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Pink Floyd lança disco de sobras e diz: "O tanque está quase vazio"

Capa do disco "The Endless River" - Divulgação
Capa do disco "The Endless River" Imagem: Divulgação

Pedro Caiado

Do UOL, em Londres

11/11/2014 16h39

“O tanque certamente está quase vazio. Mas vamos continuar cuidando do catálogo da banda”, afirmou o baterista do Pink Floyd, Nick Mason, 70 anos, no evento de lançamento do álbum "The Endless River", na noite desta segunda-feira (10), em Londres. Ele explicou que o novo disco marca, provavelmente, o fim do grupo, pelo menos no que diz respeito a novo material e apresentações ao vivo.

Segundo o guitarrista David Gilmour, 68, a banda também não poderia tocar o disco em shows sem o tecladista Richard Wright, que morreu de câncer em 2008. “Esse álbum captura um pouco daquilo que pensei que não conseguiríamos capturar de novo”, disse Gilmour sobre o novo trabalho, o primeiro de inéditas do Pink Floyd em 20 anos. 

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  • Esse álbum captura um pouco daquilo que pensei que não conseguiríamos capturar de novo

    David Gilmour, guitarrista

"The Endless River" já figura entre os maiores lançamentos do ano. No Reino Unido, foi o álbum que teve maior pré-venda nas lojas virtuais iTunes e Amazon. O disco traz 21 canções, na maioria instrumentais e descritas pelos próprios integrantes como "músicas ambiente", em pouco mais de uma hora de duração. O projeto foi criado por Gilmour e Mason, únicos integrantes remanescentes, e não tem participação do cofundador Roger Waters, que deixou a banda em 1985 para se dedicar à carreira solo.

Resgate de material

Fundado em 1965, O Pink Floyd foi uma das bandas mais influentes na cultura pop. Com seu rock progressivo e psicodélico e shows elaborados, foi também um grupo comercialmente bem-sucedido.

Para juntar o material de "The Endless River", os ingleses retornaram ao baú da época do álbum "Division Bell" (1994). Faixas que haviam ficado de fora daquele disco, inicialmente planejado para ser um álbum duplo, formam a base do novo lançamento. “Muito do álbum é um improviso entre nós três”, disse Gilmour, referindo-se a Mason e a Wright.

“Inicialmente, essas músicas seriam parte do álbum 'Division Bell', mas como um segundo disco de músicas ambiente”, explicou Nick Mason, acrescentando que o processo de resgate das faixas que entraram em "The Endless River" durou dois anos. Sobre elas ainda houve gravações adicionais, que tiveram início no final de 2013. “Nós pensamos que, se tivéssemos continuado algumas daquelas gravações na época, adicionaríamos instrumentos e faríamos exatamente como fizemos agora”, disse Gilmour. “Nós ouvimos mais de 30 horas de gravações feitas por nós três e selecionamos as músicas que queríamos trabalhar para 'The Endless River'”, contou Gilmour.

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  • ['The Endless River'] é um tributo a Richard Wright; seus teclados formam o coração do som do Pink Floyd

    David Gilmour, vocalista

O novo álbum pode ser considerado uma generosa despedida a Richard Wright, que havia deixado a banda em 1979 e retornado em 1987, quando foi lançado o álbum "A Momentary Lapse of Reason".  “'[The Endless River'] é um tributo a Richard Wright; seus teclados formam o coração do som do Pink Floyd”, disse Gilmour, revelando o porquê do nome do disco. “'The Endless River' é a ultima frase que aparece no fim da canção 'High Hopes', do último álbum [Division Bell]”, explica Gilmour. Parte do disco foi gravada em um estúdio dentro de um barco, o Astoria, que fica atracado no rio Tâmisa.

Apesar de o novo material chegar às lojas, os fãs provavelmente não verão uma nova turnê do Pink Floyd. “Seria legal tocar ao vivo, mas este álbum não é o mais indicado para isso. Certamente não é um evento para estádios, e sem o Richard Wright seria provavelmente impossível”, afirmou o guitarrista, completando:  “Você tem que estar de bom humor para ouvir 'The Endless River'. Há muitas pessoas que ainda gostam de ouvir música dessa maneira, ouvir de uma vez só em vez de ouvir canções aleatórias. Esse álbum é para essas pessoas".

“A minha mulher é uma musa”

gilmour - Durga McBroom-Hudson/Facebook/Reprodução - Durga McBroom-Hudson/Facebook/Reprodução
Davi Gilmour coordena gravação de vocais adicionais para "The Endless River"
Imagem: Durga McBroom-Hudson/Facebook/Reprodução
Durante o evento de lançamento, Gilmour também falou da importância que sua mulher, Polly Samson, teve para a banda após a saída do líder Roger Waters, já que ela escreveu letras para faixas de "Division Bell", em 1993. “Eu não quero soar muito admirador, mas ela é minha musa, de verdade, e não foi reconhecida no álbum 'Division Bell'. Ela é incrível com as palavras”, disse Gilmour sobre Samsom, que também escreveu a letra da única música com vocais de "The Endless River", "Louder than Words".

Segundo Gilmour, o papel de sua mulher na banda era, antes, parcialmente restrito por temor do chamado “efeito Yoko Ono”, em referência à viúva de John Lennon, considerada por muitos a causadora da separação dos Beatles. “E também era um um mundo misógino e estranho”, disse.

Samson concordou com o marido. “Eu acho que foi um segredo desprezível. Eu fiquei muito preocupada em ser vista como uma figura como a Yoko Ono”, disse ela, depois ponderando: “Ela é uma artista séria e íntegra”.