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Em show "intimista" e sem erros, Sepultura celebra 20 anos de "Chaos A.D."

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

25/10/2013 02h08

Em 1993, o Sepultura empreendeu uma revolução “silenciosa” no heavy metal. Ao lançar “Chaos A.D.”, a banda então liderada por Max Cavalera deu o primeiro passo rumo à sua fase mais bem-sucedida comercialmente. Com o pé no freio --mas sem abdicar do peso-- e novas influências, o disco expandiu as fronteiras do thrash, criando o que viria a ser conhecido como “groove metal”, subgênero responsável pela sonoridade de toda uma geração na década.

E foi esse som vigoroso, moderno e, por que não, eclético, que dedicados 500 fãs receberam na noite desta quinta-feira (24), no Sesc Belenzinho, no primeiro dos três shows  em tributo ao disco que deu novo rumo à história da banda (e do heavy metal).

Em um show vibrante do início ao fim, mas com ar “intimista”, pelo tamanho da plateia, Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria) executaram todas as músicas de “Chaos A.D.”, ignorando a ordem original do disco. Alheio a isso, o público pôde enfim ouvir faixas como “Amen”, “We Who Are Not as Others” e “Manifest”, há tempos ausentes do repertório.

A íntegra do disco, que em setembro completou 20 anos, mostrou-se forte o suficiente para segurar todo o show. Em 1h30, praticamente não houve momentos de inércia na plateia. Abrindo com “Propaganda”, com o som no talo, o Sepultura conseguiu provocar rodas de mosh durante quase todo o tempo, algo raro mesmo entre os gigantes do metal e hardcore.

“Tímido”, interagindo pouco com o público, Derrick segura firme os vocais, mostrando que o habitat do Sepultura de sua fase, recheada de discos irregulares, é mesmo o palco.

Entre os destaques da noite, impossível ignorar os momentos de sinergia em “Territory”, “Biotech Is Godzilla”, “Polícia” e “Refuse/Resist”, que, em vez abrir, fechou o “Chaos A.D.” versão 2013. A instrumental “Kaiowas”, descrita por Andreas como a música mais versátil da banda, com sua percussão tribal e influências do baião, também cativou. Um dos muitos pretextos para os gritos de “Se-pul-tu-ra!”.

Bem encaminhada, a segunda parte do show fez uma retrospectiva de meia hora da banda, prestes a completar três décadas de existência. Foi a vez de ir de “Inner Self” à recente “Kairos”, passando também por faixas do novo álbum, “The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart”, lançado nesta sexta-feira: "Impending Doom", tocada pela primeira vez ao vivo, e a releitura de "Da Lama ao Caos", de Chico Science & Nação Zumbi, cantada por Andreas Kisser.

Para encerrar uma apresentação sem erros, “Roots Bloody Roots”, de “Roots” (1996), álbum mais vendido do Sepultura, e que muito provavelmente jamais seria lançado sem a matriz sonora aferrada em “Chaos A.D.”.

Tranquila, exatamente como chegou, a pequena multidão de adolescentes, jovens e trintões rapidamente se desfez. Com os ouvidos "sangrando". Aparentemente sem demonstrar qualquer problema com isso.