadeira obra de arte – deslizando por outros caminhos e colaborações, como a do Daft Punk, que co-produz  “On Sight”, “Black Skinhead”, “I Am a God” e "Send It Up" - e que, a título de curiosidade, nada lembra a sonoridade de "Randon Access Memories", último disco da dupla francesa.

Seus versos, embora menos cortantes, ainda são diretos. Ele fala de sexo em “I’m In It”, separação em “Blood on the Leaves” (com o sample genial de “Strange Fruit” de Nina Simone) e relacionamentos em “Bound 2”. Frank Ocean, um dos queridinhos do rap, também participa do disco em “New Slave”, um livre interpretação sobre o racismo.

A polêmica mesmo ficou com “On Sight”, com o verso: "Assim que estacionar o carro, essa vadia vai tremer como se tivesse Parkinson". Claro, a Associação Americana de Parkinson não gostou nada da analogia.

Nada que vá incomodar Kanye. O rapper deve estar preocupado o bastante com seu próprio mundo estranho, cavando um universo novo que nem ele sabe qual é. O importante é ser o guia - embora as referências divinas no disco se resumam a poder, dinheiro, fama e um Mercedes Benz na garagem. O recado vem direto apenas em “New Slaves", mais terrena: “Você vê que existem os líderes e existem os seguidores. Mas eu preferiria ser um pau do que um engolidor”.