Topo

Ir de um palco a outro no Rock in Rio é como pegar estrada para o inferno

José Norberto Flesch

Do UOL, no Rio

15/09/2013 05h17

Em São Paulo, até mesmo no Rio, pegar o metrô nas linhas mais congestionadas, durante a semana, significa muitas vezes ser espremido dentro de um vagão, não sem antes passar por um empurra-empurra. Mas quem enfrenta isso muitas vezes não tem outra saída, já que necessita viver esse tipo de aperto para poder ir trabalhar ou estudar. No horário de pico do Rock in Rio, neste sábado (14), não foi diferente, com a diferença de que o passageiro, no caso, pagou para ser espremido e empurrado.

A situação chegou ao limite por volta das 19h20, pouco antes de a banda americana The Offspring começar sua apresentação. A plateia que já lotava o espaço em frente ao palco Sunset viu chegar o público do palco Mundo, onde o Capital Inicial terminava seu show.

Especiais Rock in Rio

  • Baú do rock: lembre edições de 85, 91, 01 e 11

  • Qual é a música? Tente adivinhar em até 8 s

  • Duelo: qual é a melhor banda do Rock in Rio? 

Foi mais ou menos como colocar três pessoas em 1 m². Se já não cabia como estava, mas as pessoas queriam “entrar”, ocorreu o de sempre neste tipo de evento: quem estava fora empurrou para entrar, quem estava dentro, para sair. Conclusão: pessoas passando mal, meninas adolescentes, principalmente. Ouviu-se até um “vomita neles” como medida alternativa para abertura de passagem.

A verdade é que isso parece que não vai mudar nunca. Programada irresponsavelmente para o palco menor, a banda, que tem enorme público, ainda fez um show com péssima qualidade de som, o que provocou gritos de “aumenta, aumenta” e mais empurra-empurra, desta vez do fundão para a frente, na tentativa de se chegar mais próximo ao palco.

Situação parecida já havia acontecido no primeiro festival SWU, em 2010, durante a apresentação do Rage Against the Machine. Na ocasião, foram montados, de forma igualmente ou ingenuamente irresponsável, dois palcos com shows alternados, sendo um do lado do outro, com uma passagem para circulação limitada entre a pista comum e a VIP. O povo em frente a um palco entrava empurrando para ficar na frente do outro, já lotado, quando acabava uma apresentação e ia começar outra. Por sorte, não houve tragédia no SWU, mas também não se tirou dali nenhuma lição.

O Rock in Rio deixou que se repetisse não só a situação percebida no SWU, três anos antes, como fato semelhante ocorrido no próprio Rock in Rio, em 2011. A “providência” tomada foi reduzir em 15% (de 100 mi, para 85 mil) o limite de ingressos vendidos. Mexeu-se no volume, mas não no espaço, nem na programação.

Se fossem 10 mil pessoas em frente a um espaço para 5.000, seria a mesma coisa. Pagar é que é o mais inadmissível. Ninguém tinha necessidade de estar ali. Estava porque queria. E gastou dinheiro para isso. É mais ou menos como alguém pegar uma estrada para o inferno e, quando chegar lá, ainda tomar umas chibatadas do demônio.

O evento

A quinta edição brasileira do Rock in Rio começou na sexta e vai até o dia 22 de setembro. Mais de 160 artistas irão se apresentar em cinco espaços diferentes, divididos entre os sete dias de programação. Quase 600 mil pessoas são esperadas durante o festival, com uma média de 85 mil espectadores por dia.

A programação deste sábado (14) foi encerrada pelos britânicos do Muse, com seu rock de arena que mistura elementos de música indie, sons progressivos e efeitos de distorção estridentes. Com hits como "Supermassive Black Hole" cantados em coro pelo público, a banda favorita da escritora Stephenie Meyer, dos livros da série "Crepúsculo", conseguiu convencer com um show de alto nível mesmo depois de uma noite repleta de apresentações intensas como a do Thirty Seconds to Mars e de Florence + The Machine.

O segundo dia de Rock in Rio também trouxe opções para roqueiros veteranos, em uma espécie de matinê punk concentrada no Palco Sunset, pelo qual passaram os californianos do The Offspring e Marky Ramone, que revisitou clássicos dos Ramones ao lado do vocalista Michael Graves, ex-Misfits.

Entre os destaques nacionais, o sábado teve apresentações que misturaram rock e política. A Capital Inicial emocionou fãs ao tocar uma música de Charlie Brown Jr. para lembrar as mortes recentes de Champignon e Chorão. Já o Detonautas Roque Clube voltou aos primórdios do rock brasileiro em um show com convidados só tocando covers de Raul Seixas.

Tico Santa Cruz usou uma camiseta onde se lia "Senado Federal, Vergonha Nacional", e Dinho Ouro Preto usou nariz de palhaço e criticou o escândalo recente envolvendo o deputado Natan Donadon, que manteve o cargo apesar de ter sido preso por corrupção.

O primeiro dia do evento teve shows de Maria Rita, Living Colour,  DJ David GuettaIvete Sangalo e Beyoncé, entre outros, e uma homenagem ao cantor Cazuza.