Topo

Idealizador do Volta Cazuza espera bater recorde do Guinness com holograma

Patrícia Colombo

Do UOL, em São Paulo

29/11/2013 07h00

 

Cazuza estará de volta aos palcos neste sábado (30) em um show no Parque da Juventude, em São Paulo. O cantor --que morreu 32 anos em 1990 em decorrência do vírus HIV-- entrará em cena em forma de holograma, frente à 40 mil pessoas que são esperadas para o espetáculo com entrada gratuita. Serão 20 minutos de presença virtual, que poderá entrar no Guinness World Records de recorde mundial por tempo de atividade de um holograma no palco.

  • 3252
  • true
  • http://entretenimento.uol.com.br/enquetes/2012/06/06/qual-desses-artistas-voce-gostaria-de-ver-em-holograma.js

No ensaio que aconteceu na quinta-feira (28), o idealizador do projeto, Omar Marzagão, destrinchou para o UOL como é feita a produção do sistema que será usado no show "Volta Cazuza". "A tecnologia 4D trazida pela empresa Rebel Alliance, que trabalha com efeitos especiais em Hollywood, fará parte da apresentação por 20 minutos e projetará Cazuza em cinco canções: 'Exagerado', 'Faz Parte do Meu Show', 'Brasil', 'O Tempo Não Para' e 'Amor Amor'", adiantou ele --a última faixa foi gravada para a trilha sonora do longa "Bete Balanço", de 1984, e ganhará novo arranjo no show.

Segundo Marzagão, a imagem sairá de um projetor instalado na parte superior do palco em direção a um espelho fixado no chão, que refletirá para uma tela transparente posicionada em ângulo de 45 graus. O Cazuza fictício se locomoverá em um espaço de seis metros de largura e três metros de profundidade, junto aos seus companheiros de banda --formada por George Israel (Kid Abelha), Nilo Romero, Arnaldo Brandão (Banda Brylho), Leoni, Rogério Meanda e Guto Goffi (Barão Vermelho). Paulo Ricardo e Gal Costa também estão confirmados no evento.

Com o apoio do Ministério da Cultura e orçamento de R$ 8.527.266,12 (parte dele obtido via Lei de Incentivo), o projeto de Marzagão nasceu há mais de um ano com o objetivo de propiciar às pessoas "um pouco da emoção que era estar em uma apresentação do Cazuza", nas palavras do organizador.  "Cazuza é de todo mundo. [Ele] Era de um jovem de 20 anos em 1986 e é de um jovem de 20 anos de 2013". 

UOL - Como é trabalhar em um projeto envolvendo o Cazuza?
Omar Marzagão - Comecei a pensar em trazer o conceito do holograma em show para o Brasil, mas fiz questão de focar no Cazuza pela importância dele para diferentes gerações. Cazuza é de todo mundo. Era de um jovem de 20 anos em 1986 e é de um jovem de 20 anos de 2013. Tinha energia, atitude e uma poesia só dele, era muito verdadeira. Ele é tão relevante hoje quanto era no auge de sua carreira. Além disso, havia a data dos 55 anos [que ele completaria em 4 de abril] e achei que valeria.

Como foi todo esse processo de elaboração do holograma?
Fizemos uma recriação em tecnologia CDI, 100% computadorizada, e que demora cerca de cinco meses para ficar pronta. Elaboramos o roteiro do show e estabelecemos os 20 minutos de apresentação do holograma no palco. Convocamos um dublê para darmos início ao que seria a elaboração dos movimentos, que foi o ator Orlando Ávila. Ele ficou em segundo lugar para interpretar Cazuza em "Cazuza - O Tempo Não Para". Fomos para um estúdio de ensaio onde nossa equipe o dirigiu por quase dois meses. Ao mesmo tempo, o holograma estava começando a ser feito em um estúdio de Milão.

E a parte musical?
Como já tínhamos as canções definidas, fomos atrás dos áudios, que extraímos dos fonogramas originais. São os áudios que ele gravou em estúdio. O único ao vivo que temos no que se refere às canções é o de "O Tempo Não Para", já que Cazuza não registrou a canção em estúdio [a faixa integra o álbum ao vivo homônimo, de 1988]. De imagens optamos por registros de 1986, pois, por ser uma celebração a ele e à sua obra, queríamos mostrar Cazuza bem e saudável.

E como foi o processo da junção do áudio às imagens para a construção do holograma?
Quando já estava tudo definido levamos o Orlando para Milão, no estúdio especial de captura de movimentos, para duas etapas: a captura de toda a roteirização de movimentos do corpo e a da cabeça. Essas informações são registradas no servidor e entram na programação. Com um equipamento diferencial se registra os movimentos da cabeça e da boca. Orlando teve que gravar todas as cinco músicas em dublagem. Depois, a equipe une a cabeça ao corpo. Além dos áudios originais das canções, pegamos também falas originais dele, captadas na época pelo nosso diretor musical que também foi diretor musical do Cazuza, Nilo Romero. Tínhamos, ao todo, 300 falas e escolhemos algumas para que fossem intercaladas às músicas, com interação com a banda e com a plateia.

Como será a interação musical e a disposição da banda no espaço do palco?
George [Israel] conseguiu montar um grupo só com parceiros de Cazuza. Ele será homenageado pelos amigos que tinha. A banda ensaiou cerca de três meses, então não haverá nada de playback. Quando você vê projeções holográficas, é comum ver as pessoas criarem uma espécie de caixa que parece estar fora do lugar, distante e separada da banda. Nosso palco foi muito bem pensado para que isso não acontecesse. Queremos que as pessoas sintam que estão em um show normal, queremos mostrar um pouco de como era essa energia dele para os fãs.

O que você definiria como o grande desafio desse projeto?
Foi uma produção espalhada por cinco países e três continentes. Temos a produção do Rio de Janeiro e de São Paulo, em Dubai, em Milão e Paris. Eram cinco cidades onde tínhamos que organizar uma produção em conjunto envolvendo problemas de língua e diferenças de fuso horário. Realizávamos reuniões às 4h30 no Skype para que fosse, sei lá, 10h30 em Dubai e a equipe estivesse no escritório. E coordenar toda essa logística envolvendo tecnologia, arquivos, estrutura de um palco funcional para o projeto foi cansativo e trabalhoso. Outra coisa também foi a questão da sensibilidade com as pessoas envolvidas. Temos a sociedade Viva Cazuza, e a própria mãe dele, Lucinha Araújo, nesse projeto. E a primeira pessoa que me deu sinal verde foi João Araújo [pai do músico e fundador da gravadora Som Livre]. Explicar tudo aquilo no Brasil, onde até então um show com holograma nunca tinha sido feito, foi arriscado.

Vocês têm interesse de levar este show a outras cidades do Brasil?
Tenho, sim. Mas ainda não fechamos nenhum acordo. Por enquanto, estamos focados nesta apresentação de São Paulo, mas estudaremos a possibilidade futuramente.