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"A música é solidária e já me deu tudo o que poderia dar", diz Criolo

Criolo divulga novo single, "Duas de Cinco", e diz que começará a trabalhar em novo álbum em 2014 - Divulgação
Criolo divulga novo single, "Duas de Cinco", e diz que começará a trabalhar em novo álbum em 2014 Imagem: Divulgação

Patrícia Colombo

Do UOL, em São Paulo

15/10/2013 00h01

Criolo acaba de divulgar seu primeiro single inédito desde o álbum “Nó na Orelha” (2011), intitulado “Duas de Cinco”. O material, que conta com a faixa homônima e ainda com a música “Coccix-ência”, pode ser ouvido na Rádio UOL (veja os links abaixo) e já está disponível para compra tanto em formato digital quanto físico (no iTunes e na Livraria Cultura, respectivamente). O show de lançamento do single acontece no próximo sábado (19), no Carioca Club, em São Paulo.

O rapper e cantor paulistano, cuja carreira começou em 1989, lançou seu primeiro disco, “Ainda Há Tempo”, em 2006, mas foi só há dois anos que viu seus versos e sua voz ecoarem para outras regiões além do Grajaú, seu bairro de origem. Em entrevista ao UOL, ele falou sobre as novas composições, as parcerias, a possibilidade de um novo disco para o próximo ano, as polêmicas acerca da liberação de biografias não autorizadas e sobre as manifestações que marcaram 2013 e que continuam acontecendo no país. Ouça as canções e leia a entrevista abaixo:

Ouça os novos singles de Criolo na Rádio UOL

 

UOL - “Duas de Cinco” e “Coccix-ência” são as suas primeiras faixas inéditas desde o lançamento de “Nó na Orelha” (2011). Sentiu algum tipo de pressão na hora de trabalhar em novas músicas por causa do sucesso do disco?
Criolo - Não. A música é extremamente solidária e já me deu tudo o que poderia me dar. Jamais imaginei que pudesse alcançar o que já alcancei. Não há mais pressão para nada. Isso faz parte da minha vida desde os 11 anos de idade. É que nunca tinha tido a oportunidade de dividir com as pessoas como foi com o “Nó na Orelha”. Não enxergo música como competição, mas como libertação. Se eu resolver competir comigo mesmo, me pressionando para produzir, acabou a brincadeira. Enquanto as pessoas deixarem que eu divida com elas o que eu estou produzindo, essas coisas vão continuar acontecendo.

Você tem influências plurais, que vão do samba (“Linha de Frente”) ao bolero (“Freguês da Meia-Noite”), passando pelo afrobeat (“Bogotá”) e pelo reggae (“Samba Sambei”). Quando compõe as letras já tem claro qual sonoridade seguir?
Não. O que importa pra mim, a princípio, é sempre o texto. Vou compondo, aparecem essas melodias na minha cabeça e vou deixando que elas floresçam, vendo aonde vão me levar. Quando cantei “Bogotá” pro Ganja [o produtor Daniel Ganjaman], por exemplo, não sabia que ali havia um embrião de afrobeat.

Acho que isso ainda é algo muito distante para mim. Eu ainda não fiz nada para ter uma biografia a meu respeito.

Rapper Criolo

O refrão de “Duas de Cinco” vem de “Califórnia Azul”, de Rodrigo Campos.
Eu tive o prazer de conhecer o Rodrigo e a gente percebeu que temos muito a ver um com o outro. Ele é do extremo leste da zona leste e eu do extremo sul da zona sul. A gente conversa bastante. Essa música é apenas um rap com simplicidade e sinceridade.

Ambas as faixas têm produção do Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, seus dois parceiros de “Nó na Orelha”. Eles estarão também no seu próximo álbum? A parceria parece ter dado certo nos últimos anos.
Gostamos muito uns dos outros e o que nos une é esse interesse em comum de dividir ideias e pensamentos. Acredito sim que eles acabem construindo meu próximo disco, mas ainda não sei quando começarei a gravar.

Não enxergo música como competição, mas como libertação.

Rapper Criolo

Você nunca parou de compor. Já tem material suficiente para o novo trabalho?
Quando fui gravar o “Nó na Orelha” eu tinha cerca de 70 canções. Nos últimos três anos eu venho escrevendo bastante, também. Mas quantidade não significa qualidade.

Mudando um pouco o assunto, a questão da liberação de biografias não autorizadas está sendo bastante discutida nas últimas semanas. Qual a sua opinião sobre esse embate entre biógrafos e o grupo Procure Saber, comandado pela empresária Paula Lavigne? 
Acho que isso ainda é algo muito distante para mim. Eu ainda não fiz nada para ter uma biografia a meu respeito.

Você tem 38 anos e já trabalha com música há mais de duas décadas. Considerando que, ao longo dos anos, você siga produzindo, algum escritor terá o interesse de registrar sua história. Você imporia algum tipo de restrição a isso?
Mas se uma pessoa quiser escrever sobre você, como você faz? Agora, o que está ao redor de tudo isso é o que tem que ser desvendado. Levar a todos a luz do conhecimento. Ainda mais vocês, que são pessoas que têm essa beleza na escrita, que conseguem fazer esses recortes de tempo e espaço para deixar um legado para as pessoas. Mas é preciso saber o que está por trás de cada ato. Acho que isso serve para tudo.

Mas a respeito do Procure Saber...
Mas por que você quer saber isso de mim?

Porque você é um artista em atuação e um dia alguém pode ter o interesse em contar a sua história em um livro.
Mas eu estou totalmente por fora do que está rolando. Quase nem estou acessando a internet. É raro. Entro vez ou outra no Instagram porque preciso atualizar por causa do trabalho. Estou totalmente alheio e focado nas minhas canções para que daqui a uns oito meses eu entre em estúdio para trabalhar no disco. Mas acredito que o bom senso deva reinar sempre. Pelo menos é o que a gente deseja que aconteça.

E qual a sua visão acerca das manifestações crescentes em todo país, que marcaram 2013?
Isso só um embrião. Essa semente ainda vai germinar. Ainda existe um processo de todos entenderem essa tenacidade, entenderem o ser querer, entender o querer coletivo e como se inserir a ele. E isso por si só já é um fato histórico. Vai além de poesia. Isso é real, aconteceu e está acontecendo todos os dias. As batatas que estão na sopa não percebem a quentura que está na parte de fora da panela. Tem dia que somos o fogo, tem dia que nós somos a panela e tem dia que nós somos a batata. Acredito que muito mais coisas vão acontecer e que serão de extrema importância.