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"Somos profissionais, temos que ser oportunistas", diz vocalista do CPM 22

 Heitor Gomes (baixo), Badauí (vocal), Japinha (bateria)  e Luciano (guitarra) posam na gravação do "Acústico" - Divulgação
Heitor Gomes (baixo), Badauí (vocal), Japinha (bateria) e Luciano (guitarra) posam na gravação do "Acústico" Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

17/10/2013 19h31

O CPM 22 tem um objetivo claro para seu novo álbum, "Acústico", lançado nesta terça-feira (15): voltar a frequentar as rádios. O grupo de hardcore melódico, que viveu o auge na primeira metade da última década, dá de ombros para as velhas críticas relacionadas a esse tipo de formato ao vivo. “Somos profissionais, temos que viver com o oportunismo mesmo”, afirma o vocalista Badauí.

O álbum “desplugado”, com faixas antigas e quatro inéditas, reflete a postura de desprendimento. “Um recomeço”, nas palavras do baterista Japinha, mas com "vantagens competitivas": mais experientes e já com um séquito fiel de seguidores espalhados pelo país.

Em entrevista ao UOL, os integrantes falaram da história do disco, de críticas, do atual momento “sem peso” do rock nacional, além do fim da antiga MTV.  

Por que lançar um disco acústico agora?

Badauí: Porque tudo estava conspirando para isso. No meio da turnê do nosso último disco, “Depois de um Longo Inverno” [2011], a ideia começou a se fortalecer dentro da banda. E aí juntamos as duas coisas: o momento e a vontade de fazer. Já tínhamos uma quantidade de discos de estúdio suficiente, e surgiu a proposta da Universal.

Japinha: Em 2006, quando lançamos o "Ao Vivo MTV". A proposta inicial da MTV era de a gente fazer um acústico. Mas não sentíamos que era o momento, pela idade da banda, pela nossa discografia pequena. Queríamos tocar “plugado”. Agora, em 2013, vieram todas essas circunstâncias que o Badauí falou, e ficamos com vontade.

Como se sentiram no show?

Badauí: O show foi foda. Uma sintonia muito grande com o público. A banda estava muito ensaiada. E essa vontade de fazer o acústico se refletiu nas músicas. Na interpretação mesmo. A emoção que tomou conta no ar ali. Hoje, vendo o DVD, escuto e lembro do dia. Lembro do sentimento que estava no ambiente.

Hardcore melódico combina com violão?

Japinha: Combina. A gente faz as músicas no violão. As melodias. É hardcore melódico, sai de uma fonte acústica. Só depois fazemos as versões “plugadas” em estúdio. 99% das nossas músicas saem do violão. Se não soar bem no violão, não soa bem na guitarra, e vice-versa.

Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, canta em “Um Minuto Para O Fim Do Mundo”. Por que chamá-lo?

Badauí: É uma coisa que se criou aqui no Brasil, de acústicos terem sempre uma participação. A gente não queria ter um monte de participação de vocalista para toda hora ficar chamando alguém ao palco. Viraria um circo. Então resolvemos escolher alguém que tinha a ver com a banda, um amigo. E não tinha nome melhor que o do Dinho. Já fizemos muitos shows juntos. Lembro quando ele foi à MTV, em 1998, e estávamos lá levando nosso democlipe. Entramos numa sala e estava rolando nosso vídeo. Ele falou: “Pô, da hora a banda de vocês. Vocês ouvem Stiff Little Fingers?”. Gostamos de muitas coisas em comum, do punk rock antigo.

Como lidar com as críticas sobre o “oportunismo” do formato acústico?

Badauí: A gente é profissional. A gente tem que viver com o “oportunismo” também.

Japinha: Oportunidades, né?

Badauí: Oportunismo mesmo. A gente quis fazer, porque era o momento certo. É bom para a banda, em relação ao mercado do rock. Em relação ao segmento hoje em dia. É um formato que iria tocar nas rádios. E a gente precisava voltar para as rádios, de uma forma mais massiva. O choro é livre...

Japinha: Sempre lidamos com esse tipo de crítica. Desde que éramos do underground e assinamos com uma gravadora grande.

Como é tocar hoje, uma década depois do auge?

Japinha: De certa forma é um recomeço. Volta e meia falamos sobre isso. Quando a gente começou, tínhamos um público fiel, mas não era nada em nível nacional como é hoje. De certa forma, estamos num momento parecido. Mas com mais público, logicamente, fazendo mais show, vivendo de música. Acho que esse projeto é uma boa forma de mostrar nossa história, apresentar coisas novas em um ciclo que se reinicia.

Badauí: Hoje o rock deu uma caída Brasil, justamente pela sonoridade leve que as bandas mais novas começaram a seguir. Não sei se lançássemos “Regina Let´s Go!” hoje, no rádio, faria sucesso como fez em 2001, “bombando” no país inteiro. Era um momento em que não havia muito problema com guitarras. Atualmente as bandas começaram a afrouxar a sonoridade. Então, até por isso, também, o acústico facilita para a gente voltar para as rádios. Não sei o que vai acontecer depois, quando lançarmos um novo disco de músicas novas, daqui a uns dois anos.

Como assistiram ao fim da antiga MTV. Sentem-se órfãos?

Japinha: Talvez daquela fase, de 2000 a 2006. Depois, dificilmente. Nem estávamos gostando do direcionamento da MTV.

Badauí: Vou te falar que, a partir de 2008, a MTV não fez nada por nós.

Japinha: Fizemos um ou outro programa.

Badauí: Depois que mudou toda a direção artística, a coisa ficou feia para a gente.

Japinha: A MTV se enfraqueceu no mercado. Acho que este ciclo que se fechou é devido à essa fase estranha que rolou. Houve algumas coisas legais, como o Marcelo Adnet, mas não teve sucesso.

Badauí: O VMB perdeu muito a credibilidade de quatro anos para cá.

Japinha: Os clipes também sumiram. Não passavam mais vídeos legais. Estamos torcendo para que a nova MTV resgate a do começo.

Badauí: E que não repita os mesmo erros.