Topo

Al Jarreau sobre Brasil: É importante tocar onde comecei a ser quem eu sou

O vocalista americano Al Jarreau - Divulgação
O vocalista americano Al Jarreau Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

14/08/2014 13h18

Para o cantor norte-americano Al Jarreau, é impossível esconder a satisfação e mesmo o nervosismo de estar novamente em terras brasileiras. "Estou feliz, rindo, sorrindo, e cheio de expectativa, alegria. Estou nervoso, com medo, apavorado", disse ao UOL por telefone, aos risos --e foram muitos--, falando de um quarto de hotel em São Paulo.

"Comecei ouvindo música brasileira em 1963, com Tom Jobim, Baden Powell, Sergio Mendes, Milton Nascimento, Ivan Lins. Eles transformaram minha vida, amo essa música. Por isso é tão importante para mim vir ao Brasil e tocar onde eu comecei a ser quem eu sou", afirma o músico, que, além de repetir várias vezes as palavras "feijoada" e "favela", fala na terceira pessoa, cantarola clássicos do jazz e imita sons percussivos com a boca. Uma entrevista com jeito de show.

O público brasileiro terá a chance de presenciá-lo nesta quinta-feira (14) em São Paulo, no HSBC Brasil, e no sábado (16) em Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, onde Al apresentará o repertório de seu trabalho mais recente, "My Old Friend", um tributo ao comparsa e lenda do jazz George Duke, morto em outubro de 2013. Com ele, conta, aprendeu a lição mais valiosa da vida: a da diversidade musical.

"Eu me defino até hoje pela tradição do Duke. ‘Dukey Stick’ [música funkeada de 1978] pode ser considerada quase uma música clássica, e ele também compôs para orquestra sinfônica. E, depois disso, foi para uma 'favela' nos Estados Unidos para tocar com os melhores músicos de funk do mundo, como o George Clinton. Ele me ensinou essa forma variada de apreciar música", contou Al, que deu voz às músicas de Duke durante três anos, entre 1965 e 1968, no histórico clube de jazz Half Note, em Nova York.

Vocalista habilidoso, dono de um indefectível "scat singing" (o canto sem palavras), Al Jarreau é a marca da versatilidade. Após romper barreiras estilísticas com o álbum "Breakin' Away" (1981), tornou-se o único músico a conseguir vencer Grammys em três categorias distintas: jazz, pop e R&B. Foram sete no total. Toda essa bagagem só não lhe permite explicar com precisão o fato de os homens, como ele, nunca terem competido em pé de igualdade com a ala feminina do jazz. Historicamente, para cada Louis Armstrong sempre houve uma dúzia de Billy Holidays, Ella Fitzgeralds e Sarah Vaughans.

"Isso é uma verdade. E simplesmente não sei por que acontece. Durante toda a minha vida tenho perguntado a Deus sobre isso [risos]. Acho que há algumas sensibilidades no jazz que talvez sejam difíceis para os homens, que gostam de futebol e carros rápidos, reproduzirem. Talvez seja mais difícil para eles se expressarem do que em outros tipos de música, como o rock and roll, que é mais tangível, mais real."

Sobre a memorável experiência no Rock in Rio, em 1985, quando se apresentou para 250 mil pessoas, na noite mais concorrida do festival, Jarreau prefere lembrar do que viu no encerramento daquele dia, no show de James Taylor. "Foi maravilhoso. Nunca havia visto tantas pessoas cantando junto 'you've got a friend' [canta imitando Taylor]. Nunca esqueci esse momento. Até os anjos no céu ouviram as pessoas cantando. É algo que muda a vida. E convidou o mundo para vir ao Brasil e aprender mais sobre vocês. Vocês nos ensinaram uma rica lição."