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A caminho do Brasil, CJ Ramone comenta a morte de Tommy e alfineta Marky

CJ Ramone vem ao Brasil para fazer 12 shows - Divulgação
CJ Ramone vem ao Brasil para fazer 12 shows Imagem: Divulgação

Marco de Castro

Do UOL, em São Paulo

14/08/2014 08h22

Baixista dos Ramones entre 1989 e 1996, CJ Ramone gravou com eles os álbuns "Loco Live" (91), "Mondo Bizarro" (92), "Acid Eaters" (93) e "Adios Amigos" (95), antes de a banda seminal do punk rock resolver encerrar a sua carreira. Há apenas um ano, ele veio ao Brasil para fazer shows de seu primeiro álbum solo, “Reconquista”, em julho de 2013. Agora, retorna ao país para mais 12 apresentações, nas quais, além de um monte de músicas de seu antigo grupo, mostrará canções do segundo disco solo, “Last Chance to Dance”, que deve ser lançado só em novembro pelo selo Fat Wreck Chords e teve a sua primeira faixa, “Understand Me?”, divulgada nesta terça-feira (12) --ouça abaixo.

Em entrevista por telefone ao UOL, CJ confessou que não esperava voltar a tocar no Brasil tão cedo e disse que chegou até a questionar isso com a organização da turnê, que passará apenas pelo país. Além disso, falou sobre a recente morte do baterista e produtor Tommy Ramone, último dos integrantes originais do grupo, que formou em 1974 com vocalista Joey (1951-2001), o baixista Dee Dee (1951-2002) e o guitarrista Johnny (1948-2004). Para o baixista, Tommy foi o verdadeiro mentor dos Ramones e o responsável pelos melhores discos da banda, mesmo quando resolveu largar as baquetas para se dedicar apenas à produção.

Comentou ainda sobre o aniversário do primeiro show do grupo no lendário clube CBGB, em Nova York, que completa 40 anos no próximo dia 16, e disse que “trabalha duro” para levar adiante o legado dos Ramones, dando uma sutil alfinetada em seu ex-colega de banda, o baterista Marky Ramone, que faz shows ao redor do mundo tocando músicas dos Ramones, muitas vezes usando músicos locais.

Confira abaixo a entrevista completa com CJ: 

UOL - CJ, você esteve no Brasil com a turnê de “Reconquista” há apenas um ano. Esperava voltar tão rápido?

CJ – Na verdade, eu não esperava. Mas fomos contatados por um promoter do Brasil, e ele perguntou se tínhamos interesse em voltar neste ano. Eu achei que talvez fosse cedo demais, mas ele me falou ‘não, os fãs vão gostar de ver você aqui de volta, a turnê será um grande sucesso’. E eu disse ‘OK, vamos nessa!’

Fale um pouco sobre o novo álbum, “Last Chance to Dance”.

Se você gosta do disco “Reconquista”, vai gostar deste também. É um pouco menos sério. Porque o “Reconquista” era sério. Eu estava escrevendo canções sobre um monte de coisas que tinham acontecido comigo desde o tempo em que os Ramones se aposentaram até o momento atual. O novo é mais divertido. Mas, musicalmente, é muito parecido com “Reconquista”.

Você gravou o disco com os mesmos músicos de “Reconquista”?

Em “Reconquista”, eu tive um monte de convidados especiais. Nesse disco, não. Mas eu continuo com [o guitarrista] Steve Soto e [o também guitarrista] Dan Root, que já haviam tocado no último. Ambos são do grupo Adolescents, mas agora estão muito mais ligados à minha banda. E na bateria tivemos David Hidalgo Jr., do Social Distortion, que não tocará conosco na turnê, pois estará na estrada com o Social Distortion. Para os shows teremos Michael Wildwood, da banda de Nova York D Generation, tocando bateria. 

No mês passado perdemos Tommy, o último dos Ramones originais. Como foi essa perda para você?

Parece que os Ramones têm algum tipo de maldição ou algo assim. Mas, sobre Tommy, ele sempre foi muito legal comigo. Uma vez, ele me disse pessoalmente que eu ajudei a manter a juventude no som dos Ramones e trouxe algo de volta a eles. Eu tive bons momentos com ele. Mas a coisa que eu acho que um monte de gente não sabe e não entende é que Tommy foi, na verdade, o cara que criou os Ramones. Tommy foi o cara que veio com o visual, o cara que criou o som da banda. Ele disse a todos qual instrumento cada um iria tocar. Ele foi realmente o cara que teve a visão. Ele nunca teve  intenção de tocar na banda. Queria ser o empresário. Mas não conseguiu achar um baterista que pudesse tocar do jeito que ele ouvia dentro de sua cabeça. Então ele disse “eu toco bateria até nós acharmos alguém”. Depois, é claro, eventualmente chegou à conclusão de que não estava gostando de fazer turnês e decidiu que não tocaria mais bateria. Foi quando eles trouxeram Marky Ramone para a banda, e Tommy disse a Marky como deveria tocar aquele estilo. Tommy então voltou a ser o empresário e produtor. E os Ramones foram ótimos até ele deixá-los. Para mim, “End of the Century” [de 1980, o primeiro álbum dos Ramones em que Tommy não participou da produção] é o primeiro disco deles que não é feito inteiro com grandes canções. É o primeiro disco em que eles começaram a fazer algumas músicas só para preencher espaço. E todos os discos dos Ramones depois deste foram sucessivamente piorando, até “Too Tough to Die” [1984], quando Tommy retornou à produção junto com Ed Stasium [também produtor dos Ramones no início da banda], e eles voltaram a ser bons.

Mas você e Tommy se falavam com frequência, eram camaradas?

Não. Eu vi Tommy só algumas vezes. Eu o vi em alguns shows de tributo aos Ramones e também em shows em tributo a Johnny Ramone, que aconteceram no último outono, em Hollywood. Também nos falamos por telefone algumas vezes. Eu, na verdade, tentei fazer com que ele fosse o produtor de “Reconquista”. Mas ele estava muito ocupado com a sua própria banda e disse “eu não terei tempo”. Eu não diria que éramos os melhores amigos ou algo assim, mas eu definitivamente tinha uma boa relação com ele. Fiz um pequeno show em homenagem a Tommy aqui, perto de minha casa, em Long Island, algumas semanas depois de sua morte. Tocamos todo o material antigo dos Ramones. Foi divertido, tivemos um ótimo momento.

Atualmente, além de você, Marky Ramone faz shows pelo mundo tocando as músicas dos Ramones. Depois dos Ramones, vocês também tocaram juntos no Remainz [banda formada por eles com Dee Dee Ramone e a mulher dele, Barbara]. Você e Marky têm planos de se reunir e tocar juntos de novo no futuro?

Eu acho que não. Tentei fazer com que Marky voltasse a tocar comigo algumas vezes. Perguntei se ele estava interessado, e ele disse “não”. E agora eu estou lançando o meu segundo álbum solo e tenho minha própria banda. Honestamente, Marky tem as coisas dele. Não há muita chance de tocarmos juntos de novo nesse ponto de nossas vidas.

E como é ter feito parte de uma banda considerada tão importante para o rock’n roll e levar o legado dela adiante?

CJ antigo - Reprodução/Site do músico - Reprodução/Site do músico
CJ, na época em que tocava com os Ramones
Imagem: Reprodução/Site do músico
É um sonho que se tornou realidade. Eu cresci como um fã. Sou um fã que teve a oportunidade de tocar com uma banda que idolatrou por muito tempo. Foi uma oportunidade única. Hoje realmente me sinto responsável por levar adiante o legado dos Ramones. Eu trabalho duro para ter certeza de que trato o legado deles com todo o amor e o respeito que eu posso. Quando saio em turnê, eu vou com bons músicos, com caras que já são famosos por suas bandas mas que amam e respeitam os Ramones tanto quanto eu. Eu não pego caras dos países em que vou para tocar, não uso ninguém que acho na rua. Eu sempre tento ter certeza de que estou tocando com músicos de boa qualidade. E sempre tento tocar as músicas dos Ramones com o máximo de energia possível. E sou honesto com os fãs sobre como era ser um integrante da banda. Não saio por aí falando mal de ninguém dos Ramones. Eu nunca tentei expor nenhum segredo ou algo assim. Eu amo os Ramones e quero ver o seu legado continuar por mais gerações.

No próximo dia 16, o primeiro show dos Ramones no CBGB fará 40 anos. O que você acha disso? Pretende fazer alguma homenagem?

Talvez devemos fazer algo especial nos shows do Brasil. É incrível que 40 anos tenham se passado. Naquele show, os Ramones realmente começaram toda uma nova revolução na música. Eles mudaram a música para melhor. Eles mudaram tudo. A partir daquele dia, eles tornaram possível para garotos terem uma banda em que pudessem tocar suas canções. Eles mostraram aos garotos o que o rock’n roll deveria ser originalmente. Rápido, excitante, divertido, com boas melodias, boas harmonias. Eles levaram a música de volta para onde ela deveria estar.

E por que você acha que no Brasil e outros países da América do Sul as pessoas gostam tanto de Ramones?

Eu não sei. Eu realmente não sei. Não sei se é por causa do clima, se é algo no sangue, mas fico maravilhado toda vez que vou aí e vejo quanta paixão as pessoas têm pela música dos Ramones. É realmente único. Em nenhum outro lugar do mundo é assim. Eu sempre digo que a América do Sul é o melhor lugar do planeta. E eu não vou para a Europa e falo isso sobre ela. Não vou à Austrália e digo isso. Honestamente, é verdade. São os fãs mais loucos e apaixonados que temos.

Shows da turnê brasileira de CJ Ramone

26/08 – Hangar 110 – São Paulo/SP
www.hangar110.com.br/

27/08 – NoCanto Bar – Nova Odessa/SP
www.nocantobar.com.br

28/08 – Bolshoi Pub – Goiânia/GO
www.bolshoipub.com.br/

29/08 – Tribal Club – Santos/SP
www.facebook.com/tribaleventossantos

30/08 – London Pub – Uberlândia/MG
www.facebook.com/timbrecultural

31/08 – Festival Porão do Rock – Brasília/DF
www.poraodorock.com.br/line-up2014/

02/09 – Teatro Odisseia – Rio de Janeiro/RJ
www.cacapratesmanagement.com.br

03/09 – Espaço Cult – Curitiba /PR
www.ticketbrasil.com.br

04/09 – John Bull Lagoa – Florianópolis/SC
www.johnbullfloripa.com.br

05/09 – Rock Show – Novo Hamburgo/RS
www.facebook.com/rockshownh

06/09 – Cond Show Bar – Caxias/RS
www.facebook.com/CondShowBarCaxias

07/09 – Opinião – Porto Alegre/RS
www.opiniao.com.br