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Krisiun e Destruction trazem "força" inédita para o metal no Rock in Rio

Mário Barra

Do UOL, no Rio

22/09/2013 16h02

Duas vertentes do heavy metal, o death e o thrash, foram celebradas de forma inédita no Rock in Rio quando a banda alemã Destruction e os gaúchos do Krisiun invadiram o Palco Sunset, no fim de tarde deste domingo (22), último dia de festival. Depois da empolgação do anunciador dos shows, um clima sinistro tomou conta do palco com a música de introdução do grupo estrangeiro, que foi seguida pela violenta "Curse the Gods", faixa com letra que fala sobre abominar todo tipo de credo e religião.

Com um grito muito semelhante ao emitido por Tom Araya no início da faixa "Angel of Death", do Slayer -- uma das atrações mais aguardadas no dia de encerramento do festival --, o vocalista alemão Marcel Schmier começou em seguida a faixa "Thrash Till Death", uma das mais conhecidas da banda. O título da música, que significa "thrash metal até a morte", está estampado no banner do grupo atrás do palco.

A frase explica bem o clima da banda e do público: ambos apaixonados por thrash metal -- termo de definição difícil, disputado por especialistas para classificar até bandas como Metallica e Megadeth, ambas menos pesadas que o Destruction.

Schmier mostrou estar bem confortável com o público do país. "Uma caipirinha, por favor", disse o cantor, para depois emendar com um pedido de "saúde" no intervalo de uma das músicas. Empolgado pelo mar de camisetas pretas, Schmier comandou um coro de "oi, oi" -- brado comum a outros estilos musicais como o punk e o ska -- para tocar a faixa "The Butcher Strikes Back", mais uma faixa que alude à sede por sangue e destruição que as letras do grupo trazem. O cantor e baixista ainda tentou animar dizendo "boa tarde" e palavrões na língua local, mas depois confessou que seu português é ruim. Após consultar a plateia sobre em falar inglês, obteve o silêncio como resposta. Como consequência, a banda resolveu usar o idioma que melhor domina: o metal extremo.

E é essa mesma palavra que norteia o resto da apresentação. A interação entre o trio de alemães mandando violência atrás de violência com músicas como "Nailed to the Cross", "Mad Butcher" e "Armaggedonizer", todas circulando temas apocalípticos e flertando com o satanismo -- ou pelo menos a aversão aos temas cristãos. Até mesmo a despedida de Schmier mostra o tipo de carinho que ele deseja a sua audiência. "Vejo vocês no inferno", disse o vocalista, desejando o "melhor" a seus fãs.

Antes do fim da passagem de grupo pelo palco, houve tempo para composições mais recentes como "Spiritual Genocide", presente em álbum homônimo lançado neste ano, que contou com um belo solo de Mike Sifringer com sua guitarra Flying V -- sem a pose de músicos de apresentações anteriores como Kirk Hammett, do Metallica, mas tão rápido e competente quanto.

Os alemães do Destruction, reunidos desde a década de 1980 para promover o thrash metal germânico ao lado de bandas como Kreator e Sodom. Diferente dos conterrâneos do Helloween, banda voltada para o heavy metal melódico (vertente bem menos pesada do metal), o Destruction é um dos grupos que ajudou a sedimentar a tradição germânica como um dos principais polos do rock, ao lado da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.

Fã do Slayer não faz a barba há mais de três anos


O mineiro Elias Ferreira chamava a atenção ao lado da namorada, Carina Guido, na fila do último dia de Rock in Rio, dedicado ao metal de Iron Maiden, Slayer e Sepultura. Ele exibe uma barba comprida, presa com elásticos, que cultiva há mais de três anos. "Viemos para os shows do Slayer, que sou fã há mais de 10 anos, e Iron Maiden. A barba eu não faço há mais de três anos e meio, é uma tradição da Black Label Society", explicou.

