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Um ano após morte não solucionada, Daleste ganha homenagens e show tributo

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

05/07/2014 06h00

Para os familiares de Daniel Pellegrine, o MC Daleste, a morte do funkeiro não foi em vão. Um ano após ser tragicamente assassinado a tiros em um show em Campinas, no dia 6 de junho de 2013, o jovem então com 20 anos continua presente na vida do pai, irmã e irmão (o MC Pet Daleste), que hoje lutam para perpetuar o legado do cantor.

No próxima terça (8), em Sorocaba, a família organiza o primeiro show tributo a Daleste, com a presença de MCs amigos e parceiros musicais. No domingo (6), fãs e parentes participam de uma caminhada simbólica da Penha até o cemitério da Vila Formosa (zona leste), onde ele está sepultado. Ainda este ano, novas músicas inéditas deixadas pelo MC devem ser lançadas. E ainda há um projeto de uma biografia na gaveta.  

Mesmo com tantas boas lembranças de Daniel, descrito como um menino "bom" e "sem inimigos", o trauma de um assassinato sem explicação persiste, e ainda está longe de ser superado. “Tem sido horrível, parece que estamos revivendo tudo de novo. Agora mesmo acabei de tomar remédio. Vamos usar tudo que estiver a nosso alcance para fazer homenagens. Não só nesse período de um ano da morte, mas para o resto da vida”, afirma ao UOL Carolina Sena, irmã do MC, que mantém a ONG “Daleste Pobre Louco da Penha”. 

“É uma história de luta intensa, e que vamos continuar. Vamos continar com as benfeitorias e trabalhos sociais que ele fazia aqui na comunidade da Penha. Este ano fizemos com a ONG o Dia das Crianças, fizemos a Páscoa. Contiuamos a luta como se ele ainda estivesse aqui”, diz a jovem, que planeja promover um ciclo de palestras em escolas da zona leste, coscientizando jovens carentes a partir do exemplo de superação funkeiro.


De origem humilde, Daleste viveu uma infância trágica e de privações no bairro da Penha. Perdeu a mãe cedo, por um derrame, e até os 13 anos viveu numa casa de madeira, sem instalações sanitárias. Começou a carreira de MC em 2009, cantando sobre a dura realidade da periferia – e muitas vezes foi criticado por fazer apologia ao crime. Com o sucesso, passou a investir no chamado funk ostentação, voltado ao universo materialistas dos carros, das mulheres e dos objetos de valor.  Ao lado dos MCs Guimê, Gui e Lon, foi um dos principais responsáveis pela popularização do subgênero.

Desde abril, a morte de Daleste é investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que assumiu o inquérito da Divisão de Homicídios da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) em Campinas. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, o caso corre sob segredo de Justiça.

Em março, o áudio de uma gravação caseira feita pelo funkeiro, em que ele supostamente prevê a própria morte, foi encontrada pela família e incluída nas investigações. “[A falta que o filho faz] É um buraco fora do comum. Eu estou me sentindo horrível. Ele era tudo pra mim. Era uma pessoa boa, um mnino bom. Aguardamos que a justiça seja feita. Que o bandido vá para trás das grades para então sabermos por que ele fez isso com meu filho. Ninguém sabe de nada até agora”, diz Roland Pellegrine.

"Meu irmão não tinha inimigos, ele era da paz. Não consigo imaginar quem possa ter feito isso com ele. Quero justiça. O criminoso tem que ser preso", afirmou ao UOL Rodrigo Pellegrine, o Pet, irmão e parceiro musical de Daleste, que estava no palco no momento dos disparos.

Imagem de MC Daleste é pintada em rua de São Paulo - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Imagem de MC Daleste é pintada em rua de São Paulo
Imagem: Reprodução/Twitter

Em um ano, o MC recebeu várias homenagens. Nomes da cena funkeira de Campinas e da Baixada Santista, além de MC Ecko —que escreveu a música "Homenagem ao Daleste"— e a cantora Anitta, já lamentaram publicamente a tragédia. Em julho do ano passado, o senador Eduardo Suplicy recitou os versos da música "Meu Herói" em discurso no Senado, lembrando o trabalho do funkeiro. Com a camisa da seleção brasileira, Daleste também virou desenho para Copa do Mundo. Sua imagem foi estampada em ruas da zona leste e zona sul de São Paulo.

Em junho, como forma de tributo e por cobrar celeridade nas investigações, fãs criaram a hashtag "NeymarHomenageiaOMcDaleste", que ganhou popularidade no Twitter com a intenção de que o craque, fã declarado de funk, fizesse alguma homenagem ao MC durante a Copa.