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"Apareci mais que anúncio de refrigerante", diz José Augusto sobre sucesso

Pedro Carvalho

Do UOL, em São Paulo

08/08/2014 06h00

Com 22 canções em trilhas sonoras de novela, José Augusto é uma das vozes mais conhecidas da canção romântica nacional desde a década de 1970. Sucessos como "Aguenta Coração" marcaram época. "Eu aparecia mais na televisão do que anúncio de refrigerante", diz.

No novo álbum "Quantas Luas", o cantor comemora 40 anos de carreira flertando com o sertanejo e recebendo ajuda de Luan Santana e Victor & Leo. "Tentei fazer músicas com a cara do mercado de hoje, arranjos mais modernos, com mais influência da música country norte-americana. Não vai vender milhões, mas é um dos discos mais importantes da minha carreira".

Em entrevista ao UOL, José Augusto falou sobre as quatro décadas na estrada, o assédio das fãs e os desafios de um cantor romântico veterano.

José Augusto - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

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O novo álbum, "Quantas Luas", marca seus 40 anos de carreira. Como isso se reflete no trabalho?
José Augusto -
O "Quantas Luas" é um disco que eu considero como uma comemoração. No ano passado foi lançado um box pela Som Livre com 60 músicas remasterizadas de toda minha carreira, que vendeu muito bem. Depois, para dar continuidade ao meu trabalho, comecei a idealizar o disco "Quantas Luas". O nome tem a ver com quantos dias se passaram nestes 40 anos de carreira e é também uma musica dedicada à minha mulher. Fizemos arranjos mais modernos e com mais interferência de musica country. E, graças a Deus, eu acho que consegui colocar alguma coisa com frescor, alguma coisa nova, que me fez entender que esse disco é um dos mais importantes da minha carreira.

E o disco tem participação do Luan Santana e Victor & Leo, certo?
As participações vieram depois que o disco ficou pronto. Já há algum tempo que eu não me empolgo tanto com o trabalho novo de alguém como me empolguei com o deles. Acho que tanto Luan Santana como Victor & Leo têm um trabalho bacana, bastante novo em termos de letra, arranjos e na maneira de compor. Ficou uma coisa de muita classe dentro do disco. Fico agradecido por esses dois artistas estarem comigo.

Qual é o maior desafio para o cantor romântico que quer atravessar quatro décadas como você conseguiu?
O desafio é aprender todo dia, se ligar em tudo o que esta acontecendo, não só no Brasil, mas no mundo todo, se cercar de um palavreado mais moderno, captar essas mudanças e colocar no seu jeito de compor. A canção romântica nunca sai de moda, mas é difícil de fazer, porque você tem que falar das mesmas coisas, do amor, da perda, da alegria que está junto, a desilusão, e sempre de uma maneira diferente. Essa é a grande sacada. O meu disco desse ano, por exemplo, tem músicas mais movimentadas. As músicas românticas costumavam ser sempre lentas, mas hoje não é assim. Hoje você já pode fazer uma canção de amor com mais movimento. Apesar de que não é nenhuma invenção, porque isso já foi feito nos anos 60 pelos Beatles, por exemplo.

Todo mundo conhece seu trabalho como cantor, mas pouca gente sabe que, além de compor a maioria do que você grava, você também é autor de grandes sucessos de outros artistas. Quais são os mais significativos para você?
"Amante", canção regravada pela Araketu que fez muito sucesso no Brasil inteiro. "Sozinha", que deu titulo ao show que a Fafá de Belém fez há alguns anos atrás. "Separação", que foi cantada pela Simone e regravada por várias bandas de pagode, inclusive o Exaltasamba. Além de "Página Virada" e "Evidências", do Chitãozinho e Xororó, assim como vários artistas hispânicos. Anteontem mesmo eu ouvi uma versão nova de "Evidências" cantada em inglês. Infelizmente isso não é muito divulgado. Hoje em dia as rádios parecem ter preguiça de falar quem fez a música.

E quais são as músicas obrigatórias até hoje no seu repertório?
As pessoas lembram muito de mim pelas músicas de novela, mas também tem "Sonho por Sonho", "Sábado", "Fui Eu", "Chuva de Verão", e outros sucessos que não entraram em trilhas. Mas o maior marco foi "Aguenta Coração", em 1990, por ter sido tema de abertura de "Barriga de Aluguel", uma novela que foi sucesso extraordinário no Brasil e outros países.

Os temas de novelas são encomendados pelas emissoras ou escolhidos dentro do seu repertório?
Tenho 22 musicas em novelas e a única vez que eu recebi um telefonema para encomendar especificamente para a trilha foi em "Terra Nostra", e me pediram para cantar "O Sole Mio". Fiz aulas de italiano para aprender a pronúncia e gravei a canção, mas normalmente eles recebem meus discos e descobrem algum tema que pode ser ligado a alguma personagem. No caso de "Aguenta Coração", quem escolheu foi o próprio Boni [diretor de novela na Globo].

Além do sucesso nas rádios e televisão, essa fase de "Aguenta Coração" foi a época de maior assédio?
Foi quando eu fiquei mais exposto. Eu aparecia mais na TV do que anúncio de refrigerante. Quando você fica muito visto, as pessoas te reconhecem em qualquer lugar e te abordam. Isso não parou. É raro o lugar que eu vá em que alguém não me pedem um autógrafo, um abraço, um beijo, uma foto juntos. Mas não é mais aquela coisa de não poder ficar num ambiente.

Como um ídolo romântico equilibra este assédio com a vida pessoal?
Minha mulher é uma pessoa bem centrada. Ela sabe separar muito bem o artista que está no palco, na televisão, do cara de casa, que é o marido dela. Não existe nenhum preconceito, nenhum ciúme. Geralmente ela está do meu lado e até brinca com as pessoas do sexo feminino que vêm. E é muito querida pelas fãs, vejo isso nos comentários em redes sociais.

Elas nunca passam dos limites?
Teve uma vez que eu recebi uma carta de uma mulher com umas fotos, dizendo que eu tinha de qualquer jeito ir para a cidade com essa pessoa porque ela tinha uma convivência muito ruim com "o Caveira". Mandei averiguarem aquilo e descobri que o cara era o marido dela. Ou seja, ela estava se divorciando e achou que eu poderia intervir e mediar a situação, tirando-a da situação em que ela se encontrava. Isso foi uma coisa hilária, mas atípica também. Nunca aconteceu nada além disso. Sempre tratei com muito respeito e carinho, mas nunca dei margem para que pudessem ultrapassar os limites.