Estreia do death metal no Rock in Rio
Com um estilo ainda mais agressivo do que o do Destruction, o Krisiun levou a velocidade das músicas a outro nível quando foram convidados a entrar no segundo palco da Cidade do Rock. Uma pequena jam session entre os dois trios trouxe ao público uma versão mais agressiva do que o normal de "Black Metal". Foi o adeus do Destruction do palco, que ainda voltaria ao palco antes do fim.

"O Krisiun está aqui", anunciou em tom cavernoso o vocalista Alex Camargo para dar início a um curto repertório solo -- apenas quatro músicas foram tocadas sem a presença da banda alemã no palco --, mas que serviu como um aperitivo da potência dos brasileiros no palco. O tom de ineditismo de um estilo tão pesado na Cidade do Rock foi lembrado até mesmo pelo frontman. "Pela primeira vez, death metal no Rock in Rio, aqui é Krisiun, c*****", bradou.

Uma das bandas mais respeitadas no mundo do heavy metal, conquistando um lugar ao lado de Sepultura e Angra -- André Matos foi, inclusive, uma das atrações do evento mais cedo, ao lado do Viper -- o Krisiun é reconhecido pela crítica especializada como um dos expoentes brasileiros. Entre os álbuns principais do grupo estão "The Conquerors of Armageddon" (primeiro do grupo), "Apocalyptic Revelation" e "Bloodshed". O mais recente foi lançado em 2011 e se chama "The Great Execution".

Mas o show contou com apenas uma pequena parcela deste repertório, com as faixas "Combustion Inferno", "Kings of Killing" e a rapidíssima "Ominous" integrando a lista de músicas que foram tocadas.

Com uma capacidade incrível de rapidez, um dos destaques do show do trio gaúcho é o baterista Max Kolesne, que simplesmente não fica com as mãos paradas, indo de prato para caixa e de volta ao prato da bateria em questão de segundos. O máximo da técnica do músico fica melhor demonstrada durante a faixa "Vicious Wrath", que foi recebida pelos fãs com uma grande roda de bate-cabeça, com um detalhe normalmente visto apenas em festivais de metal ou de punk -- um movimento circular, com todos os fãs de metal indo para uma mesma direção enquanto se trombam.

Ambos representantes de um estilo musical de difícil apreciação, Krisiun e Destruction apresentam um desfile de técnica e rapidez que em muito difere de "simplesmente barulho", como reclamava funcionários do evento que aguardavam o fim da apresentação para poderem conversar.

O caso da banda brasileira é ainda mais especial, já que as faixas buscam explorar uma nova fronteira na música, que envolve o desenvolvimento cada vez maior do casamento entre rapidez e intensidade no rock. Mas para Camargo, depois de 20 anos de banda, mais importante ainda é a própria propagação do metal como gênero. "A gente está aqui para divulgar o metal, vocês não sabem a satisfação que dá ver tudo isso de gente pra nos ver tocar", disse o músico.

Neste domingo (22), sétimo e último dia do festival, sobem ao Palco Mundo Iron Maiden, Avenged Sevenfold, Slayer e Kiara Rocks. No Sunset, Sepultura volta ao festival, acompanhado de Zé Ramalho. Também passam por lá outras parcerias, como Helloween com Kai Hansen e Andre Matos e Viper.

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. Sem lançar disco de inéditas desde 2008, os mineiros apostaram num repertório de grandes sucessos da carreira, como "Vamos Fugir", "Jackie Tequila" e "Vou Deixar", que contou com Nando Reis no palco. O rapper paulista Emicida também participou do show, que teve seu momento mais politizado no cover de "É Proibido Fumar". "Maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?", provocou o vocalista Samuel Rosa.

No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percussivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O pernambucano Lenine fechou o Sunset em dose dupla: primeiro numa participação especial no show da banda de rock cigano Gogol Bordello e, em seguida, sozinho, apresentando canções de sonoridade mais "cool" como "Chão", "A Rede" e "Hoje eu Quero Sair Só".

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite