"Waly injetava adrenalina em mim", diz Gal, estrela de tributo ao poeta
Amante das letras e da poesia metalinguística, o baiano Waly Salomão (1943-2003) passou à história, sobretudo, por seu trabalho como compositor. Por décadas, o parceiro de Torquato Neto, figura venal do movimento tropicalista, colocou seus versos fortes a serviço da MPB. E grande parte dessa história musical será recontada desta quinta (24) a domingo (27, no show “Waly Salomão - Poesia Total”, que acontece no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
Histórico, o tributo faz mais do que celebrar a rica memória do artista: promove o reencontro de Gal Gosta e Jards Macalé, após 40 anos, além de trazer nomes da nova geração para cantar e recitar a obra de Waly, poeta que ousou nos anos 1960 ao mesclar temas e expressões americanas ao vernáculo da bossa nova.
“Tudo o que ele escreve é muito sensível e profundo”, diz Gal Costa em entrevista por e-mail ao UOL. “Waly foi e é um grande poeta. Nós realizamos trabalhos importantes em conjunto. Ele fez a direção de dois shows meus, e eu gostava muito de trabalhar com ele. Ele inflava meu ego bastante. Gostava de trabalhar assim, injetando gás e adrenalina em mim.”
Com a cantora como plataforma artística, Waly dirigiu o histórico show “Fatal”, em 1971, que renderia “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor”, tido pela crítica como um dos melhores discos da música brasileira. Lá, entre berros estridentes e belezas esculpidas pelo violão de Gal e a guitarra de Lanny Gordin, estão clássicos como “Luz do Sol", "Mal Secreto" e a sempre evocada “Vapor Barato”, que estarão na apresentação no Sesc.
“Acho que esse trabalho marcou muito o desencanto com aquele período, com a tensão da ditadura. E até hoje evoca as emoções daquela época. É um grande disco e ‘Vapor Barato’, uma grande canção.”
Basedo no livro homônimo, lançado em 2013, nos 70 anos de nascimento de Waly, o show nasceu de um pedido de Omar Salomão, filho do poeta, que queria que Gal cantasse no lançamento da compilação em uma livraria. A ideia, que nasceu simples, foi tomando proporcões maiores, até que o conceito e os convidados fossem definidos.
Um deles é especial para Gal. Além de parceiro em composições de Salomão, Jards Macalé colaborou em “Gal” (1969) e “Legal” (1970) e “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor” (1971), álbuns que foram determinantes na concepção artística da “musa do desbunde”.
“Fazia muito tempo que não trabalhava com Macalé e também que não o via, pois nos últimos tempos morei em Salvador e agora em São Paulo. Quando o meu show do ‘Recanto’ foi a Rio no ano passado, ele foi lá assistir e nos encontramos e conversamos no camarim. Foi um prazer reencontrá-lo.”
Além de Gal e Macalé, “Waly Salomão - Poesia Total”, trará Lira (ex- Cordel do Fogo Encantado), Helio Flanders (Vanguart), Gustavo Galo, Botika, Guilherme Monteiro, Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti. No espetáculo, os poemas de Waly que não se tornaram canções serão recitados por Lira.
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