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Opinião: Bruce Springsteen tem pleno domínio sobre qualquer tipo de plateia

José Norberto Flesch

Do UOL, no Rio de Janeiro

22/09/2013 09h46

Foram dois shows diferentes, para públicos distintos, na mesma semana. Bruce Springsteen cantou em São Paulo, na quarta, e fez show que terminou na madrugada de hoje, no Rock in Rio. As duas apresentações foram históricas para o showbusiness brasileiro, mas igualmente notável é o domínio que o artista tem sobre qualquer tipo de plateia.

Na quarta, Bruce deu atenção a um grupo de idosas. Chegou a brincar com uma, chamando-a de "minha namorada no Brasil". Na mesma apresentação, recebeu flores no palco, e devolveu uma para a moça que lhe entregou. Foi várias vezes até o meio do público e chegou a se jogar entre as pessoas, deixando-se carregar até o palco. Ainda conduziu uma cerimônia de pedido de casamento. Ontem, também repetiu as visitas ao povo que o assistia e, em vez de idosos, contemplou um garoto, a quem deu o microfone para que cantasse uma das músicas.

Aos 63 anos (completa 64 amanhã), Bruce interage com a plateia como se reconhecesse a importância que os fãs têm em sua carreira, transformando-o em um artista cultuado, principalmente nos EUA, onde há anos é chamado "The Boss" (o chefe, na tradução). Age como um político populista, mas sem o sentido pejorativo do termo. Por meio de placas exibidas por fãs em seus shows, ele, por exemplo, atende a pedidos do público para que cante determinadas canções. No final, transforma sua figura em uma imagem ícone do bom mocismo, e ainda vira símbolo do popstar família, daqueles que conseguem ter ingressos de seus shows vendidos tanto para o avô como para o neto.

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. Sem lançar disco de inéditas desde 2008, os mineiros apostaram num repertório de grandes sucessos da carreira, como "Vamos Fugir", "Jackie Tequila" e "Vou Deixar", que contou com Nando Reis no palco. O rapper paulista Emicida também participou do show, que teve seu momento mais politizado no cover de "É Proibido Fumar". "Maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?", provocou o vocalista Samuel Rosa.

No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percurssivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O pernambucano Lenine fechou o Sunset em dose dupla: primeiro numa participação especial no show da banda de rock cigano Gogol Bordello e, em seguida, sozinho, apresentando canções de sonoridade mais "cool" como "Chão", "A Rede" e "Hoje eu Quero Sair Só".

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite