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Ostentação ganha sanfonas e chega ao forró regada a champanhe e carrões

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

03/07/2014 13h08

Exaltar correntes de ouro, roupas de grife, carrões e bebidas caras em letras de música não é uma exclusividade do funk. A ostentação ultrapassou as fronteiras do eixo Rio-São Paulo e deu as caras no Nordeste do país. Depois de chamar atenção com MCs, a moda de ser "top" chegou ao arrocha, ao sertanejo e ao forró de nomes como Wesley Safadão & Banda Garota Safada, Gabriel Diniz e as bandas Forró da Ostentação do Brasil, Cavaleiros do Forró e Forró Estourado.

Com o vocabulário repleto das palavras "diferenciadas" e com "status", o empresário da banda Forró da Ostentação do Brasil, Múcio Martins de Castro Filho, contou ao UOL que usou o "olhar de business" e entrou no embalo do funk para conquistar o público nordestino. "As pessoas estão procurando a palavra ostentação no Google. Aí, elas vão lá e acham uma banda de forró. Eu apostei nisso", revela Múcio, que disse já ter registrado o nome do grupo e cobrar cachê de R$ 15 mil para apresentações de uma hora de duração.

Com oito meses de existência, a banda Forró da Ostentação comprou um ônibus luxuoso para viajar aos locais dos shows, que começaram na cidade de Natal (RN). Para essa empreitada, o empresário investiu em um grupo com glamour e "bonito dos pés a cabeça": a vocalista é a Miss Rio Grande do Norte 2011, Késsia Cortez, e ao lado dela está Juninho, que se veste como um típico "playboy".

No repertório, as músicas têm nomes como "Sou Patrão, Não Funcionário" e "Poder da Ostentação", todas regadas a champanhe nos shows. De acordo com Múcio, "não é pecado ser rico nem ostentar". "Desde que o funk estourou com a ostentação, sabíamos que era sobre isso que ia se falar daqui para frente. As pessoas ostentam para se sentir bem por terem comprado um carro novo. Não é para passar por cima do outro. Não é só uma questão de riqueza, é para mostrar que elas estão bem na piscina, em um carrão."  



"Cada um ostenta como pode"

Tão exibicionista quanto a banda Forró da Ostentação, Gabriel Diniz optou por um visual arrojado. Ele aposta em estampas animal print, calças leggings e em um corte de cabelo a la Elvis Presley. Aos 23 anos, Gabriel, que estudou engenharia elétrica, passou por algumas bandas de forró do Nordeste, mas decidiu seguir carreira solo. Com o cachê de seus shows --ele faz 34 por mês--, ele diz que já sustenta as famílias de 12 músicos e conquistou uma "independência para criar o que quiser no palco".

"Usamos um show pirotécnico, e é uma questão de ostentar a alegria em uma apresentação diferenciada. Quando as pessoas saem do meu show, elas têm a energia renovada", disse ele, que começou a se apresentar em João Pessoa (PB) e seguiu para o Recife (PE). Hoje, excursiona por quase todas as cidades do Norte e Nordeste.

Diferente de funkeiros, que levam a ostentação para além da música, desfilando com carrões e roupas de grife, os artistas do forró não falam em bens e gastos pessoais. Mas os shows de Gabriel, segundo ele, são regados a champanhe e uísque, consumidos também por seus fãs. "As pessoas estão no momento delas de curtir, de brincar e tirar onda. 'Vamos pedir champanhe mesmo, vamos pedir uísque mesmo', elas pensam. Cada um ostenta como pode", defende ele, que encara as mudanças no ritmo como "uma nova vertente de um novo forró".  




Transformação na música

As mudanças no mercado do forró precisaram ser absorvidas também por aqueles que já estão há quase 15 anos neste meio. A banda Cavaleiros do Forró, que surgiu em Natal, precisou entrar na onda da ostentação para continuar no ritmo frenético de shows --só em junho fizeram quase 40 apresentações.

Para a empresária da banda, Janine Lago, houve uma globalização no forró e foi preciso transformar até a melodia, usando arranjos com metais e percussão e cantando letras que abordam a ostentação.

"Muita gente fala que não é forró. 'Cadê a sanfona de Luiz Gonzaga?', dizem. Mas tudo sofreu essa mutação. Os músicos foram experimentando, e o público, consumindo. As pessoas já não queriam mais aquele forró antigo. Bandas que não passaram por essa modernização não conseguiram se sustentar no mercado", disse Janine, que, recentemente, optou também por mudar os vocalistas do grupo.

Com cabelos compridos, Peruano domina os vocais sozinho e já não usa aquelas fantasias típicas dos cantores de forró --ele escolheu usar figurinos de grife. "O público vê o sapato que estou vestindo, a calça, cordão, relógios. Eles falam que viram um igual e compraram. Quando eu entro no palco, vejo que eles estão vestidos como eu estou", disse ele, acrescentando que é preciso continuar se transformando. "A pegada ostentação é passageira", resume.