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Discos de vinil crescem em vendas em 2013; saiba como cuidar da sua coleção

Daft Punk, David Bowie e Arctic Monkeys aqueceram mercado de vinil na Inglaterra em 2013 - Reprodução
Daft Punk, David Bowie e Arctic Monkeys aqueceram mercado de vinil na Inglaterra em 2013 Imagem: Reprodução

Patrícia Colombo

Do UOL, em São Paulo

30/12/2013 07h00

Há quem ainda consuma música no formato CD, mas é possível notar nos últimos anos o gigantesco aumento das vendas digitais junto ao consumo de serviços de streaming e, supreendentemente, o crescimento no mercado de discos de vinil. Isso mesmo, as tais bolachonas que não são as mais práticas, mas que certamente melhor proporcionam a união entre qualidade sonora e experiência sensorial e afetiva.

E os números não mentem. Como divulgou a BPI (British Recorded Music Industry), órgão responsável por gerenciar os números da indústria britânica, o Reino Unido teve seu melhor ano em vendas de discos de vinil desde 2001 -- que deve chegar a 700 mil cópias até o final de dezembro. Se comparado ao bolo inteiro, a venda de LP ainda é bem pequena na indústria, representando apenas  0,8%, mas ao considerar que em 2007 essa porcentagem era de 0,1%, a perspectiva muda.

Os em parte responsáveis pelo bom ano têm nome: Daft Punk, David Bowie e Arctic Monkeys, que lançaram os ótimos materiais inéditos “Random Access Memories”, “The Next Day” e “AM”, respectivamente. Tais artistas investiram no formato e tiveram resposta positiva de seus fãs.  O disco da banda comandada por Alex Turner, inclusive, lidera as vendas de vinil na Amazon britânica e “Random Access Memories” ficou no topo das vendas durante boa parte do ano.

Outro ponto principal que tem auxiliado no fomento do mercado de vinil são os Record Store Day (Dia da Loja de Discos, em tradução livre), nos quais os estabelecimentos independentes se reúnem com artistas para o lançamento de materiais exclusivos e, às vezes, inéditos. Tem quem estoure o cartão de crédito na data comemorativa geralmente marcada no mês de abril.

No caso dos Estados Unidos e Canadá, também houve aumento. A Nielsen SoundScan, que contabiliza os resultados dos mercados fonográficos de ambos os países, divulgou, por meio de relatório, que só na primeira metade do ano, o aumento das vendas de álbuns em vinil foi de 33,5% se comparado a 2012 – tendo o Daft Punk liderado com 32 mil cópias comercializadas até julho (contra 869 mil cópias digitais de “The 20/20 Experience”, de Justin Timberlake). Tudo indica que o balanço final de 2013 deva ser ainda mais positivo para as bolachas.

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No caso do Brasil, os números de vendas de vinis são bem menores se comparados aos da Inglaterra e Estados Unidos, embora também tenha sido registrado grande aumento em 2013. A Polysom, a única produtora de vinis da América Latina, deve fechar o ano com um crescimento de aproximadamente 142% na produção em relação a 2012.

“Isso demonstra que o mercado já está girando sem depender de apenas uma empresa lançando novos títulos”, disse João Augusto, que reabriu a fábrica no ano de 2009, quando havia enorme descrença quanto à retomada concreta de tal tipo de consumo musical. O consultor, no entanto, não quis detalhar ao UOL os números de unidades produzidas e comercializadas na trajetória da fábrica.

Assim como os gringos, os artistas nacionais também têm investido cada vez mais no formato. A Polysom, por exemplo, comercializa obras de nomes como O Rappa, Nação Zumbi, Tulipa Ruiz, Los Hermanos, Vanguart e Pitty. Entre os clássicos, figuram reedições remasterizadas de 180 gramas de Jorge Ben, Banda Black Rio, Moacir Santos, Novos Baianos, Secos e Molhados, Tom Zé.  Os preços salgados variam, em sua maioria, de R$ 60 a R$80 – a justificativa são os altos impostos e altos gastos com matéria-prima.

Como cuidar do seu vinil
Lançamentos, relançamentos e itens raros para ter em sua coleção e ouvir até enjoar. Quem tem esse hábito de consumo sabe o vício e a delícia que é retirar o álbum do encarte, colocá-lo no toca-discos, posicionar a agulha na primeira faixa e deixar o som rolar enquanto aproveita para vasculhar a arte de capa.

