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"Não tenho inimiga nem amiga, só minha mãe", diz Valesca Popozuda

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

22/01/2014 12h14

Ela não é "poderosa", mas é a rainha do funk. Uma monarca vestida à caráter, não tão desbocada quanto nos tempos de plebeia, mas que nem por isso foge de uma boa briga. "Não sou covarde, já tô pronta pro combate", canta reto Valesca Popozuda, enquanto quebra a cintura acompanhada por 17 bailarinos no videoclipe de "Beijinho No Ombro".

Publicado no YouTube no último dia 27 de dezembro, a letra da superprodução funk --que custou R$ 470 mil-- deseja "a todas inimigas vida longa, pra que elas vejam cada dia mais nossa vitória". Hit instantâneo, o vídeo alcançou meio milhão de visualizações apenas nas primeiras horas. Hoje, já bate a marca de três milhões. "Não tenho inimiga nem amiga. Falo que só tenho minha mãe, que eu confio e que está mais aí para mim", contou ao UOL, por telefone, a agora "diva pop".

O hino anti-recalque marca a estreia solo da dançarina após deixar o Gaiola das Popozudas, grupo feminino do qual fez parte durante 13 anos e que deu ao mundo pérolas da literalidade como "Cachorrona", "Agora Eu Sou Piranha" e "Late que Eu to Passando" (tema da personagem de Isis Valverde na novela "Beleza Pura"). Em 2014, o grupo ficará a cargo da irmã de Valesca, a também dançarina Gessica Santos. "Vou falar para você que não tem diferença [a carreira solo], porque meu trabalho continua o mesmo: subir no palco. É a mesma coisa como artista solo."

A guinada na carreira traz uma Valesca mais pop, quase "família", sem as rimas de baixo calão de outrora. A cadência do funk proibidão ainda está lá, mas ela mesma promove uma espécie de autocensura, com dose certa de humor. "O meu sensor de periguete explodiu, pega sua inveja e vai pra… (rala sua mandada)", canta ela na mesma "Beijinho no Ombro".

"A gente dança conforme a música. A decisão de sair do grupo não foi minha, foi do meu empresário. Era para ficar uma coisa só, em vez de 'Valesca Popozuda e a Gaiola'. O meu nome cresceu. Crescemos juntos no grupo", explicou a carioca de Irajá, que ostenta cerca de um litro de silicone tanto nas nádegas quanto nos seios.

Impossível criticar a opção pelo voo solo. Além dos milhões de pageviews do vídeo, Valesca já tem dois meses de agenda fechada com shows por todo o Brasil. Carismática e com um cachê que chega a bater os R$ 50 mil, ela faz mais de 20 apresentações por mês. Sempre lotadas.

A extensão do fenômeno pode ser medida na própria internet. Pululam na rede vídeos com as mais inusitadas releituras e paródias de "Beijinho No Ombro". As homenagens vão desde uma versão evangélica, passando por uma singela cover ao som de um ukelele (veja ao lado) e por um canto no estilo Maria Bethânia, reproduzido pelo humorista Gustavo Mendes no espetáculo "Mais que Dilmas".

"Vejo tudo. Estou sempre acompanhando na internet junto com minha produção, que me manda os links. Eu amei a menina cantando [com ukulele]. Fico emocionada vendo isso. O pessoal dançando, não só cantando, mas fazendo o clip com detalhes."

Engana-se, no entanto, quem imagina uma Valesca Santos (seu sobrenome real) extrovertida, que faz do cotidiano a extensão natural do palco. Ela é calma, gosta de ficar o máximo que pode em casa, curtindo o filho de 14 anos, o sofá e seus DVDs de cabeceira: Beyoncé, Lady Gaga, Katy Perry e Rihanna ("Até para pegar umas referências, né?").

Voz do morro e da classe média, Valesca não vê problemas em assumir o papel de ícone "feminista" e da liberdade de comportamento. A ex-capa da "Playboy" defende as funkeiras e trata de colocar panos quentes sobre boatos de uma eventual rivalidade com a artista revelação de 2013, Anitta, 15 anos mais jovem --Valesca tem 35.

"É o povo que inventa. Nunca existiu. Sou fã das músicas dela. Não tem nada a ver, até porque tem uma diferença de estilo: ela é mais pop e sou funkeira", rebate "Pops"."Por sermos mulheres, querem nos colocar umas contra as outras. Ela tem o caminho dela, eu tenho o meu. Tem chão para todo mundo."