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"Quinto elemento" do Nirvana relembra show acústico e relação com Cobain

Estefani Medeiros

Do UOL, em Berlim

03/04/2014 06h00

A violoncelista norte-americana Lori Goldston já tocou com David Byrne, Cat Power, improvisou com percussionistas brasileiros e criou trilhas experimentais para o cinema. Mas você deve se lembrar dela mais pela presença no fúnebre show do Nirvana para a coleção "MTV Unplugged", gravado em Nova York em novembro de 1993, cinco meses antes da trágica morte do vocalista. No dia 5 de abril de 1994, Kurt Cobain tirou a própria vida com um tiro na cabeça.

Lori é lembrada até hoje como o quinto elemento do Nirvana durante a turnê do álbum "In Utero" (1993) e na clássica apresentação acústica que rendeu CD e DVD (na época, VHS). Hoje, introspectiva e com respostas pensadas em longas pausas, Lori olha para trás e vê a experiência de um ano com os ídolos grunge como "uma grande aventura". "Kurt era um cara bom, muito inteligente e engraçado", descreveu ela em entrevista ao UOL. "Quando estava em turnê só tentava ficar fora de brigas no palco, o que era aterrorizante para mim. Tinha que tomar bastante cuidado para não ser atingida por algo durante a apresentação", lembrou aos risos.

Naquele ano de 1993, Cobain já estava cansado da fórmula da banda, que ele próprio resumia em tocar uma base limpa nos versos com distorção e gritos no refrão, formato que fez de "Nevermind" (1991) um álbum milionário, mas que provavelmente acabaria com a sua voz. A vontade de evoluir musicalmente, misturada à pressão da gravadora e a expectativa dos fãs, o guiaram para a busca de uma sonoridade diferente em "In Utero". Além da guitarra adicional de Pat Smear, que havia entrado na formação três meses antes, o instrumento escolhido para trazer frescor ao Nirvana foi o violoncelo de Lori.

Na época, ela dava os primeiros passos com a Black Cat Orchestra, grupo de cabaret jazz, quando foi escolhida para uma experiência com o trio. Da noite para o dia, a violoncelista dava uma pausa nas noites intimistas em pequenos clubes para sessões de fotos com rockstars e shows com centenas de adolescentes histéricos. "Foi legal, um grande evento na minha vida, mas ao mesmo tempo estranho. Conheci pessoas muito legais, mas as coisas eram um pouco diferentes para mim, tocar para grandes audiências e viajar em turnês. Minhas circunstâncias para tocar sempre foram modestas".

Poucas memórias do "MTV Unplugged"
Em uma das poucas vezes em que fala sobre o assunto Nirvana, Lori lembrou que seu processo criativo no álbum funcionou de forma colaborativa. "Era uma grande mistura, sugeri e criei alguns trechos. Kurt cantarolava uma linha ou criava em cima das gravações. Foi bom colaborar com todos eles, incluindo Kurt. Ele sabia o que queria ouvir, mas ao mesmo tempo era muito aberto a ideias, um excelente tipo de pessoa para trabalhar".

Sobre a experiência no acústico, Lori disse que guarda poucas memórias. "As câmeras e a atmosfera em geral me deixaram muito nervosa, por isso essa experiência é quase como um grande borrão para mim". No show da MTV, ela permaneceu sentada ao lado direito de Krist Novoselic e tocou em oito das 14 músicas gravadas naquela noite, entre elas "Dumb", "Polly", "The Man Who Sold de World" e sua versão favorita da apresentação, a marcante "Where Did You Sleep Last Night", de Leadbelly.

Hoje a artista prefere se reservar ao lugar de alguém que teve um acordo profissional temporário em que não se adequou. Na época, além de horários restritivos e setlists que eram praticamente iguais por onde passavam, o trio estava inibido pela gravadora de ter contato com drogas, confusões ou bebidas. No ano seguinte, durante a turnê europeia, estas cobranças e instabilidades acenderiam uma bomba relógio, resultando no último show e o colapso de Kurt em Roma.

"Foi maravilhoso fazer a turnê nos Estaods Unidos. Eles foram ótimos, muito educados, mas eu estava feliz de voltar para o meu namorado e minha banda. Adorava brincar com a música dessas pessoas, mas é da minha natureza prosperar na variedade. Preferi ficar em casa e fiquei bem. Para mim, a turnê norte-americana foi o suficiente", conclui Lori, acrescentando que prefere a "calmaria da maturidade e a importância de se reinventar, e não fazer só o que as pessoas te dizem para fazer".