Ernesto Paulelli é enterrado em São Paulo ao som de "Samba do Arnesto"
O corpo de Ernesto Paulelli, personagem da canção "Samba do Arnesto" (1953) foi enterrado na manhã desta quinta-feira (27), no Cemitério do Araçá, em São Paulo. Durante o sepultamento, amigos e familiares cantaram a música de Adoniran Barbosa que o deixou famoso.
Aos 99 anos, Ernesto estava lúcido e disposto até poucos dias antes de morrer. Também músico, tinha como hobby nos últimos seis meses ouvir os cds de Demônios da Garoa e assistir aos jogos do Palmeiras. Na última semana, no entanto, Ernesto sofreu uma queda, fraturou o fêmur e foi submetido a uma cirurgia. Após o procedimento, sofreu uma parada cardíaca e morreu nesta quarta-feira (26), no Hospital Sancta Maggiore, na Mooca.
"Samba do Arnesto"
O Arnesto nus convidô,
pru samba, ele mora no Bráz
nóiz fumo e num incontremos ninguém
nóiz vortemos cuma baita de uma réiva,
da outra vez nóiz num vai mais
nóiz num semos tatu...
Trajetória
Ernesto era violonista e, no final da década de 30, chegou a tocar na rádio Bandeirantes durante um ano. Foi a convite da cantora e amiga Nhá Zefa que ele se apresentou junto a ela na Record - período em que conheceu Adoniran.
Tendo corrigido o sambista dizendo que seu nome correto era Ernesto e não Arnesto, como Barbosa o havia chamado, plantou sem querer a ideia de uma canção na cabeça de Adoniran, que no momento brincou que comporia uma música com base naquela conversa.
Antes do encontro, Adoniran Barbosa havia apenas lançado seu primeiro disco de 78 rotações, "Agora Podes Chorar" (1936), e fazia pouco sucesso. A canção "Samba do Arnesto" veio a ser lançada quase duas décadas mais tarde.
Segundo contou em entrevista à revista "Brasileiros" em 2008, Ernesto se emocionou e chorou abraçado à mulher, Alice, ao ouvir pela primeira vez a música feita em sua homenagem , em 1955, transmitida pela Rádio Bandeirantes.
O reencontro com Adoniran só viria dois anos mais tarde, em uma gravação na TV Record, em que o compositor pediu a opinião de seu "muso" e disse que eles seriam compadres a partir daquele momento.
Antes de se dedicar à música, Ernesto chegou a trabalhar como engraxate, auxiliando seu pai que era sapateiro. Até 1922, morou no bairro do Brás, tendo se mudado posteriormente para a Mooca. Virou vendedor de chuchu e trabalhou no jogo do bicho. Tocou violão em diversas cantinas de São Paulo.
Aos 60 anos se formou em Direito e trabalhou na área Civil durante três décadas. Era pai de cinco filhos, Vanda, José Carlos, Vicente, Valéria e José (deles, apenas Vicente e Valéria estão vivos).
Um de seus netos, Paulo Paulelli, filho de Vicente Paulleli, seguiu carreira na música e é contrabaixista do grupo paulista de samba e jazz Trio Corrente, que recebeu o Grammy 2014 de melhor álbum de jazz latino por "Song For Maura". Gravado em parceria com o saxofonista cubano Paquito D'Rivera, deixando para trás os álbuns "La Noche Más Larga" de Buika, "Yo" de Roberto Fonseca, "Eggün" de Omar Sosa e "Latin Jazz-Jazz Latin" de Wayne Wallace Latin Jazz Quintet.
2 Comentários
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.
Texto escrito por quem conhece do assunto! Muito bom de ler!
POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, SÃO PAULO JÁ TEVE SEU CHARME, SUA PERSONALIDADE E ATÉ SEU DIVERTIDO SAMBA COM SOTAQUE ITALIANO, TUDO SE FOI, A ARTE A BOEMIA, A LIBERDADE DE ANDAR NAS RUAS DE IR AOS BAILES, AOS BARZINHOS HOJE ISSO É UMA ROLETA RUSSA VC SAI MAS NÃO SABE SE VOLTA, HOJE VIVE EM SAMPA UM POVO MUTANTE QUE CUJA MENTE EM SUA MAIORIA PULSA AS PALAVRAS "SE DAR BEM" "VIOLÊNCIA GRATUITA", A TECNOLOGIA AVANÇOU E A QUALIDADE DE VIDA FOI REMETIDA A IDADE DAS TREVAS, O QUE É MAIS IMPORTANTE ? A LIBERDADE DE IR E VIR COM SEGURANÇA OU A VIDA NOS TRANSPORTES MODERNOS OU DENTRO DE "UMA CAIXINHA DE IMAGENS" PARTICULAR? PQ NÃO PODEMOS TER OS DOIS?