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Jazz não é só solos longos e coisas complicadas, diz baterista do Bad Plus

Reid Anderson (baixo), David King (bateria) e Ethan Iverson (piano), do Bad Plus - Divulgação
Reid Anderson (baixo), David King (bateria) e Ethan Iverson (piano), do Bad Plus Imagem: Divulgação

Do UOL, de São Paulo

25/02/2014 11h51

Formado em Minneapolis, em 2000, o grupo The Bad Plus já foi descrito pelo jornal “Wall Street Journal” como um “power trio de jazz com coração rock 'n' roll”. O motivo: um repertório eclético e roqueiro que abraça Nirvana, Black Sabbath, Blondie, Pink Floyd, Pixies, Tears for Fears, entre vários outros nomes.

Com doses de jazz modal e avant-garde, a inusitada --e sofisticada-- união trouxe notoriedade à banda, que é completada por Ethan Iverson (piano) e Reid Anderson (baixo acústico). Eles voltam ao Brasil nesta terça (25), para se apresentar em São Paulo.

“Quando começamos a tocar juntos, não queríamos tocar os standarts do jazz, porque isso meio que já foi feito o suficiente”, conta por telefone ao UOL o baterista e membro fundador David King. “Sentíamos que o que nos deixava felizes era tentar fazer coisas que não haviam sido feitas antes.”

Diferente de músicos como o americano Richard Cheese, que faz rock em versão "swing" com fins de paródia, o Bad Plus possui um estilo mais sério. As músicas são sempre instrumentais, com arranjos complexos. E a busca pela originalidade do início permanece como combustível sonoro nos dias de hoje, diz o integrante. Os dois últimos álbuns da banda, “Never Stop” (2010) e “Made Possible” (2012), contêm apenas material autoral.

“Ficamos conhecidos tocando versões, mas muita gente nunca se deu conta de que sempre incluímos músicas próprias em todos os nossos discos. Nossa música também soa viva tocando ao vivo. E é por isso que optamos em focar nela agora.”

Além de jazz e música erudita, David gosta de ouvir em casa rock (“mas não sou exatamente um fã de Beatles”) e "tudo que é feito na nossa época”. Nas palavras do músico, existe uma forte conexão entre os estilos mais populares e o jazz.

“Uma das melhores coisas do jazz é que ele também é baseado em composições. Não só coisas complicadas e solos longos. Também há canções. Acho que isso é uma das coisas que apropriamos do rock e do pop em nosso estilo.”

Quando a eventual perda de popularidade do gênero de Charlie Parker nas últimas décadas vem à tona na conversa, King afirma que a razão está além de transformações culturais e do frescor de novos estilos. Os próprios músicos teriam sua parcela de culpa, criando uma espécie de círculo fechado e vicioso, que alimenta um nicho.

“Certamente [o jazz] não está morto. Acho que muito dos músicos hoje em dia vêm com a responsabilidade de fazer algo ‘culturalmente relevante’, num exercício meramente intelectual. Todos deveriam se lembrar de que, na ouro de ouro do jazz, havia um apelo muito mais visceral do que intelectual da música."

Assista à versão da banda para "Everybody Wats to Rule The World", do Tears for Fears

Sobre uma música de artista brasileiro que gostaria de tocar com a banda, o baterista, no entanto, cai no caminho mais intrincado. “Algo do Hermeto Pascoal! Ele é brasileiro, não é?”, brinca. “É um jeito mordeno e avant-garde de pensar a música brasileira, misturado com jazz e a muitas outras coisas. Muitos músicos que fazem música de vanguarda e progressiva têm a ver com ele. É incrível.”

Aos velhos e (eventuais) novos fãs da fórmula eclética do Bad Plus, David adianta os planos. “Já temos dois discos novos para lançar, um com repertório de Stravinsky e outro com com músicas originais, que sairá no outono [americano]. Esperamos voltar à América do Sul de novo, quando for lançado.”

Assista a entrevista da banda no programa "Metrópolis", em 2008