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Parado no tempo, Skank agita Cidade do Rock com hits e mensagem política

Tiago Dias

Do UOL, no Rio

21/09/2013 18h31

A banda mineira Skank abriu o Palco Mundo no sexto dia do Rock in Rio com uma apresentação de causar inveja em qualquer aspirante a artista. Com uma lista generosa de hits acumulados em 20 anos de carreira e fãs, que mais parecem uma torcida de futebol, a banda, sempre boa -- principalmente quando acompanhada de metais --, sobe ao palco para ganhar, mesmo quando não tem absolutamente nada novo para apresentar.

Quem esteve no Rock in Rio em 2011 notou que o Skank é a mesmíssima banda há alguns anos. Seu último disco de estúdio com inéditas, "Estandarte", é de 2008. Desde então, os mineiros apenas investiram em shows e na gravação do CD e DVD “Multishow Ao Vivo”.

É como se todo o prestígio conquistado pela banda e o carisma de Samuel Rosa, que desceu na passarela, no meio da plateia, com uma com Les Paul autografada por Carlos Santana, se bastassem por si sós. Um fenômeno já bem conhecido das bandas de rock nacionais da década de 80 que seguem ativas, mas que ressoa nas bandas de 90: é melhor investir nos mesmos sucessos, sem arriscar. Neste mesmo festival, isso já aconteceu com  Frejat, na sexta-feira, que de novidade mesmo só trouxe o nome da turnê e uma canção inédita. Jota Quest, Nando Reis e Capital Inicial, ainda que preparem novos discos, também não descartaram fazer um show no estilo “Greatest Hits”.

Um dos poucos momentos de mais frescor no show do Skank foi quando a banda chamou o rapper Emicida para participar da abertura, na música “Presença” -- canção mais recente do repertório --, e investiu nas mensagens políticas. "Maconha é proibido, mas mensalão pode, né?", provocou Samuel durante “É Proibido Fumar”. A primeira citação veio, ironicamente, antes de “É Uma Partida de Futebol”, quando imagens de protestos invadiram o telão.

Nando Reis, que já dividiu muitas composições com Samuel Rosa e convidou o mineiro para celebrar a amizade no Palco Sunset, no sábado passado, foi outro convidado do show e dividiu o microfone em "Resposta".

Para parte significativa do público da Cidade do Rock, que não resiste a um megahit como “Vou Deixar” e cantou com a banda praticamente o tempo todo, o show foi o bastante. "Eu sou muito fã deles e digo: música nova não faz falta", diz Luciamara Alves, 38, do interior de São Paulo, fã declarada da banda. "Não me importaria de assistir tudo de novo", defendeu.

Neste sexto dia de Rock in Rio, John Mayer e Bruce Springsteen são as atrações mais esperadas do Palco Mundo -- onde também se apresentam Skank e Phillip Phillips.

O Palco Sunset recebe os encontros de Orquestra Imperial e JovanottiMoraes Moreira, Pepeu Gomes e Roberta SáIvo Meirelles, Fernanda Abreu e Elba Ramalho e finalmente Gogol Bordello e Lenine -- que encerra a programação tocando sozinho a partir das 21h30.

"Ame ou odeie"

O Bon Jovi encerrou a sexta-feira com um show em marcha lenta. Sem o baterista Tico Torres (substituído de última hora) e o guitarrista Richie Sambora (já em situações de conflito na banda há algum tempo), restou para Jon e o tecladista David Bryan defenderem os clássicos da banda. Não deu muito certo, o show estava modorrento. De diferente, estava a fã que subiu ao palco e ganhou selinho de Jon e o cover de "Start Me Up", dos Rolling Stones.

Exemplo clássico do perfil de "ame ou odeie" que parece recair sobre praticamente todas as atrações deste quinto dia de Rock in Rio, os canadenses do Nickelback - liderado por Chad Kroeger, atual marido da cantora Avril Lavigne - são ao mesmo tempo uma das bandas que mais vendeu discos no mundo, mas também uma das mais perseguidas pelos odiadores da internet. Ao contrário do que se poderia esperar, porém, o grupo não teve de enfrentar vaias e foi acompanhado pela plateia do início ao fim da apresentação com um repertório que alternava faixas mais pesadas como "Animals" a baladas como "Photograph" e "How You Remind Me".

Já o Matchbox Twenty ajudou a esquentar o público para o Bon Jovi cantantando sucessos radiofônicos como "3 A.M." e "Unwell" e "Push". "So Sad So Lonely", do álbum "More Than You Think You Are" (2002), com seus solos e pegada mais roqueira, foi uma das faixas que mais cativaram o público, que acompanhou com palmas, enquanto o vocalista descia do palco para cumprimentar o fãs. "Procuramos por isso [tocar no Rock in Rio] durante nossa vida inteira", afirmou o vocalista Rob Thomas logo no início da apresentação.

Velho conhecido do Rock in Rio, Frejat teve a responsabilidade de abrir o Palco Mundo, com show recém-saído do forno. Encarnando um crooner romântico, o cantor e guitarrista deu o pontapé na nova turnê com o sugestivo nome "O Amor é Quente" --título de sua nova música, cujo clipe foi lançado nesta sexta-feira (20) exclusivamente pelo UOL. O tal show novo não teve tantas novidades assim. Fora a música inédita, Frejat cantou "Divino, Maravilhoso", famosa na voz de Gal Costa, "A Minha Menina", de Jorge Ben, e "Não Quero Dinheiro", de Tim Maia, além de sucessos do Barão Vermelho e Cazuza como "Malandragem", "Bete Balanço" e "Pro Dia Nascer Feliz".

No Palco Sunset, conhecido por duetos e encontros de diferentes artistas, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite. O espaço ainda recebeu apresentações The Gift e Afrolata, Grace Potter and The Nocturnals e Donavon Frankenreiter e Mallu Magalhães com a banda Ouro Negro.

A vez do rock no Rio

A segunda parte do Rock in Rio, que se estende até domingo e conta com atrações mais roqueiras e pesadas do que na semana passada, teve início nesta quinta. O destaque da noite foi a apresentação do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, com repertório que revirou praticamente toda a discografia da banda em um show de 2 horas e 10 minutos de duração.

O saudosismo também deu as cartas no show dos veteranos do grunge Alice in Chains, que levaram os fãs de volta ao ano de 1992, época em que a banda lançou "Dirt", um de seus álbuns mais celebrados, que ajudou a compor o repertório da apresentação.

Principal palco do festival, o Mundo teve ainda nesta quinta os brasileiros do Sepultura, que tocaram junto com o grupo francês de percussão Tambours du Bronx, e os suecos do Ghost BC, em sua apresentação performática repleta de provocações à igreja católica que não animou muito o público da Cidade do Rock.

Pelo Palco Sunset, passaram nesta quinta-feira dois antigos conhecidos dos fãs de rock no Brasil: o ex-Skid Row Sebastian Bach e Rob Zombie, que já tinha vindo ao país em 1996 à frente da banda de metal White Zombie.