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Pedro Baby vira coringa em shows elogiados de Baby e Gal Costa

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

03/10/2013 17h49

Pedro Baby nem ligava quando seus pais apareciam com cabelos coloridos e roupas extravagantes ao buscá-lo na escola. “Era um momento engraçado, era natural que eles não passassem despercebidos”, conta.

O guitarrista, filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes, não era alvo de piadas dos amigos de ginásio, mesmo quando os pais apareciam como se fossem personagens intergalácticos na reunião dos professores. Pelo contrário. “Isso sempre me ajudou, muito pelo carisma que eles tinham e a capacidade de lidar com qualquer diferença com muita naturalidade”.

Foi nesse ambiente, com pais que mais viviam nos palcos que em casa, que Pedro cresceu. “Não tenho uma lembrança exata de quando toquei um instrumento pela primeira vez”, ele conta ao UOL. “Mas tive certeza de que seria músico quando passei a subir nos palcos mesmo antes de aprender a tocar. Desde pequeno fui incentivado a participar dos shows e me habituar com os palcos”.

Hoje, aos 34 anos, Pedro é um dos expoentes da nova MPB e uma espécie de coringa musical em dois dos shows mais elogiados da atualidade. É dele a concepção do show “Baby Sucessos”, que resgata toda a graça e beleza da carreira da mãe com riffs cheios de suingue, e o poderoso solo em “Vapor Barato” na turnê “Recanto ao vivo”, de Gal Costa. Do convívio harmonioso nos ensaios deste último, uma frase dita por Gal foi marcante para o músico.

  • Reprodução

    Baby Consuelo e Pepeu Gomes, pais de Pedro Baby, em 1982

“Um dia ela mencionou que tocar com um filho no palco deveria ser uma das maiores emoções na vida de uma mãe. Isso serviu como um incentivo enorme para o desenvolvimento em mim de toda a ideia para o show celebrativo”.

Após se converter evangélica e gravar discos gospel – sem nunca deixar o cabelo roxo e a alegria despudorada de lado –, Baby acabou ficando à margem, injustamente, do rol dos medalhões da MPB. Algo que tem sido resgatado por meio de novos fãs de Novos Baianos e do próprio show em família.  “Havia uma sensação minha de que talvez o grande público não tivesse a noção de que ela ainda possui a mesma garra, energia e o talento dos anos anteriores”.

Baby demorou para entender a proposta do filho, que queria celebrar os 60 anos da mãe com canções da antiga banda, como “A Menina Dança”, e de sua fase solo, como “Cósmica”. Ficaram de fora as últimas composições e a benção que Baby costumava dar ao fim de cada música, mesmo que essa canção fosse “Menino do Rio”: “Aleluia, glória a Deus”.

Tive certeza de que seria músico quando passei a subir nos palcos mesmo antes de aprender a tocar. Desde pequeno fui incentivado a participar dos shows e me habituar com os palcos

“Apenas mostrei pra ela que praticamente todas as canções que escreveu já falavam da sua espiritualidade, e com isso eu poderia mostrar a ela e ao público que nada havia mudado em sua personalidade”, relembra Pedro.

Em um dos primeiros shows, Baby se abriu com o público: “Quando eu recebi o convite do Pedro, ele falou: ‘Mãe, você acha que Deus não vai deixar você tocar comigo? Então aperte os cintos’. Eu disse que não sabia que Deus era muito louco. É um prazer maravilhoso estar com vocês e com o menino responsável por essa loucura”.

Como a mãe, a irmã Sarah Sheeva também enveredou por um caminho mais espiritual e se tornou pastora. “Nunca tivemos nenhum atrito na questão religiosa por minha mãe sempre respeitar as diferenças entre os filhos. Ela nos criou com muita liberdade e por isso é extremamente normal que tenhamos opções diferentes como disciplina de vida”, explica Pedro.

  • Facebook/Reprodução

    Pedro tira foto no espelho ao lado de Bruno Di Lullo, Domenico Lancellotti e Gal Costa

A propósito, ele não é da mesma religião da mãe e da irmã -- “Creio em Deus e na lei da ação e reação” -- e nem mesmo chegou a correr pela chácara em Jacarepaguá, onde Baby morou com Pepeu e os músicos do Novos Baianos no anos 70, no estilo amor livre.

O espírito, porém, foi repassado ao músico. Pedro tem um jeito versátil em tocar guitarra, que vai além do título de “herdeiro” de Pepeu, e tem uma vontade de misturar ainda mais as coisas. A última foi no palco com o Los Sebozos Positivos, projeto dos integrantes da Nação Zumbi e do Mombojó, que tocam versão de Jorge Ben.

“Tenho a intenção de lançar o meu trabalho com canções autorais. Tenho algumas canções em parceria com amigos músicos como o Domenico Lancelloti, Arnaldo Antunes, Betão Aguiar e Daniel Jobim”, revela. "Tenho a influência de muitas pessoas e familiares que tive a oportunidade de ver tocar. Meus pais, meus tios, os músicos Jorginho e Didi Gomes e também Moraes Moreira". 

Seguindo a escola: ele também gosta de João Gilberto e ainda quer resgatar a história dos Novos Baianos em outros shows.

Serviço:

Baby do Brasil
Onde: Teatro Paulo Autran - Sesc Pinheiros
Quando: 4/10 (sexta, 21h), 5/10 (sábado, 21h) e 6/10 (dominigo, 18h)
Ingressos a venda em qualquer rede Sesc

Gal Costa
Onde: Sesc Osasco
Quando: 19/10 (sábado, 20h)
Ingressos esgotados
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/programacao/14319_BABY+DO+BRASIL#/content=saiba-mais

 

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