Fase internacional de Maysa é resgatada e sai pela primeira vez no Brasil
Na década de 1960, a cantora Maysa empreendeu inúmeras viagens pelo mundo. Se apresentou pelos Estados Unidos e por países das América Latina, África e Europa. Em cada lugar por onde passava, ela deixava uma série de compactos, releituras de canções tradicionais de cada região e fãs encantados com os olhos grandes, sempre delineados, e a voz potente e grave, que derramava um mundo de emoções em três minutos de canção.
Boa parte dessa fase vê a luz pela primeira vez, oficialmente, no Brasil: as gravações estão em cinco CDs na caixa "Maysa Internacional", lançada pelo selo Discobertas por R$ 109, em média. Entre os álbuns está o até então inédito no país "Sings Songs Before Dawn", lançado em 1961 nos Estados Unidos com uma promessa: "Uma nova estrela na Columbia Records", dizia o selo na capa, em formato de estrela.
Versões de sucessos conhecidos na voz de Judy Garland ("The Man That Goy Away"), Frank Sinatra ("I'm a Fool To Want You") e Dolores Duran (com a versão em inglês de "A Noite do Meu Bem") podem não ter arrebatado o mercado fonográfico na época, mas as releituras, em clima de jazz e bossa, e diferentes das originais, seduz, ainda hoje, novos ouvintes. Uma cópia original do vinil de "Sings Songs Before Dawn", por exemplo, não sai por menos de R$ 300, aqui ou em outro país.
"Esse box mostra que a Maysa trabalhou muito. Nos anos 60 ela foi embora para Itália e passou por muitos países. Só voltou ao Brasil no final da década. Ela tinha uma carreira muito homeopática, cada hora estava em uma gravadora. Ela fazia do jeito dela", observa o produtor e pesquisador Marcelo Fróes, responsável pelo trabalho quase arqueológico da caixa. "Podemos compará-la a Roberto Carlos, mas não em termos de quantidade. Ela era uma curiosidade, uma cantora bonita, cantava super bem, circulava entre os altos escalões e tinha muitas entradas".
Raridades
Faz parte do box a primeira incursão da cantora na indústria norte-americana, o álbum "The Sound of Love", que foi lançado no Brasil em 1959 com o nome de "Convite Para Ouvir Maysa Nº 2". O trabalho traz o hit "Meu Mundo Caiu", mas o grande atrativo da caixa está nos três discos de raridades, pinçadas de festivais e dos compactos espalhados por diversos países, entre 1959 e 1976.
Os destaques são para "Berimbau" (do álbum "Maysa Matarazzo", lançado na Argentina); "Esse Nosso Olhar", de Sérgio Ricardo e gravada em 1959 com 78 RPM); e "Bravo", canção feita por encomenda da TV Globo, em 1975, e que saiu apenas em compacto.
Nos três discos, a cantora desbravou com personalidade outros terrenos, além da bossa nova. Do standard americano "Get Out of Town", de Cole Porter, à canção do folclore turco, "Uska Dara"; do single lançado na Itália, "Dirgli Solo No", à versão em espanhol de "Reza", de Edu Lobo.
De festivais e registros ao vivo saíram "Em Qual Estrada", do 2º Festival Universitário da Guanabara, da TV Tupi, e "Ave Maria dos Retirantes", do 4º Festival Internacional da Canção, gravado em 1969 no Maracanã e que havia sido lançado, na época, apenas na versão de Clara Nunes.
Em busca do ouro
Marcelo Fróes é o homem por trás do Discobertas, criado há mais de dez anos para lançar preciosidades esquecidas e raridades de artistas brasileiros, que vão de Celly Campello à Zimbo Trio. Ele conta que os herdeiros de Maysa, que morreu em 1977, foram imprescindíveis no processo arqueológico para a construção do box. "O mercado é outro. Antigamente tudo era big business e muito complicado. Hoje é mais fácil entender que um projeto é mais cultural do que comercial e, em nome da história, fluem melhor".
Com a vontade de lançar algo que não encontrava nas lojas, Fróes celebra a fase importante da cantora. Entre o garimpo, ele destaca "Per Ricominciare", versão em italiano da canção "Can’t Take My Eyes Off you", com irresistível apelo pop. "Maysa era requintada, adorada pelas elites, mas ela sabia ser pop também", diz Fróes.
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