Mas de nada adianta ter uma coleção com o melhor da música nacional e internacional se não houver um cuidado especial com os vinis. Assim, a pedido do UOL, João Augusto e Rodrigo Heyder, doutorando na área de polímeros do Instituto de Química da USP, deram dez dicas preciosas para a melhor conservação e limpeza de seus discos.

“Qualquer limpeza tem de ser realizada de forma suave e com materiais macios, para que a sujeira não risque ou destrua os sulcos por onde a agulha corre”, diz Heyder. “O uso de produtos químicos tem que ser muito cauteloso para que não destrua a superfície ou deixe resíduos.” Veja abaixo:

  • Limpeza a seco

Use uma escova de cerdas macias – geralmente as de cerdas de fibra de carbono são bastante recomendadas. Outra possibilidade são as flanelas anti-estáticas, como aquelas utilizadas para limpeza de televisores.

  • Modus operandi

Lembre-se de que a limpeza deve sempre ser feita no sentido dos sulcos. Isso evita arranhões e facilita a remoção da poeira que esta depositada no interior deles.

  • Limpeza profunda

Em certos casos o ideal é água e detergente neutro em pouca quantidade e bastante diluído. Enxágue diversas vezes para garantir que não haja resquícios de detergente na superfície do disco. O detergente teria a função de dissolver as gorduras e permitir que a água interaja com a poeira da superfície do disco, eliminando-a.

  • Cuidado maior

Uma dica que Rodrigo dá aos que têm mais zelo com suas bolachas é o uso de água destilada. “Depois de utilizar água da torneira, o vinil irá secar e, caso haja sais dissolvidos nesta água, estes poderão ficar retidos na superfície do disco, o que pode danificá-lo futuramente.” Deixe secar em pé em ambiente fresco e longe do sol. Depois, se necessário, utilize a flanela macia.

  • Selo

Em casos de vinis antigos, é válido evitar o contato da água com o selo que se encontra no centro do disco. João Augusto destaca, porém, que, em casos de vinis novos, após contato com a água “o rótulo do disco, que foi soldado ali no momento da prensagem, não sofrerá danos na lavagem desde que não fique ensopado por muito tempo”.

  • Inimigos do vinil

Evite quaisquer outros produtos e, principalmente, a utilização de álcool e silicone para a limpeza. “O álcool pode danificar o plástico da superfície do disco e o silicone também não seria uma boa escolha porque ele encobriria os sulcos e seria um problema para o correto deslize da agulha do toca-discos (além de o pó ficar mais facilmente retido)”, afirma Rodrigo.

  • Cor em cor

Com diversos lançamentos em variadas cores, é comum encontrar vinis azuis, vermelhos, transparentes, brancos, entre outras cores. Pois saiba que a cor deles não altera a composição do material polimérico, segundo o químico da USP, portanto a limpeza pode ser feita de forma idêntica a do disco negro tradicional. Para discos antigos em 78 rotações feitos em goma-laca a combinação de água e sabão neutro também não tem erro.

  • Armazenamento

Nunca, em hipótese alguma, empilhe sua coleção de discos. Sempre deixe-os em pé, uns ao lado dos outros. João Augusto explica: “armazenados em pé, a força centrífuga gerada faz com que os discos ganhem resistência. Se deitados, a superfície de 30 cm de diâmetro sofrerá ação da gravidade e tenderá a entortar com o peso de outros discos em cima ou com a imperfeição da superfície abaixo”.

  • Temperatura

Se o ser humano sofre com calor, imagine um material de plástico. Aquela sua linda coleção dos Rolling Stones certamente não sobreviverá se você não tomar esse cuidado. Portanto, atenção: deixe sempre seus discos em locais com temperatura amena e longe, bem longe do sol.

  • Embrulho

Alguns vinis, especialmente os mais antigos, vêm inseridos em um saco plástico dentro do encarte e em alguns casos, é bom ficar atento e trocá-lo periodicamente. “Se o envelope plástico for de alta densidade, aquele tipo mais ‘barulhento’, não é necessário a troca porque ele não gera estática”, explica João Augusto. “Mas quando eles são feitos com aqueles plásticos mais macios, a tendência é acumular poeira e, nesse caso, é recomendado que a troca de tempos em tempos.”