"Nossa cena foi o último movimento de rock relevante", diz Di do NX Zero
Em 2006, a cena musical brasileira vivia um fenômeno adolescente que causou controvérsias: o emocore. A explosão, originada principalmente graças à internet, misturava um visual chamativo e colorido com músicas melosas e angariava legiões de fãs. Oito anos depois, muitas das bandas da época não resistiram ao declínio e ao esquecimento. O NX Zero, porém, um dos principais ícones da cena, conseguiu se reinventar apesar das crises.
Recentemente, a banda lançou o EP “Estamos no Começo de Algo Muito Bom, Não Precisa Ter Nome Não” em que mostra uma faceta madura e bem diferente do álbum homônimo de 2006. Mas o que nem todo o mundo sabe é que o grupo passou por uma crise devido às pressões que o sucesso massivo do passado causou.
“Eu estava reclamando do que sempre sonhei, chegava a ser contraditório”, contou Di Ferrero ao UOL. A banda passou por um período conturbado em que a música deixou de ser diversão e se tornou obrigação. “Rolou aquele sentimento de ser uma máquina ou um produto, aí onde ficava a arte em tudo isso? Pensei até em tirar uns seis meses de férias, mas me senti mal comigo mesmo.”
O vocalista então propôs à banda tentar se reencontrar em um estúdio improvisado dentro de uma casa de praia. “Ficamos isolados, só saíamos para os shows. Começamos a lembrar do passado, e aquele prazer de tocar de novo foi voltando aos poucos. Daí saiu a ideia do EP”, explicou o Ferrero. “Hoje em dia eu entendo quando acontece de um cara querer sair da própria banda. Mas a gente conseguiu passar por isso, e, de certa forma, foi bom, porque trouxemos de volta a sinceridade do som.”
O clima litorâneo presente nas novas músicas relembra Charlie Brown Jr e deixa para trás a dor de cotovelo, um dos temas amplamente abordados pelo grupo na antiga fase. “Essa semelhança com Charlie Brown foi como uma ode. Não foi planejada, mas, assim que a percebemos, chegamos até a mostrar para o Thiago e o Champignon. E ele concordou, inclusive.”
O vocalista, que também é jurado no reality show musical “The Voice”, comentou sobre como o leque de influências cresceu com o amadurecimento musical do grupo. “A música se separa entre 'boa' e 'ruim', não por estilo. A gente é uma banda de rock no Brasil, e é da nossa cultura essa mistura”, explicou. “Outro dia, até, eu estava conversando com o Thiaguinho, porque queria umas indicações de discos do Jorge Aragão. A nossa escola é o rock, mas temos a cabeça muito aberta.”
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Sobre o cenário atual do rock brasileiro, que perde cada vez mais espaço perante o reinado do sertanejo universitário, Di Ferreiro se demonstra flexível. “O Brasil sempre tem suas modas. Agora é o sertanejo, mas antes já foi o rock, assim como já foi o funk e o samba. Isso não é ruim”, diz ele. Mas sobre o rock que é feito no país atualmente, ele conclui: “Nossa cena foi o último movimento de rock relevante”.
Os projetos futuros da banda incluem shows para o mês de dezembro e um novo disco para depois do Carnaval. “Estamos todo dia no estúdio, completamente focados no disco novo. Mas não queríamos deixar para trás esse momento que o EP marcou na nossa carreira.”
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