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Em reconstituição da morte de Daleste, perícia determina área onde estava atirador

MC Daleste, funkeiro morto em um show em Campinas (SP) - Reprodução/Facebook
MC Daleste, funkeiro morto em um show em Campinas (SP) Imagem: Reprodução/Facebook

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

18/07/2013 12h50

A Polícia Civil de Campinas (SP) fez na manhã desta quinta-feira (18) a reconstituição da morte do cantor Daniel Pellegrine, o MC Daleste, atingido por dois tiros enquanto fazia um show em uma quermesse no bairro San Martin, na cidade do interior de São Paulo, no dia 6 de julho.

Depois de mais de uma hora de trabalho, que contou com a participação de desenhista, fotógrafo, além de peritos e investigadores, foi determinada a área em que o atirador estava no momento do disparo. Segundo a perita, Ana Cláudia Diez, não foi definido o ponto exato, mas já é possível dizer que é em uma área que fica de 30 a 40 metros do palco, onde há um carro antigo, um monte de entulho e uma caixa d'água. 
 
"A reprodução simulada mostrou a região de onde partiram os disparos", afirmou Ana Cláudia Diez.
 
No começo da manhã, Diez disse que não estava descartada a possibilidade de haver um segundo atirador, mas depois da reconstituição, a possibilidade foi descartada. Segundo ela, o atirador é uma pessoa habilidosa, que foi à apresentação com objetivo de matar o funkeiro.
 
"Pelos vestígios, pela trajetória da bala, pelas marcas no corpo do músico deu pra ver que foi uma mesma pessoa que atirou e que ela sabia o que estava fazendo. Ele estava a uma distância de 30 a 40 metros e atirou para matar Daleste", disse Diez.

O delegado Rui Pegolo, titular do Setor e Homicídio e que coordena as investigações, disse à reportagem que ainda não há suspeitos do crime e ainda não há uma versão convincente apresentada pelas testemunhas. A Polícia, que montou uma Força Tarefa para apurar o ocorrido, trabalha com duas hipóteses principais: a de crime passional e a de uma desavença com o contratante do show.
 
Tumulto e falta de socorro
Moradores que acompanharam a reconstituição e não quiseram se identificar contaram que no dia do crime houve muito tumulto e faltou socorro à vítima. "Ele ficou caído no chão e foi socorrido pela própria produção. Não tinha polícia, não tinha bombeiro, não tinha ninguém. Eles colocoram Daleste no carro e foram pro hospital. Os bombeiros e a polícia só chegaram depois", disse uma moradora.
 
"Houve muita correria depois que ele caiu. Com medo, as pessoas subiam onde dava pra fugir. Eu nunca tinha presenciado uma tragédia dessas. Quando deram o primeiro tiro, eu pensei que fazia parte da produção do show", contou MC Betão, que apresentava o show naquela noite e assistiu à reconstituição nesta quinta.

Dois tiros acertaram o MC
Um dos tiros acertou a vítima de raspão na axila direita e laudo divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Médico Legal (IML) mostra que o segundo tiro, que foi fatal, atingiu o tórax e perfurou o estômago, o fígado e o pulmão direito de Daleste. Segundo o laudo, os ferimentos causaram sangramento e a morte foi provocada por anemia aguda. O cantor chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Municipal de Paulínia, mas morreu no centro cirúrgico. Logo após o ocorrido, fãs publicaram vídeos do momento do disparo na internet. 

Os tiros teriam sido dados a uma altura de 1,70m a 1,80m do solo. "Olhando a cena do crime de cima do palco, o tiro (fatal) veio da esquerda para a direita. A bala atingiu o abdômen do cantor, do lado esquerdo, e transfixou seu corpo."

Não se pode precisar a arma usada, porque não foi encontrado nenhum projétil. A bala que atingiu MC Daleste atravessou ainda um tapume no fundo do palco. "Mas acreditamos que tenha sido usada uma pistola. O que temos certeza é que o autor sabia atirar bem", disse o delegado. A principal hipótese da polícia é que o atirador tenha se escondido em um terreno baldio, escuro, onde há uma construção e um morro.

Enterro
O funkeiro foi enterrado por volta de 9h40 do dia 8 de julho, no cemitério da Vila Formosa, na região leste de São Paulo. Centenas de fãs acompanharam o enterro cantando músicas do artista.

"Meu irmão não tinha inimigos, ele era da paz. Não consigo imaginar quem possa ter feito isso com ele. Quero justiça. O criminoso tem que ser preso", afirmou ao UOL. Rodrigo Pellegrine, 26 anos, irmão e parceiro musical de Daleste. Rodrigo estava no palco no momento em que o MC foi baleado.

Daleste, que começou a carreira no bairro da Penha, em São Paulo, fazia parte do grupo de funkeiros que canta "funk ostentação" ou "funk paulista", em que temas de preocupação social dão lugar a letras sobre dinheiro, marcas de roupa, carros, bebidas, joias e mulheres. O funkeiro cantava os hits "Gosto Mais do que Lasanha" e "Mais Amor Menos Recalque", esse último já foi reproduzido mais de 1 milhão e 600 mil vezes no YouTube. Em outra canção, "Apologia", o MC escreveu "Matar os policia é a nossa meta / Fala pra nois quem é o poder / Mente criminosa coração bandido / Sou fruto de guerras e rebeliões".