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Filho do autor de "Eu Sou Brasileiro" diz que substituir grito é "louvável"

Nelson Biasoli é criador do grito de guerra "Sou Brasileiro" - Silva Junior
Nelson Biasoli é criador do grito de guerra "Sou Brasileiro" Imagem: Silva Junior

Thays Almendra*

Do UOL, em São Paulo

24/06/2014 12h28

Há 65 anos, quando Nelson Biasoli criou o grito de guerra "Eu Sou Brasileiro", ele não previa que a música iria sobreviver até a Copa do Mundo de 2014. Muito menos que essa seria a principal canção da torcida brasileira nos estádios. Enquanto alguns acreditam que o sucesso permanente acontece por falta de criatividade dos torcedores, a família do autor do verso acredita que isso é uma "grande besteira", já que o hino faz parte da cultura do Brasil.

Morador de Tambaú, no interior de São Paulo, Nelson tem hoje 83 anos e já não entende muito bem o que está acontecendo com sua canção --ele tem problemas de circulação cerebral e suspeitas de doença de Alzheimer, segundo a família. Ao UOL, o filho do compositor, Nelson Júnior, contou que a música foi feita em 1949 sem pretensão para uma disputa entre brasileiros e alemães em uma olimpíada estudantil no colégio onde o pai era professor.

"Lembro muito bem dele cantando para a gente quando era criança. Ele sempre teve em mente que a definição de grito de guerra é uma frase curta e que impulsiona o guerreiro. Como foi uma frase apenas, ele colocou uma melodia que faz parte até hoje da cultura do brasileiro", disse ele, lembrando que seu pai é dono de mais de 500 hinos e que não recebe direitos autorais pela canção.

O registro da letra "Eu sou brasileiro com muito orgulho com muito amor" só passou pela censura em 1979. De acordo com Nelson Junior, foi há cerca de dez anos que a canção dominou a boca dos brasileiros e virou uma espécie de "domínio público". "É uma surpresa para a nossa família, nem ele [Nelson Biasoli] sabia que isso ia pegar. Dizem por aí que esse grito de guerra é muito velho e ultrapassado, mas isso não quer dizer nada. O México tem um [grito de guerra] que é da revolução mexicana, e é da década de 1920", disse Júnior.

Mesmo defendendo com unhas e dentes a música do pai, Nelson vê com bons olhos a criação de um novo grito de guerra para a torcida brasileira. "Acho até louvável, mas tem que ver se pega e se o povo canta".

“'Eu sou brasileiro' está muito ultrapassado”

Durante a exibição do jogo do Brasil contra Camarões no evento Casa Pelé, no Estádio do Morumbi, torcedores apoiaram a mudança do grito de guerra. Para o advogado Carlos Pinheiro, 28, a música "Eu Sou Brasileiro" é "um saco". "Já deu, pelo amor de Deus! Precisa criar outro. Eu não canto mais essa", disse ele. 

O engenheiro Ícaro Peralta, 27, também sente falta de um novo grito. “Acho que precisávamos de algo novo sim, mas que todo mundo pudesse gritar na mesma voz. Eu sou brasileiro está muito ultrapassado”, opiniou.

Para o empresário Yvo Renato, de 34 anos, a torcida desta Copa parece de teatro e cinema. "Todo mundo está muito certinho, muito coxinha. Falta grito de torcida organizada, igual as outras torcidas sul-americanas", disse. "Eu gostaria muito que, para a próxima Copa, o brasileiro, aquele torcedor, fosse criativo. A gente consegue. Chega de 'Eu sou Brasileiro'", completou Camille Simões.

Na segunda-feira (23), uma das marcas patrocinadoras da seleção contratou animadores para os jogos e distribuirá um folheto com a letra de músicas e hinos famosos

*Com informações de Gisele Alquas